Daylight

Parte Sete

As coisas demoram mais do que ele gostaria para voltar ao normal. Jiang Cheng tem uma deficiência, mas isso não o torna super empático com os outros, tá? Então, uma parte dele fica enfurecida por Lan Xichen estar assim. 

Ele sente como se fosse Lan Xichen nem tentando melhorar. 

Claro, às vezes ele tem que puxar o próprio tapete, então, quando ele se enfurece muito por sua rotina estar uma bagunça e ele não saber como agir em relação a Lan Xichen, sua cura é pesquisar relatos de autistas adultos sobre como é difícil estar desconectado de si mesmo. 

O quão ruim a crise é. 

É bom saber disso. Ler os comentários nunca é bom, sempre o enfurece em dobro. 

Pensar que Lan Xichen tem essa pose de menino ruim, de quem não se importa com os outros, faz Jiang Cheng perceber que é tudo uma máscara. 

Ele precisava se proteger, não é? Todo mundo precisa. Jiang Cheng meio que deveria saber proteger Lan Xichen, não é? Ele disse que ajudaria numa crise, mas ele não sabe nem por onde começar. 

Além disso, o que ele pode fazer? É apenas um adolescente com vivência limitada no assunto… 

Naquela tarde, quando ele bate na porta de seu colega para deixar as matérias do dia, é Lan Xichen quem abre a porta. 

Está de pijamas, o cabelo cacheado está pingando na testa e o rosto parece feito de cera, congelado numa expressão neutra. 

— Oi. - Jiang Cheng fica feliz de ser uma palavra curta, então ele não gagueja, mas suas pernas dão uma tremidinha ao ver Lan Xichen de pé e cheirando tão bem que ele tem o pensamento agressivo de lamber o rosto alheio. — Eu trouxe a matéria de hoje. 

“Obrigado.” Os sinais saem rígidos, algumas palavras ele faz letra por letra, nada parecido com o irmão mais novo nesse sentido. “Eu sei, a gente precisa conversar, não consigo. Nem sou bom com isso, sinais.”

— Tudo bem, eu consigo entender o que você quer dizer. - As mãos de Jiang Cheng estão cheias. — Posso entrar? 

Em outro momento, Lan Xichen facilmente diria que não, mas nesse momento ele está preparado para Jiang Cheng entrar na sua casa. 

Afinal, todos os dias em que ele se sentiu muito ruim para sequer sair da cama, Jiang Cheng veio trazer a matéria e frequentemente se sentou na sua cama, fez carinho no seu cabelo quando pensou que ele estava dormindo ou só ficou ali, em silêncio. 

Por isso, Lan Xichen acha que pode lidar. 

“Vem.” Ele não está fazendo sinais apenas pelo conforto de Jiang Cheng, ele só não consegue falar. 

É como se seu cérebro não lembrasse que tem boca ou voz, então falar qualquer coisa requer o mesmo esforço de rolar uma bola para cima de um morro. 

Jiang Cheng coloca as coisas em cima da escrivaninha e fica parado, no meio do quarto, sem saber muito bem o que dizer primeiro. 

— Não quero me desculpar pelo beijo. - Sua boca escolhe a coisa mais estúpida para dizer. — Quer dizer, eu te beijei sem permissão, cla-claro… me arrependo e tudo, mas eu não…  - Algumas respirações profundas em menos de 10 segundos. — Eu gostei de beijar você, não me arrependo disso. 

Lan Xichen sorri. 

Ele não sabe se gostou de beijar Jiang Cheng. Quer dizer, foi um evento não é? Significou alguma coisa, mas se você perguntar sobre, ele não sabe responder. 

Estúpido demais sobre isso. Nem conhece sinais suficientes para se expressar. 

— Tomara que você fique melhor depressa, sinto sua falta. 

Lan Xichen assente. 

“Vou melhorar. Obrigado.” Quais são os sinais para dizer que gosta muito de alguém? Ele conhece, só precisa pensar sobre. “Mim gosta você?” 

Jiang Cheng ri, ele não quer corrigir, é extremamente fofo. “Eu gosto de você, mas você não precisa gostar de mim.” 

Ele parece muito com uma criança mais nova quando inclina a cabeça, como se estivesse tentando entender o que Jiang Cheng está dizendo. 

“Eu fiz errado?” 

“Um pouco.”

“Desculpa, me esforçando até pra pensar.”

“Não importa, eu entendi a mensagem. Você quer que eu vá embora agora?”

A resposta demora um pouco, Lan Xichen está se perguntando se é apropriado dizer a verdade, mas ele realmente não está bem para prolongar a conversa. Para além disso, se ele fosse dizer seus sentimentos por Jiang Cheng, não ia dizer isso quando está todo fodido. 

“Sim. Por favor.”

Uma pedrada doeria menos, mas Jiang Cheng diz a si mesmo a para exercitar a paciência. Afinal, Lan Xichen está passando por algo difícil e além disso, ele está pelo menos sendo sincero. 

“Queria beijar você de novo.” O que custa arriscar quando se é jovem e imprudente? 

Lan Xichen pensa um pouco. Jiang Cheng está falando de beijo? Ele deveria dizer “sim, por favor”? Como se reage a isso? 

Ele vê os amigos namorando, mas nunca se interessou em perguntar como é que se começam essas coisas. Que erro!

“Beijo.” 

Jiang Cheng quase não acredita nisso, mas também não perde muito tempo, ele dá vários passos até invadir o espaço pessoal de Lan Xichen. 

— Com licença. - Ele tenta não tocar em Lan Xichen, mas não consegue evitar de segurar a mão e deixa que Lan Xichen baixe o rosto até ele. Dura alguns segundos, seria melhor se eles abrissem a boca, mas Jiang Cheng já está considerando uma vitória. — Se cuida, tá? Até amanhã. 

——

Oi

Isso está tão curto porque eu tinha pressa de acabar, queria mandar pra minha namorada antes que ela dormisse.

Além disso, estou trabalhando no meu original que vou subir na plataforma dia 13 e ainda o projeto natalino (multi fandom) com minhas amigas.

Enfim, aqui algumas informações sobre língua brasileira de sinais e pessoas surdas:

1. Existe mais de uma forma de surdez.

2. Nem todas as pessoas surdas falam português, mesmo sendo brasileiras.

3. Libras é oficialmente reconhecida e faz parte das "libras francesas", mas existe alguma diferença tá? É tipo português do Brasil e português de Portugal. A propósito, Portugal também tem sua própria língua de sinais.

4. Libras pode ter "sotaque". Sim, elas mudam de uma região para a outra, assim como nosso português.

5. O ouvido biônico (implante coclear) é como um "computadorzinho" que substitui o ouvido de pessoas com surdez total ou quase total. Sim, esse é o aparelho que o Jiang Cheng usa.

É só isso mesmo, eu achei muito legal compartilhar.