The girl of your dreams

Capítulo 24 - No mesmo rítmo

Uma das coisas que Anne estava tentando aprender naqueles dias, após voltar para casa, era ter paciência.

Logo ela, que fora uma pessoa dinâmica e que fazia milhares de coisas ao mesmo tempo, agora tinha que se limitar à cama do seu antigo quarto, que Matthew tivera o cuidado de posicionar perto da janela, para que ela pudesse ter uma visão privilegiada do jardim sempre bem cuidado de Marilla.

Suas pernas se mexiam, mas não tinham forças para ajudá-la a se levantar da cama, pois o trauma que sofrera em sua medula, ainda não tinha se curado e ela precisaria de fisioterapia para que voltassem ao normal.

Por isso, contratara uma amiga de Diana, bastante competente na área, que vinha ajudá-la com os exercícios todos os dias de manhã, e até mesmo nos fins de semana.

Assim, a rotina da ruivinha era sempre a mesma e era nesse espaço de tempo, que estava exercitando também sua paciência. Não podia sair da situação na qual se encontrava imediatamente, como não podia fazer as pequenas coisas do dia a dia sem a ajuda de uma segunda pessoa, e isso a aborrecia e entediava ao mesmo tempo. Porque, apesar de ter todo o tempo do mundo para ler seus livros favoritos, odiava ficar na mesma posição e no mesmo lugar por horas a fio, por mais que amasse a fazenda de seus tios.

Matthew e Marilla faziam de tudo para mantê-la confortável, assim como suas amigas que revezavam entre si para lhe fazerem companhia quando não estavam no trabalho, mas nem sempre era fácil. Embora as companhias lhe fizessem muito bem, por dentro Anne ainda continuava um caos.

Mike lhe ligara milhões de vezes e ela não atendera a nenhuma ligação. Depois de alguns dias, cansada daquela insistência, Anne bloqueara o número dele e pudera ter sua paz tão merecida.

Não queria mais vê-lo, ouvir-lhe a voz ou tolerar suas desculpas. Traição era traição, não importava quais fossem os motivos e mesmo que pudesse perdoá-lo, nunca mais conseguiria confiar nele, pois quando a confiança era quebrada em um relacionamento, não restava muita coisa para ser salva.

Enquanto seu olhar se perdia no vaso de flores que Marilla colocava ali todas as manhãs para alegrá-la, seu pensamento voou até Gilbert.

Era admirável como ele se tornara um bom amigo, mesmo que lhe causasse sentimentos inexplicáveis. Às vezes, parecia que sabia tudo dele, como se Gilbert estivesse em sua vida há bem mais tempo.que algumas semanas.

Gostava da companhia dele, da sua forma de ver o mundo, apesar de ter sofrido um acidente grave como ela. Adorava ouvir as histórias que ele tinha para contar de suas viagens constantes, e como planejava conhecer mais lugares exóticos para agregar à sua experiência de vida.

Porém, ela não podia deixar de admitir que o fotógrafo a atraía de um jeito que não compreendia, e andava tendo alguns sonhos com Gilbert que faziam suas bochechas corarem.

Eram sonhos que não devia ter, mas como controlar a sua mente quando estava dormindo? Como impedir que seus sentidos a levassem para outro lugar e a fizessem viver experiências que nunca tivera no mundo real?

Ela sempre sonhava que estava no Havaí, surfando ondas que não teria coragem, se um dia tivesse a oportunidade de conhecer aquela ilha fascinante. Em outros momentos, estava com Gilbert, trocando beijos e carícias que a deixavam louca e quando acordava, parecia ter sentido tudo aquilo na própria pele e ficava desapontada por estar sozinha em sua cama e carente demais.

Mas logo em seguida, recuperava seu bom senso, pensando que, mal conhecia o rapaz, apesar de ele ser uma figura constante em sua vida agora. Não era certo sonhar tudo aquilo, como não era certo desejar que fosse verdade.

Acabara de deixar Mike. Tinha inúmeras sequelas em seu coração. Como podia desejar outro homem que só conhecera a poucos dias? Era aquela maldita inatividade que a deixava daquele jeito. Não tinha nada para fazer e deixava sua imaginação prendê-la em uma armadilha perigosa. Precisava melhorar logo, e tomar as rédeas de sua vida.