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Seonghwa se lembrou precisamente agora do dia em que conheceu Hongjoong. Lembrou também do que sentiu naquele dia. Aquele formigamento estranho na boca do estômago, quase como se tivesse engolido borboletas que dançavam em sua barriga.

Lembrou de como seu coração acelerava sempre que conseguia ir às aulas de piano de sua mãe. Ele lembrou de como ele ficou perplexo e surpreso, de forma boa, quando Hongjoong o defendeu de seu pai.

Também do medo de seu pai fazer alguma coisa para o seu amigo, de como prometeu não deixar nada acontecer a ele.

Tudo veio de uma vez. Talvez a morte de sua mãe tenha deixado alguns sentimentos adormecidos, mas eles acordaram e Seonghwa se sentia muito bem depois de reencontrar Hongjoong.

Ele estava lá novamente, forçando risadas, fingindo sorrisos, naquele mesmo velho, cansado e solitário palácio. Mas algo estava diferente dentro de si.

Ele observava Hongjoong de longe, enchendo o salão com a alegria que a música trazia. Ele admite que estava gostando da ocasião.

Muitas garotas o chamavam para dançar e ele respeitosamente recusava. Elas eram adoráveis e incríveis, mas ele simplesmente não queria, o que estava totalmente bem.

Menos para seu pai.

O rei maldito encarava o príncipe com os olhos de um predador. Seonghwa sabia que mais tarde haveria uma briga e talvez uma punição, porém ele não poderia se importar menos. Ele só queria observar e ouvir o belo pianista.

Ele sentiu um toque em seu ombro, meio que já sabendo o que viria a seguir. O guarda lhe informou que o Rei o esperava.

— Filho, não sei se percebeu que isto é um baile. Quando alguém lhe chama para dançar, você aceita de bom grado.

Ele falava pausadamente, querendo ser claro.

E insuportável.

— Dance com alguém, é uma ordem do seu rei.

Ele ficou sem reação. O que deveria dizer? O que aconteceria se desobedecesse novamente. Da última vez que apanhou mais de uma vez no mesmo dia, suas costas sangraram muito, provavelmente no mesmo dia que Hongjoong o vira.

Seonghwa decidiu obedecer... do jeito dele.

Se curvou para frente em sinal de respeito.

Ele mal voltou ao salão e já começou a procurar pelo pianista baixinho, mas ao chegar ao centro do salão, o banco do piano estava ocupado por outra pessoa. Seonghwa olhava de um lado para o outro, mas não encontrava-o.

De repente duas orbes brilhantes e um sorriso brilhante apareceram no seu campo de visão.

— Me procurava, alteza?

— Na verdade... sim.

Seonghwa retribuiu a provocação e o menino a sua frente não se abalava.

— Quero saber se... gostaria de dançar comigo?

Seonghwa pensou que Hongjoong acharia uma péssima ideia, afinal nunca se vira dois homens ou duas mulheres dançando juntos, não em público. Mas Hongjoong ficou meio desnorteado com aquele pedido e quase desmaiou ali de tão feliz.

— C-claro, será um imenso prazer.

Seonghwa não demorou em pegar a mão de Hongjoong e levá-lo ao meio do salão. Não queria dar tempo ao arrependimento.

— Peço perdão antecipadamente caso pise em seus pés.

O príncipe parou bem no meio do salão, ao lado do piano com a mão entrelaçada a de Hongjoong enquanto a outra guiava um caminho até sua cintura. O mais baixo ali se assustou, mas logo pôs-se a colocar as mãos nos ombros do homem à sua frente.

Foi quando Seonghwa chegou com os lábios pertíssimo das orelhas de Hongjoong, causando leve arrepios no menino, para lhe dizer:

— É só me seguir.

Todos olhavam para eles em espanto. Seonghwa olhou em volta e viu o rei que lhe enforcava com os olhos. Parecia que a vida dele chegaria ao fim ali mesmo. Mas ao olhar Hongjoong novamente, ele percebeu que precisava viver aquilo. Ele tinha esse direito.

A música era calma ao fundo. Eles balançaram de um lado para o outro. Só existiam eles e as notas musicais. Eles aproximavam os corpos, giravam e pulavam.

— Suponho que após o dia de hoje não poderei mais vê-lo, Hongjoong.

Ele encarou Seonghwa de forma confusa.

— Mas por quê?

Seonghwa olhou em volta e disse mais baixo:

— O Rei com certeza ficará muito bravo com isso. Quero pedir perdão de antemão por qualquer transtorno.

O pianista ficou em silêncio um tempo antes de continuar.

— Ele que te machucou, não é?

Seonghwa parou de dançar no mesmo instante.

— Não devo falar sobre...

— Foi ele, não foi?

Hongjoong precisava saber, Seonghwa precisava desabafar. Eles se encaravam intensamente.

— Vamos para outro lugar.

Eles começaram a caminhar para fora daqueles olhares julgadores. Porém, ao olhar para a multidão procurando por seu pai, o príncipe Park viu algo lindo. Duas mulheres dançavam juntas no canto do salão, quase imperceptível. Elas se olhavam amorosamente e trocavam risadinhas. Uma pegou a mão da outra e a arrastou para fora dali.

Seonghwa já entendia o que acontecia ali.

Elas se amavam.

E isso lhe deu força de alguma forma. Ele percebeu que seus destinos tinham muito em comum.

O rei foi distraído por algum outro monarca qualquer e não os viu saindo.

Enchanted - Seongjoong Onde histórias criam vida. Descubra agora