Never Felt So Alone - Billie Eilish

Lembranças

Acordo ofegante e chorando. É sempre assim, quando durmo cansada acabo tendo pesadelos, não, pesadelos não, lembranças...

                        Flashback on

2016, Los Angeles

Eu sempre avisei, avisei desde o início que essa coisa iria dar trabalho! Mas como sempre você nunca me ouve! - Ouço meu pai dizer enquanto termino minha atividade no meu quarto.

Eu tinha 12 anos, já sabia do que eles estavam falando. Hoje eu apanhei de umas pessoas na escola porque me viram entrando no banheiro masculino. É, eu tinha permissão da escola para usar o banheiro masculino pois eles sabiam da minha condição. Eu ficava desconfortável e com medo dos olhares, mas fazer o que, eu tenho necessidades.

Eu consegui ficar dois meses sem apanhar, mas depois disso eu apanhava todo dia, tinha que esperar todos os meninos saírem para usar o banheiro, e... e diversas vezes já fiz xixi nas calças por não conseguir ir no banheiro.

Acontece que faz cinco meses que estou apanhando continuamente e a direção da escola finge que não vê.

Estava cansada.

Ei Yuri, não vai mijar nas calças não né? - Fala Jesse enquanto chutava minha barriga, sinceramente eu só tinha medo dele acertar meu pau.

Isso fica mais tosco se você pensar que Jesse é 10 anos mais velho que eu. É meus amigos, eu apanho quase todo dia para um cara de 22 anos.

Tentava me proteger a todo custo enquanto ele me chutava. Tinha dezenas de pessoas ao meu redor só observando e rindo. Estávamos no meio da quadra de educação física e não tinha absolutamente ninguém para parar aquilo.

Eu só estava em posição fetal pensando no que eu fiz para merecer aquilo...
Insultos e maus tratos dos meus pais, bullying e violência na escola. Tem que ser muito fodida mesmo...

Toda essa indignação somada ao fato de que eu iria apanhar se não chegasse em casa à tempo de limpar ela toda fez eu desviar de seus chutes e levantar daquele chão gelado.

Olha só, até que você aguentou bem. Conseguiu até ficar em pé, e detalhe, sem se mijar - Fala dando uma gargalhada satisfeito e tirando também gargalhadas de todos que estavam ali.

Eu me sentia um lixo, estava lá na frente daquele cara enorme. Eu estava com um corte na sobrancelha que ardia com se eu tivesse bebido vinagre por ali,nariz sangrando, costelas doendo e ofegante olhado para sua cara, para todos ao meu redor que estavam se divertindo com a situação.

Aceita Yuri, aqui não é lugar para uma aberração como você. Você não é igual a nós, olha pra isso, você tem um pau entre as pernas! - fala apontando para as minhas partes íntimas

Eu sabia que o que ele falava era verdade, eu realmente não era igual as outras garotas. Eu era uma aberração, um ser vivo nojento que só era criada pelos pais por obrigação.

Quando Jesse percebeu que eu não falaria nada só fechou o punho e veio em minha direção, mas de uma forma que até hoje eu não sei, eu desviei e acabei acertado um chute em suas costas.

Quando percebo que Jesse estava ali caído, vulnerável a mim, eu senti uma adrenalina tão guarde que só percebi o que tinha feito quando os seguranças da escola me seguraram com um mata leão.

Minhas mãos estavam encharcadas de sangue, Jesse estava com o rosto completamente sujo e lesionado, as pessoas olhavam para mim como se eu fosse um monstro. Uma garota até vomitou, eu gosto dessa parte da minha lembrança.

Depois de tudo meus pais foram chamados, foram na delegacia e pagaram alguma coisa a Jesse, que só receberia depois que acordar, pois o mesmo está todo fodido no hospital.