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Eles caminharam juntos por uma hora. Queriam chegar ao porto da província antes do amanhecer e já devia ser quase 5 da manhã.

A caminhada até o destino foi silenciosa. A cabeça de Seonghwa não parava de pensar no quão imprudente ele estava sendo. Ele estava apavorado.

Hongjoong percebeu o que estava acontecendo com seu amigo ao lado e viu que não tinha muito o que fazer. Ele então deu uma parada repentina e apontou para o céu.

— Alteza, olhe para cima.

Seonghwa levantou a cabeça e viu uma luz laranja que surgia no horizonte, o nascer do sol. Uma pequena fonte de calor começava a atingir seu corpo como um consolo.

— Você está renascendo hoje, assim como o sol. O seu nome significa "Tornar-se uma estrela" e bem, você já é o próprio Sol pelo visto.

Hongjoong sorriu e pegou a mão de Seonghwa que olhou diretamente em seus olhos.

— Tudo ficará bem, tenha certeza disso. Você não está e nunca mais estará sozinho, eu estou com você.

Seonghwa então caiu em si...

Não importa se é imprudente, não importa se é loucura. Nada mais importa.

Tudo o que realmente importa está bem na sua frente.

Ele apertou a mão de Hongjoong como se segurasse o mundo inteiro em suas mãos.

— Estou encantado em te conhecer novamente. Obrigado por me libertar.

— Eu não te libertei. Talvez tenha dado um empurrãozinho mas, tudo isso, é seu feito e você merece ser lembrado por isso.

— Mas obrigado por seu empurrão e por ser tão você. Você é incrível.

Hongjoong não esperava aquilo então corou fortemente, como um pré-adolescente.

— Sei que me apagarão da história, meu pai dirá que morri ou coisa pior. Eu não ligo mais. Só quero que você saiba o que fiz.

— Então somos confidentes?

Hongjoong disse aproximando seu rosto do de Seonghwa.

— Bem... acho que sim.

Seonghwa dizia desviando os olhos para que o menino na sua frente não visse o quão mexido ele ficou com aquela proximidade.

— Então você terá de me conhecer muito bem daqui para frente, até as coisas mais ruins e mesquinhas e eu farei o mesmo com você, a partir de agora. Qual sua cor favorita?

Seonghwa que estava completamente atento ao que o menino falava ficou realmente surpreso com a pergunta. Riu de verdade daquele questionamento. Imaginava que Hongjoong perguntaria coisas profundas ali de cara.

— Ei – Hongjoong deu um tapinha no ombro do mais alto – esta é uma pergunta seríssima, só assim nos conheceremos a fundo.

— Certo, perdão. Me deixe pensar um pouco.

Seonghwa disse colocando a mão no queixo com uma cara pensativa.

— Acho que rosa.

— Mas por quê rosa?

Ele pensou mais um pouquinho.

— Amo quando o céu fica meio rosado. Gosto mais das orquídeas que são rosas. Era a cor que minha mãe mais usava. Ela parece meio mágica para mim.

Hongjoong prestava atenção a cada detalhe do que Seonghwa dizia, em cada detalhe do seu rosto.

— É lindo mesmo...

Seonghwa olhou fixamente para ele.

— L-linda a cor rosa... A minha cor favorita é amarelo.

— Por que?

Hongjoong olhou para o horizonte e depois voltou o olhar para Seonghwa.

— Essa cor me traz uma sensação boa. Lembro dos momentos felizes com meus pais, lembro das aulas de piano e dos meus amigos. Não sei o porquê, mas sempre me lembro desse tipo de coisa quando vejo essa cor. E agora eu vou me lembrar de hoje. O dia em que o príncipe Park fugiu comigo enquanto o sol nascia acima de nossas cabeças.

Eles se encaravam. Havia uma clara tensão ali que eles não sabiam muito bem como lidar. Seonghwa então falou.

— Acho que realmente nos conhecemos um pouco mais agora.

— Ainda temos a vida toda para melhorar nossos conhecimentos.

— Então, será para a vida toda?

Imersos em seus olhares, seus corações estavam acelerados.

— Temo que sim, Alteza.

E Seonghwa teve que ordenar à seu cérebro que parasse de pensar nos lábios de Hongjoong.

— Não sou mais alteza, apenas Seonghwa. Um cara qualquer que não sabe o que o futuro será.

Hongjoong sorriu de lado.

— É só disso que precisamos.

Finalmente chegaram ao barco que os levariam. Hongjoong avistou alguns de seus amigos e foi falar com eles.

Ele se lembra de nós, afinal de contas.

Contou toda a história de forma resumida e convidou Seonghwa a se aproximar. O ex príncipe estava bem acanhado, se sentia um estranho ali no meio daquelas seis pessoas que não conhecia. Ele se lembrava de alguns rostos das aulas de piano de sua mãe, mas não sabia quem eram realmente.

Naquela época ele era tão quietinho. Quem me dera continuasse assim.

Hongjoong fez de tudo para que ele se sentisse acolhido, afinal aquela era a sua família. E, bem, ele prometeu o "para a vida toda", Seonghwa não tinha para onde correr.

Mas digo para que se tranquilize, querido leitor ou leitora, que Seonghwa se adaptou rápido a vida que ele escolheu.

Eles estavam se preparando para zarpar com o barco.

Encarando a embarcação à frente, Seonghwa hesitou. "Será que devo deixar tudo para trás?"

Ele olhou para Hongjoong, que conversava conosco sobre a rota a ser traçada para chegarmos em nosso destino, depois alternou o olhar para o mar.

Não era isso que ele queria? Poder conhecer novas pessoas, novos lugares, novos livros. Ter liberdade de ir e vir, ter amigos de verdade e nunca mais ter medo de ficar preso?

Então, mesmo com muito medo, pela primeira vez em sua vida Seonghwa sentiu aquela sensação tão boa: alívio.

Ele estava livre. Nada e nem ninguém poderia lhe prender, nem ele mesmo.

Então ele voltou seu olhar a Hongjoong e seus amigos com um sorriso.

Quando Hongjoong sorriu de volta, Seonghwa soube. Finalmente estava em casa.

Enchanted - Seongjoong Onde histórias criam vida. Descubra agora