Amigo com benefícios

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Última visualização do wathsapp: Sábado, 20:30h.
Parece estranho, eu deveria estar preocupado com meu box dos Jogos Vorazes. Onde eu estava com a cabeça para emprestar meus livros favoritos a alguém que conhecia há apenas um mês?
O mais curioso, era que eu estava “pouco me lixando” para os livros. Queria mesmo era saber onde ela estava? Será que estava bem?
Provavelmente tinha caído em si e se dado conta de que não precisava daquela faculdade e muito menos da minha amizade. Amizade? Pode-se chamar de amizade, a interação de algumas semanas, ainda que com bastante afinidades?

“Ah, como sou idiota! Meus livros devem estar jogados num canto ou no lixo! Ela deve estar viajando com o noivo rico...”

Olhei para os textos de Romeu e Julieta, que há pouco analisava, na grande escrivaninha da biblioteca da faculdade. Romeu me parecia tão volúvel... Apaixonava-se e desapaixonava-se, na maior facilidade do mundo. Rosalina era seu grande amor, até perde-se de paixão por Julieta.
Shakespeare tinha mesmo que caprichar com toda a baboseira de “ louca paixão”?

“Se você não respira, eu tampouco! Ninguém, merece!
Sem você, prefiro morrer... Suicídio...
Ah, droga! Agora está claro! Estava tentando se matar por culpa da paixão que sente por ele... provavelmente o cara aprontou alguma e eu, o bucha, aqui, perdendo tempo pensando nela...
Mas, eu me preocupo como amigo, só isso...
É, como amigo babaca, isso que você é! Seus livros, seu otário, viraram lixo, pode ter certeza!”

Franzia a cara, puto com a discussão interna. Ainda estava bufando e olhando para o trabalho que o otário, aqui, fez sozinho e que colocaria o nome dela, claro...
Então, o Sol chegou ao terceiro pavimento da biblioteca, de óculos escuros. O sol às vinte e uma horas. Iluminar tudo a seu redor, trazer cor e vida, era essa a sua capacidade. Toda a irritação se dissipou como pingo d’água no asfalto, ao calor do meio dia.
Achei graça por estar de óculos escuros, meu riso já presente nos lábios, denunciando o quão oferecido eu era.

- Muito sol lá fora?

Ela sorriu com os lábios cerrados e retirou os óculos. Eu puxei o ar e senti o coração acelerar.

- Meu Deus, Isis, o que aconteceu?

Me projetei na sua direção, mãos no ar, querendo tocar, mas hesitando.

- Foi uma besteira... Uma freada brusca, estava sem cinto...

Mordeu o lábio inchado. Virou o rosto, tentando esconder o tom arroxeado da sua lateral esquerda.

- Por que não me avisou? Não precisava ter vindo, deveria estar descansando...

- Estou sem celular, ele pifou no acidente... Eu estou bem.

Evitava meus olhos, como jamais havia feito. Nem na noite da “tentativa de suicídio” ela evitou me olhar. Isso foi uma das coisas que me impressionaram nela, a capacidade de falar me encarando, sem desviar uma só vez.
Havia algo de errado.

- Já coloquei o seu nome no trabalho, não precisava se preocupar.

Ela me estendeu a sacola de grife, meus livros estavam lá dentro.

- Obrigada... – Ainda evitava meus olhos.
- Temos que conversar sobre as suas considerações... Qual dos três é o seu preferido?
- Um complementa o outro, não tenho um preferido...

Ela estava tão séria e eu ali, querendo quebrar o gelo.

- Acho que temos que conversar lá fora, a não ser que queira ficar presa de novo aqui nessa biblioteca escura... – bati no vidro do relógio e arqueei a sobrancelha.

Ela, de muito séria, mudou a expressão. Primeiro sorriu e em seguida seu rosto ganhou um aspecto mais altivo.
Primeiramente escaneou-me com os olhos semicerrados, prendendo os meus em seguida, numa espécie de magnetismo que me arrepiou por inteiro.

