Parte Dois

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Quatro semanas depois, Lan Xichen nem mesmo disfarça que está esperando por ele. Da janela da sala, ele consegue ver Lan Xichen perto do elevador, mexendo no celular.

Jiang Cheng experimentou se atrasar algumas vezes, só para ter certeza que Lan Xichen estava mesmo esperando por ele, então é claro que Lan Xichen continuou lá, apenas saindo quando ele saiu junto.

E é claro, eles não conversaram o caminho todo.

Muito difícil conseguir achar a coisa certa para iniciar o assunto e a fala de Jiang Cheng ainda estava um pouco prejudicada no final das contas. Mesmo com o implante tendo melhorado cerca de 80% disso nos últimos anos, ele ainda tem alguns problemas quando precisa falar e estaria tudo bem, se não houvesse uma onda de ansiedade em torno disso.

Quer dizer, Lan Xichen ao menos aceitaria seus agradecimentos?

Bem, Jiang Cheng não sabe.

Por isso, não importa o quanto ele treine essas palavras durante a noite, ele nunca as usa pela manhã.

Lan Xichen aperta o botão do elevador assim que o vê saindo pela porta.

A realidade é bem simples: Lan Xichen tem gostado desse garoto desde que ele entende o que significa gostar.

Desde que ele se lembra, ficar perto de Jiang Cheng é totalmente agradável. Ele não precisa se forçar a falar, não precisa de formalidades e ainda não fica sozinho em seu silêncio.

Ele apenas gosta de como as coisas são. Não é que ele desgoste de seus amigos, mas precisa admitir que a quantidade de conversas, brincadeiras desconfortáveis e contatos físicos inesperados o deixam totalmente sobrecarregado.

Por isso, ele gosta de Jiang Cheng. Ficar perto dele não implica em ter de manter uma conversa sociável e agradável, não implica ter alguém passando o braço em seu ombro, nem qualquer outra coisa que o sobrecarregue.

Jiang Cheng é extremamente conveniente de estar perto e ainda é uma coisinha pequena e fofa, muito agradável para os olhos, existindo em silêncio enquanto Lan Xichen tenta se manter regulado.

No entanto, Lan Xichen às vezes gostaria de poder se comunicar com ele, mas só conhece o básico da língua de sinais e sabe que não conseguiria traduzir bem a resposta de Jiang Cheng.

Ele está pensando na sequência nova de sinais que aprendeu, tentando montar frases com essas novas palavras, quando sente dois puxões rápidos e leves na sua camisa.

Como regra geral, Lan Xichen odeia ser tocado, mas esse é um menino surdo que ele ouviu a voz trêmula apenas uma ou duas vezes, então… Como é que ele esperava que Jiang Cheng o chamasse de outra maneira?

— O que você precisa?

A boca do menino se abre, ele fica mexendo os lábios gordinhos como se estivesse procurando as palavras certas, mas parece apenas um miado.

Depois de um minuto inteiro de nervosismo que levou a frustração, Jiang Cheng puxou o celular do bolso, clicou algumas vezes e o passou para Lan Xichen.

"O que aconteceu naquele dia e sobre me deixar ir para a escola como você, muito obrigado. :)"

A carinha sorrindo dá um tom doce a mensagem e quando ele ergue os olhos do celular para Jiang Cheng, percebe que o garoto está dando um sorriso tão largo quanto pode.

— Não precisa agradecer, pessoas civilizadas têm de bater nesse tipo de moleque até quebrar os dentes. - Ele devolve o celular e observa Jiang Cheng se virar para fazer sinal ao ônibus.

Ele nem imagina que Jiang Cheng está pensando "porra, você é exatamente esse tipo de moleque na nossa escola", se imaginasse seria o momento que Jiang Cheng tomaria um cascudo com força suficiente pra um galo na testa.

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