[4] O princípio da Inércia

5.6K 727 783
                                    

#Penelopecharmosinho

Quebrar os próprios paradigmas é difícil, especialmente se eles estão enraizados no fundo da sua mente. Mudanças são sinônimas de consternações caralhentas e imprevisíveis, elas atiçam o seu pior lado e, também, chegam a fazer você questionar se tudo que acreditou até agora, é a real versão. A realidade te pega desprevenido, tornando você um alvo propício à falha e propício a cometer erros.

Mas a partir do momento que o estado de inércia te pega, não há nenhum jeito de revertê-la, a não ser se acostumar.

No ritmo de mudanças, de novidades e de catástrofes que estou sendo acometido nessas duas últimas semanas, não há espaço para movimento, somente indiferença e confusão. Em outras palavras, me cansei de dar tanta atenção para obstáculos mínimos quando posso ser indiferente e levar a situação.

Essa porra deve se chamar inteligência emocional, e eu não tenho muito dela, mas comecei a exercitar o pouco que tenho nos segundos que entrei no carro rosa e suspirei. Suspirei tantas vezes, que meu fôlego foi perdido no átimo que Park nos arrancou da multidão, acelerando o motor no máximo.

A minha primeira reação, seguido desse episódio quase disruptivo, é pegar o meu celular, ainda incrédulo, clicar na foto do homem ao meu lado, e analisar ambos. A cintura evidenciada na foto, com curvas, expõe uma tatuagem pequena de patas de gato. Chego a cogitar levantar a camiseta de Park Jimin, apenas para me aliviar dizendo que delirei demais. Que não são a mesma pessoa.

No entanto, os insalubres lumes acastanhados firmam-se nos meus. Esse pequeno vagabundo me lê com eles, como se tivesse alguma capacidade mística além de torrar os meus neurônios.

Desviando o olhar dele, aprecio o interior do carro, vendo diversos adereços que combinam com a personalidade excêntrica e duvidosa de Park.

— O que tá pensando? — ele pergunta, girando o volante com apenas uma mão.

Ergo o peito, os enchendo de ar, tomando coragem para dizer alguma coisa nos vinte minutos que permanecemos seguindo o percurso.

— Nada. Não tô pensando em nada. — Na verdade, eu estou sim.

Me jogar de um carro em movimento burlaria a lei da inércia.

— Já parou para pensar no quanto as pessoas são ridículas em rotularem uma às outras? — continua suas perguntas. Não quero responder, por isso afundo a bochecha no vidro da janela, fechando os olhos. — Você parecia um babaca bruto para mim no começo, mas...

Sei o motivo da pausa que ele faz. É apenas para me induzir a dizer algo, para me deixar curioso sobre o resto da fala. Sou formado em estudos de personalidade, e com certeza, esse cara é um manipuladorzinho.

Jeongguk, você é um fofuxo — termina de dizer, rindo.

Queria dizer que meu voto de silêncio encerra-se agora. E que talvez eu esteja quebrando a quinta parede literária dizendo isso, mas não consigo mais conter a minha língua.

— Eu não sou um fofuxo. Para de me envergonhar. — Minhas palavras saem entredentes, mas para amenizar, complemento: — Porra.

Ele ri ainda mais, ri tanto, que os cantos de seus olhos se iluminam. Vejo isso por causa do farol parado, não por outra razão inoportuna. Não é como se eu fosse um observador maluco.

— Entendi seu mecanismo de defesa. — Park troca a marcha, pisando no acelerador. — Já que você teve uma quebra de expectativas e está duvidando de mim, o que acha de um encontro numa pista de drifting?

Star(boy) | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora