Capítulo II: Raio da Aurora

391 47 4
                                    

  Adryan caminhava lado a lado com sua irmã, Bianca, em direção ao imponente Salão de Primordial, o coração da fortaleza flutuante governada por seu pai, o Arcanjo Miguel. A luz intensa de uma estrela distante destacava os contornos angelicais de Bianca, seus cabelos dourados dançando ao vento, e sua pele alva parecia irradiar uma luminosidade divina. Ela, embora fosse uma visão de beleza estonteante, transmitia uma doçura e meiguice que a distinguiam, escondendo a força formidável que residia em seu sangue, herança direta do mais poderoso dos arcanjos.

Bianca, a caçula entre os três irmãos, era uma descendente direta de um arcanjo, e sua linhagem a tornava alvo constante de pretendentes das casas nobres angelicais. No entanto, apesar de sua posição cobiçada, ela rejeitava todas as propostas, mantendo-se fiel à sua vontade e desviando-se das expectativas da sociedade celestial.

Adryan, o primogênito, carregava consigo uma energia poderosa, reconhecida por todos que cruzavam seu caminho. Entre os capitães querubins, ele era considerado o mais formidável, frequentemente sendo comparado até mesmo aos Arcontes. Sua força emanava da herança celestial, uma aura pulsante que o colocava no topo da hierarquia militar angelical.

O enlace entre Miguel e Lilith, filha do arcanjo da luz, foi resultado de uma estratégia política sugerida por Lucifer para acalmar as tensões após uma insurreição angelical. Esse casamento, um ato de boa vontade, demonstrou a intenção de reconciliação entre os reinos celestiais. Contudo, a tragédia se abateu sobre a família quando Lilith perdeu a vida em uma expedição militar dos querubins, a ordem à qual ela pertencia.

A história de Adryan e Bianca era entrelaçada com a herança de seus pais, uma narrativa que se desdobrava nas intrigas políticas e nas batalhas celestiais. Enquanto caminhavam para o salão, o destino dos irmãos parecia fadado a desafios que testariam não apenas sua força individual, mas também a resiliência de sua família diante das complexidades do reino celestial.

Após alguns minutos de caminhada, os irmãos alcançaram um majestoso portão de prata, adornado com cristais reluzentes. Bianca instruiu Adryan a aguardá-la ali, e o Príncipe, compreendendo, continuou sozinho. A presença celestial de Adryan fez com que o portão se abrisse magicamente, revelando um esplêndido templo. Suas paredes de mármore exibiam pinturas que contavam histórias de éons passados, enquanto lustres de cristais iluminavam o espaço com uma luz etérea. Sete imponentes estátuas adornavam o ambiente, representando os poderosos Arcanjos, com a figura do grande Miguel no centro, destacando-se em tamanho e importância.

Miguel, sentado em um trono de cristais, usava uma túnica dourada com mangas vermelhas que conferiam um toque cerimonial. Um colar de ouro com um pingente brilhante, cuja luz parecia emanar de uma fonte divina, adornava seu peito. Seus cabelos loiros fluíam até abaixo do peito, e seu rosto exibia uma expressão serena e impenetrável. Olhos azuis fixavam-se com firmeza, revelando a intensidade de seu poder celestial. Uma discreta cicatriz no centro do queixo era a única marca visível em sua face.

O corpo de Miguel era uma manifestação de força e robustez, sua presença imponente refletindo a realidade de um Arcanjo. Nos combates, sua figura intimidante frequentemente dispensava a necessidade de ação direta, pois sua aura emanava uma pressão avassaladora. Mesmo sem esforço aparente, sua presença fazia com que o ambiente ao redor se tornasse um desafio para aqueles desprovidos de um nível significativo de poder. A mera presença de Miguel podia induzir à perda de consciência, um testemunho do domínio celestial que ele exercia sobre o seu entorno.

Adryan aproximou-se a pouco mais de cinco metros, detendo-se no primeiro degrau de uma sequência de dez que levava ao trono celestial. Inclinou-se levemente, dirigindo-se ao Arcanjo Miguel com respeito:

"- Vossa Majestade, venho perante vós comunicar meu retorno às vossas fileiras."

Miguel o encarou por alguns segundos, sério, sem demonstrar emoção alguma, antes de falar com uma voz estridente, como se estivesse acompanhada por uma melodia de trovões:

"- Meu filho, percebo que cumpriste tua promessa e retornaste após obter o título de Capitão entre os querubins. No entanto, acredito que já estás no castelo há algum tempo, e tua presença foi solicitada há algumas horas." Parecia mais um elogio do que uma crítica. "Deverias ter-me procurado assim que chegaste."

Adryan respondeu com um leve sorriso:

"- Desculpe, meu pai, mas havia planejado chegar apenas amanhã. Pensei que não faria mal passar um tempo com Bianca antes de me apresentar a vós."

"- Estava aguardando ansiosamente por seu retorno." Disse o Arcanjo, fazendo uma pausa enquanto colocava a mão sobre um dos apoios de seu trono e segurava uma caixa longa e negra que repousava ali. "Como cumpriu sua promessa e ascendeu ao posto de Capitão, instruí Ezequiel a preparar algo especial para você."

Adryan, ansioso, indagou:

"- E o que seria isso, meu pai?" Era de conhecimento histórico geral que Ezequiel foi o Arcanjo que ajudou o próprio criador a forjar as armas dos arcanjos. "-Estou ansioso para saber."

Miguel explicou com serenidade:

"- Como bem sabes, Ezequiel participou da criação das armas arcanas. Ele forjou os moldes físicos de todas elas enquanto nosso Pai as banhava com sua luz, e somente ele detém o conhecimento para criar este tipo de material. Por isso, pedi a ele que construísse algo para ti, utilizando uma pequena parte da energia da Executora Divina." Era o nome da arma mais temida no Cosmos, aquela que Miguel carregava consigo. "Assim, utilizando meu poder, da mesma forma que meu pai fez comigo, pedi a Ezequiel que concretizasse esse presente para ti."

Adryan mal conseguia conter a curiosidade, exibindo um sorriso sincero em seu rosto. Seu apreço por armas, uma característica intrínseca de sua natureza, era compartilhada com seu pai. O ruivo havia discordado de Miguel antes de ingressar nas fileiras dos querubins, séculos atrás, mas qualquer ressentimento proveniente daquele episódio parecia ter desaparecido naquele momento.

"- Entendo, então suponho que o que está contido nessa caixa seja a recompensa." Disse o querubim.

Miguel abriu um sorriso e ergueu-se do trono.

"- Sim, exatamente. Esta é a recompensa pelos teus próprios esforços: uma espada feita a partir de minha própria graça." Da caixa, ele retirou uma espada com uma lâmina negra, gravada com escritos em uma língua angélica. O cabo era de prata, com um anel de ouro como pomo, e um pequeno rubi adornava a empunhadura. Os arriazes eram feitos de um metal negro semelhante ao da lâmina, conferindo uma elegância singular à arma. A espada emanava uma energia pulsante surpreendente. Miguel extraiu uma bainha negra com curvas douradas e a colocou na espada. Em seguida, aproximou-se de Adryan e estendeu-lhe a arma.

"- É sua, meu filho, a arma na qual deposito minha essência."

Adryan ajoelhou-se com gratidão, recebendo a espada com honra. Ao retirá-la da bainha, examinou-a novamente, maravilhado. Nunca antes havia sentido um poder tão grandioso em suas mãos.

"- 'Raio da Aurora'. Esse é o nome dela?" Perguntou Adryan, após ler a escrita antiga angelical.

Miguel voltou-se para o trono e indagou:

"- Digna do capitão da primeira divisão dos Querubins não acha? Use este presente para crescer ainda mais nas fileiras celestes. Volte para sua irmã e vá se divertir, sei que no momento é o que mais deseja."

Sem proferir uma única palavra, Adryan curvou-se novamente em respeito, saudou seu pai e retirou-se lentamente do templo. Sentia-se feliz, empolgado e ansioso para enfrentar um desafiante à altura de sua nova e preciosa espada, a Raio da Aurora. Algo que, sem dúvida, não tardaria a acontecer.

Adryan refletia sobre a responsabilidade que carregava agora. A "Raio da Aurora" não era apenas uma espada; era um símbolo de seu compromisso com a proteção e a prosperidade do reino celestial. 

O príncipe deixou o majestoso templo com a "Raio da Aurora" empunhada em suas mãos, sentindo-se imbuído de um poder transcendental. Seu coração pulsava com uma determinação renovada enquanto se dirigia de volta ao portão, ansioso para compartilhar sua conquista com Bianca.

Enquanto isso, nas sombras do templo, uma figura enigmática observava silenciosamente. Vestida em um manto escuro que parecia absorver a luz ao seu redor, seus olhos ardiam com uma intensidade sombria. Um suspiro profundo escapou de seus lábios, revelando uma presença oculta, alheia aos eventos celestiais.

Essa misteriosa figura, oculta nas sombras, mantinha um interesse vigilante em Adryan e Bianca. Sua conexão com os eventos que se desdobravam era obscura, e sua presença, até então imperceptível, permanecia um mistério.

Lágrimas dos Anjos: GênesisOnde histórias criam vida. Descubra agora