— Não foi nada de mais. Da próxima vez, fico dentro do cemitério.— Ou pode correr atrás do cemitério — sugeriu luna. — Há um portão que dá para os fundos do terreno. Deve ser ótimo se exercitar naquelas colinas, e a paisagem é linda. Além disso, não haveria carros para persegui- la.
Howard ainda parecia furioso, então mudei de assunto.— Onde estão os Jorgansen?
luna sorriu.
— Houve um pequeno... conflito. Eles optaram por fazer o tour sozinhos. — Ela apontou para o outro lado do cemitério, onde Gloria caminhava com Hank por uma fileira de túmulos.— Seu pai estava me dizendo que quer levá-la para jantar em Florença hoje à noite.
Howard assentiu, finalmente relaxando o rosto.— Achei que podíamos ver o Duomo e depois comer uma pizza.
Será que eu deveria saber o que era aquilo? Fiquei meio sem jeito. Se eu dissesse sim, estaria concordando com o que sem dúvida seria um jantar constrangedor só com Howard. Se dissesse não, provavelmente ficaria presa ali no mesmo cenário. Pelo menos daquele jeito eu teria oportunidade de ver a cidade. E o Duomo. Seja lá o que isso fosse.
— Tudo bem.
— Ótimo. — Ele parecia animado, como se eu tivesse falado que queria muito ir. — Assim vamos ter a chance de conversar. Sobre as coisas.
Eu me contraí. Será que eu não merecia uma espécie de prazo de carência antes de ter que lidar com qualquer que fosse a grande explicação que Howard me reservara? Só estar ali já era demais para mim. Eu me virei para limpar o suor da testa, torcendo para que não percebessem como eu estava contrariada.
— Vou voltar pra casa.
Comecei a me afastar, mas luna correu atrás de mim.— Você se importaria de passar lá em casa antes? Tenho uma coisa que era da sua mãe e eu gostaria de lhe entregar.
Dei um passo para o lado, colocando mais uns quinze centímetros entre nós.
— Desculpa, mas preciso muito tomar um banho. Pode ficar pra outra hora?
— Ah. — Ela franziu as sobrancelhas. — Claro. Avise quando tiver um minuto. Na verdade, eu poderia...
— Obrigada. A gente se vê.
Comecei num trote, sentindo o olhar da luna em mim quando me virei de costas. Eu não queria ser grosseira, mas também não queria de jeito nenhum o que ela tinha para me entregar.As pessoas estavam sempre me dando coisas que haviam pertencido a minha mãe, sobretudo fotos, e eu nunca sabia o que fazer com elas. Eram como lembranças da minha vida anterior. Olhei para o cemitério e suspirei. Eu não precisava de mais nenhum lembrete de que as coisas tinham mudado.
assim que entrei, fui direto para a cozinha. Achei que se eu perguntasse, Howard faria o discurso mi casa, su casa, provavelmente em italiano, então em vez de perguntar, ataquei a geladeira.
As duas primeiras prateleiras estavam cheias de coisas como azeitonas e mostardas gourmet, que dão um sabor a mais, mas não são a comida em si, então olhei as gavetas, finalmente encontrando um pote que parecia iogurte de coco e um pão massudo. Fiquei arrasada por não encontrar nenhuma sobra da lasanha.
Depois de devorar metade do pão e quase lamber o fundo do pote de iogurte (de longe o melhor que já tinha tomado), vasculhei os armários até encontrar uma caixa de granola cujo rótulo dizia CIOCCOLATO. Bingo. Eu identificava a palavra chocolate em qualquer língua.
Comi uma tigela enorme de granola, depois limpei a cozinha como se fosse a cena de um crime. E agora? Bem, em Seattle, eu provavelmente estaria me arrumando para ir à piscina com o barreto ou talvez pegando a bicicleta na garagem e exigindo que fôssemos tomar um daqueles milk- shakes triplos de chocolate que praticamente me mantinham em pé. Mas ali? Eu não tinha nem internet.