- Ficar presa aqui com você, até que não seria má ideia...

Sim, meu coração disparou num galope de cavalo manqueta. Ela aproximou-se, eliminando o excesso de espaço entre nós. Sua mão acariciou meu pescoço, indo depositar-se no queixo, alisando meu cavanhaque irregular.

“Falta de ar do caralho! Mano, que ódio que tenho de tu, infeliz! Nem consegue disfarçar que tá nervoso...” – a voz da minha mente, me julgava.

A unha bem feita do indicador, provocava cocegas no meu lábio inferior e enchia de saliva, o interior da minha  boca. Ela se aproximou ainda mais colando o corpo no meu, que estava recostado na estante, tão bem organizada.
Daquele jeito, com certeza podia sentir os galopes insanos dentro do peito e também o volume que crescia sem a menor cerimônia, dentro das minhas calças.

- Isis... – minha voz saiu num fiapo – o que está fazendo?

Sua mão macia, acariciava a base da minha barriga, na altura do umbigo. Suas unhas a arranhavam de leve, produzindo espasmos.

- Shiiiiii... – aproximou seus lábios dos meus, eu bebia seu hálito quente, sentindo uma sede insuportável – seja um bom amigo...

Macia, quente e úmida. Que mistura tentadora era aquela? Eu evitava morder sua boca, lembrando que estava machucada. Ela em contrapartida, parecia uma devoradora de alma.
Quanto mais me mordia, mais me apertava contra ela. Meu corpo inteiro estava latejando, as pernas bambas, enquanto ela sugava a minha língua e enfiava as unhas na minha pele, por baixo da blusa.
Nosso amasso recostado na prateleira, derrubou alguns livros.

“ Foda-se!” – pensei – “Já tá no inferno? Dá bom dia pro Diabo...”

Aquilo não ia demorar muito, eu já estava a ponto de bala. Se ao menos soubesse do desenrolar da minha noite na biblioteca, teria feito uma troca de óleo debaixo do chuveiro. Eu tinha certeza absoluta, que na hora que encostasse nela, lá na estrada da perdição, duraria um minuto muito árduo, chutando por alto, depois explodiria em fogos de artifício.
A minha mão boba e lerda, decidiu enfim, que também poderia atiçar ainda mais aquele vulcão. Subiu por sua costela, que movia-se de forma irregular sobre os pulmões aflitos e encontrou o aro do soutien.

“ Mas, que porra dura é essa aqui?” – pensei, tentando manter o foco dos dedos ágeis.

Foi por baixo do aro miserável, que eu descobri a pele macia como uma seda. Imediatamente quis beijar. Ela suspirou profundamente em minha boca, calando um gemido. Apertou ainda mais o corpo contra o meu, eliminando o resto de sanidade que me restava. Ia ser ali mesmo.
Abri os olhos brevemente e percebi uma figura na visão periférica.

- Eu sabia que tinha treta entre vocês dois...

Nos desatrelamos imediatamente diante do zelador, “empata foda”.
Minha amiga começou a juntar nossos pertences, derrubando a metade no chão, tamanho o tremor de suas mãos.

- Saiam daqui ou vou falar com a reitoria...

Minhas cordas vogais estavam meio que amarradas. Eu parecia o “Anderson Silva” falando.

- Por favor, cara, não fale pra ninguém... Isso não vai se repetir.
- Sumam da minha frente! – falou entre os dentes.

Do lado de fora da biblioteca ela me olhou, séria como antes e hesitante.

- Me desculpe por isso, Athos... Eu não devia... – suspirou e encarou o chão.
- Ísis... Por favor, não se desculpe. – peguei em sua mão, ela a puxou.
- Não posso te envolver em algo assim... Seria errado.

Virou as costas e saiu sem se despedir.

- Eu já estou envolvido...

Respondi para sua sombra, que afastou-se rapidamente.


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⏰ Última atualização: Nov 29, 2023 ⏰

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