0.5 |Primícias

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CAPÍTULO NÃO REVISADO
Eduarda, point of view.

Essa seria minha sétima consulta com Nascimento e ainda não há muitos sinais de que ele sinta tanta confiança em mim como sua psicóloga, sua desconfiança é alta devido ao seus anos de trabalho na polícia e as coisas pareciam fluir de maneira lenta em comparação a primeira sessão apesar das diversas demonstrações físicas que deixam explícitas as maneiras quais as palavras pareciam ficar presas na garganta dele, resultando em momentos onde mal conseguia falar e parecia imerso em seus próprios pensamentos se perdendo do foco da terapia.

E eu sabia que ele continuaria vindo por que ainda havia uma pequena chama de esperança em voltar a ser quem era antes, isso que o fazia retornar nessa sala e sentar-se a minha frente com os lábios entreabertos murmurando sutilmente enquanto seus olhos revelavam a inquietação que o consumia dia após dia de trabalho enquanto o silêncio ensurdecedor se aconchegava em nossos pés como um gato manhoso.

Dessa vez conforme escrevia em minha caderneta, o pensamento de estar o atendendo era um ensejo para o turbulento misto de sentimentos indo e vindo em rápida sucessão – igual estar em uma montanha-russa – conforme me preparava para lidar com a inconsciente defesa de Roberto ao tocar em tópicos delicados e sua magnitude para mudar de assunto agindo como se as palavras jamais foram ditas por si mesmo.

Ele não se importava com às incógnitas pairando em minha cabeça – já que estava acostumado a viver em seu mundo de dúvidas e nunca certezas – muito menos com a mudez criada nessa sala que corrobora com o sentimento avassalador parecendo dificultar a maneira de lidar com as emoções quando elas estão chegando de forma intensa e rápida, concluindo minha teoria logo após assistir um vídeo onde Nascimento – que estava em todos os lugares, principalmente nas mídias dos moradores locais – espanca alguém que julgo também ser capitão devido a roupa que usava ao lado do corpo de um homem estirado no chão com choros infantis no fundo da gravação.

Apesar da frieza presente nas suas atitudes a raiva me capta total atenção nas filmagens, mesmo que fosse uma das emoções mais básicas ela ainda é algo saudável e necessário para a sobrevivência como proteção e indicativo de que algo está errado, mas quando se passa do controle como nesse caso, consigo relacionar como uma maneira de substituir a dor – por que ela paralisa – e impedir que as pessoas o vejam como fraco – principalmente na situação de ter outro comandante com ego inflado responsável pelo batalhão que está sob domínio de Nascimento a anos – já que a raiva também causa sensação de poder barrando seus verdadeiros sentimentos e evitando que eles saiam de seu íntimo.

— Doutora? — Dessa vez invertemos os papéis, pois quem parecia concentrada no próprio raciocínio era eu, só sendo capaz de perceber que estava a minutos olhando para o vazio quando a voz baixa de Roberto me chama a atenção, antes escutava seu ponto de vista diante aquela situação, mas o vídeo ainda parecia rodar em minha mente no modo de repetição conforme meu olhar pousava nele.

— O que você acaba de me contar são as consequências do que chamamos de raiva acumulada, sabe todas as pequenas ações que te causam estresse ao longo dos dias? Elas vão se juntando até se transformarem em algo grande comparado ao que eram, tornando difícil controlar a medida que novos problemas chegam e como ainda falta direcionamento para lidar com esse sentimento da maneira correta, por que em algum momento ele precisa ser liberado, resulta em uma crise de raiva. — Gesticular conforme falava havia se tornado um hábito e agora não era diferente, pelo menos havia capturado a atenção dele sobre o assunto e pela feição que tinha em seu rosto estava pensando sobre o que acaba de ser falado.

ULTRAVIOLENCE, capitão Nascimento.Onde histórias criam vida. Descubra agora