cap 3

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-Sente-se. Você vai ficar bem. Você vai conseguir. Sua vida vai seguir em frente e vai ser maravilhosa.

— Não. Você vai conseguir. Às vezes as pessoas se recuperam.

— sarah, Howard é um amigo maravilhoso. Você vai amá-lo.

— Duvido. E se ele é um amigo tão bom assim, por que nunca o conheci?
Desisti de encontrar, então me joguei de novo na cadeira e coloquei a cabeça entre os joelhos.

Ela se sentou com dificuldade, depois estendeu a mão, tocando as minhas costas.

— As coisas eram meio complicadas entre nós, mas ele quer conhecê-la. E disse que adoraria que você ficasse com ele. Prometa que vai tentar. Pelo menos por alguns meses.
Bateram à porta. Nós duas erguemos o rosto e vimos uma enfermeira com um uniforme azul-bebê.

— Só vim checar como vocês estão — disse ela, cantarolando.

Ou estava ignorando ou não percebeu minha expressão. Numa Escala de Tranquilo a Tenso, o quarto estava mais ou menos 100 para 10.

— Bom dia. Eu estava dizendo à minha filha que ela deve ir para a Itália.

— Itália — repetiu a enfermeira, com um suspiro. — Passei minha lua de mel lá. Gelato, a Torre de Pisa, as gôndolas de Veneza... Você vai adorar. Minha mãe abriu um sorriso triunfante para mim.

— Mãe, não. Eu não vou pra Itália de jeito nenhum.

— Mas, querida, você precisa ir — insistiu a enfermeira. — Vai ser uma experiência única.

No fim das contas, a enfermeira estava certa sobre uma coisa: eu precisava ir. Mas ninguém me deu nenhuma pista do que eu encontraria quando chegasse lá.

meses depois

a casa se destacava de longe como um farol no meio de um monte de placas. Não é possível que aquela fosse a casa dele! Provavelmente, só estávamos seguindo algum costume italiano.

Sempre dê uma passada no cemitério com os recém-chegados. Para dar uma noção da cultura local. É, só podia ser isso.

Entrelacei os dedos no colo e meu estômago gelou conforme nos aproximávamos da casa. Era como ver o tubarão saindo das profundezas do oceano e vindo na minha direção. Taaan tan.

Só que eu não estava num filme. Aquilo era real. E me esperava a uma curva de distância. Não entra em pânico. Não pode ser. Sua mãe não teria mandado você morar num cemitério. Ela teria avisado. Ela teria... Ele ligou a seta, e eu perdi o fôlego. Ela simplesmente não me contou.

— Você está bem?
Howard, a quem eu talvez devesse chamar de pai, me olhava com uma expressão preocupada. Provavelmente porque eu tinha acabado de soltar um zumbido.

— É aqui que você...? — Fiquei sem palavras, então tive que apontar.

— Bem, é, sim. — Ele hesitou por um instante, depois apontou para a janela. — sarah, você não sabia? Sobre tudo isso?

"Tudo isso" não chegava nem perto de descrever o imenso cemitério iluminado pelo luar.

— Minha avó disse que eu ficaria na propriedade de um americano. Ela contou que você administra um memorial da Segunda Guerra. Eu não achei que...

O pânico escorria sobre mim como calda quente. Além disso, eu não conseguia concluir uma única frase. Respira, sarah. Você já sobreviveu ao pior. Pode sobreviver a isto também.Ele apontou para a extremidade do terreno.

— O memorial é aquele prédio lá, mas no resto da propriedade ficam os túmulos dos soldados americanos mortos na Itália durante a guerra.

— Mas esta não é sua casa de verdade, é? É só seu local de trabalho.

Em vez de responder, ele parou na entrada e senti minha última esperança se apagar junto com os faróis do carro. Não era apenas uma casa. Era um lar.

flores vermelhas enfeitavam o caminho da entrada, e um balanço que fazia muito barulho na varanda, como se alguém tivesse acabado de se levantar.

Tirando as cruzes que cobriam os gramados ao redor, era uma casa normal num bairro como outro qualquer. Só que não era um bairro como outro qualquer. E não parecia que aquelas cruzes sairiam dali. Nunca.

— Eles preferem que um administrador fique aqui em tempo integral, por isso construíram esta casa nos anos 1960. — Howard tirou a chave da ignição, depois tamborilou os dedos no volante, nervoso. — Sinto muito, sarah. Achei que você soubesse. Não posso nem imaginar o que está se passando pela sua cabeça agora.

— É um cemitério. — Minha voz estava fraca como chá aguado.
Ele se virou para mim sem me olhar nos olhos.

— Eu sei. E a última coisa de que você precisa é um lembrete de tudo pelo que passou este ano. Mas acho que vai acabar gostando. É bem tranquilo e tem uma história muito interessante. Sua mãe amava este lugar. E depois de passar quase dezessete anos aqui, não consigo me imaginar morando em nenhum outro.

A voz dele era esperançosa, mas eu afundei no banco, com um monte de perguntas surgindo na cabeça. Se ela amava tanto este lugar, por que nunca me falou dele? Por que nunca me falou de você até ficar doente? E, por tudo o que é mais sagrado, por que ela se esqueceu deste pequeno detalhe: contar que você é meu PAI?

Howard absorveu meu silêncio por um instante, depois abriu a porta do carro.

— Vamos entrar. Deixa que eu pego sua mala.
Com seu um metro e noventa e cinco de altura, ele contornou a traseira do carro, e eu me estiquei para a frente para observá-lo pelo retrovisor. Quem preenchera as lacunas fora minha avó.

Ele é seu pai; é por isso que sua mãe quis que você fosse morar lá. Eu deveria ter imaginado, mas a verdadeira identidade do bom e velho Howard era algo que minha mãe deveria pelo menos ter mencionado.

Howard fechou o porta-malas, e eu me recompus e comecei a mexer na mochila, ganhando mais alguns segundos. Coloca essa cabeça pra funcionar, sarah. Você está sozinha em outro país, um verdadeiro gigante acabou de assumir que é seu pai e sua nova casa poderia ser o cenário de um filme de apocalipse zumbi.

o destino - nle doprêOnde histórias criam vida. Descubra agora