〔Bunker〕

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Acordei em um local frio, não escutando nada do exterior e as luzes artificiais de dentro me deixavam desconfortável com minha visão sem qualquer ajustamento.

- Isso é um bunker? - pensei em voz alta quando notei minha voz fraca, por quanto tempo eu dormi? De qualquer forma, um som me chamou a atenção.

A porta do bunker se abriu, entrando depois dela o mesmo cara da live, porém, dessa vez sem a máscara, o que não me tranquilizou nem um pouco ja que aquele sorriso medonho estava estampado no rosto dele... Minha mente gritava para que eu corresse dele e me esconder o quanto antes, mas eu fiquei apenas imóvel encarando-o de maneira penetrante, com medo visível em meu olhar enquanto o homem se aproximava.

- Como está sua perna?

Ele perguntou sem nem se abaixar em minha direção, com uma voz calorosa e sombria que fazia todo meu corpo estremecer, me olhando por cima dos olhos enquanto eu me encolhia mais ainda no pequeno colchão que meu corpo se encontrava.

Minha perna? Ah, lembrei-me da live de algum tempo atrás, a sensação dos pregos e facadas perfurando minha carne ainda é fresca em minha memória... e corpo, minha perna realmente doi. Esforcei minha cabeça para cima, tentando olhar minha perna, vendo ela devidamente tratada e enfaixada.

- Dói muito... - minha voz fraquejou, ainda rouca e baixa além do desconforto das cordas vocais.

- Oh, não deveria doer tanto, já se foram alguns dias.

- Dias?!

Quando me dei conta ele ja estava se abaixando e checando os meus ferimentos, abrindo as ataduras e tocando as suturas, gemi de dor, tentando me afastar para o mais longe possível dele. Fox segurou minha perna numa área sem machucados, me lançando um olhar rígido e assassino.

- Pare de se mover porra, tsk, seus ferimentos infeccionaram... eu devia ter sido mais cuidadoso com isso. Não posso deixar sua perna necrosar tão facilmente. - Suspirou frustado.

Ele se levanta e se move para a porta do bunker, com seus passos pesados sendo o único som no local junto de minha respiração pesada, o barulho da porta de metal abrindo e fechando é alto e ressoa em meus ouvidos.

- Dias... eu dormi por dias?

Comecei a analisar o local, era um grande espaço estranhamente vazio demais, apenas meu colchão, um vaso sanitário ao canto e uma câmera, as lâmpadas fluorescentes eram altas demais para que eu alcançasse mesmo de pé, paredes, chão e teto na mesma cor de verde desbotado fazia minha cabeça doer. Depois de alguns minutos parado escutando os ruídos das lâmpadas o ranger metálico da porta me avisa que aquele homem havia voltado, olhei para o mesmo, que tinha um kit médico em mãos.

Fox se abaixou e ajoelhou-se na minha frente, começando a tratar da minha perna. Doía muito, eu queria gritar e chorar alto pela dor dele refazendo minhas suturas uma por uma, mas fiquei em silêncio desejando que aquela merda acabasse logo, eu mordia meu lábio inferior com tanta força que estava sangrando um pouco, mas prefiro isso ao ser espancado mais uma vez apenas por diversão. Depois do que pareceram horas ele recuou da minha perna e se levantou.

- Fique melhor logo, meus telespectadores estão ansiosos para te ver novamente

Ele disse sorrindo e saiu novamente, me deixando solitário.

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A solidão continuou por dias, talvez semanas, não tem como ter noção de tempo dentro desse lugar, as luzes nunca são apagadas e a comida entra por uma portinhola, ao menos minha perna melhorou. Mas para acabar completamente com minha paz ele eventualmente voltou para a minha pequena prisão, com um sorriso de orelha a orelha mostrando aquelas presas pontudas, com a cauda balançando, o fato dele ser um meio raposa me assusta mais quando ele sorri, sinto que posso ser devorado. Ele veio acompanhado hoje, um homem negro e uma mulher loira com metade do rosto queimado, ambos mais altos e fortes que ele, realçando o quão pequeno ele era, os três param a uns 5 metros de mim.

- temos live daqui a pouco, se vista.

Ele jogou uma pequena sacola de cetim na minha frente, hesitantemente eu peguei e me levantei, abrindo e pegando o traje de dentro, mais uma lingerie reveladora e enfeitada porém evidentemente bem menor que meu tamanho, ótimo, me sinto cada vez mais humilhado aqui.

Eu olho para eles, esperando que se virassem, mas nada foi feito e nem tiraram os olhos, suspirei e comecei a tirar minhas roupas timidamente, colocando o conjunto de lingerie e meu deus, mostrava mais do que eu esperava.

A mulher andou até mim, algemando meus pulsos atrás da costas, comecei a ser guiado juntamente a eles para o lado de fora do bunker, é um corredor bem iluminado e frio, sem muitos elementos visuais ou cores excepcionalmente interessantes. Fox me guiou até a sala que eu ja conhecia bem, entrei em pânico ao ver os monitores ja ligados e quando sou preso novamente na barra de ferro eu só consigo tremer e começar a chorar silenciosamente.

Ele põe a máscara metálica novamente e começa a live, dando as saudações se sempre e me apresentando mais uma vez:

- Boa noite meus queridos patrocinadores, estamos aqui em mais uma noite especial, sentiram saudade dele?

Fox abre espaço para me mostrar nas câmeras de maneira mais nítida, indo até mim de levantando meu rosto.

- Diga oi, eles sentiram saudades de você afinal.

- ... Não me machuque mais, por favor... - Digo entre as lacrimas e voz embargada, olhando para a câmera.

Ele sorri e solta meu rosto, indo até em frente aos monitores e conversando com o chat, a voz dele é terrível enquanto ecoa naquela pequena sala, suas risadas baixas fazendo meu peito afundar desesperado pela minha própria vida em risco mais uma vez, eu nunca vou sair daqui vivo novamente, eu dei sorte na primeira vez.

- Obrigado pela doação "vulnerable_hunter624", devo concordar que a roupa que eu escolhi hoje foi realmente algo especial, tenho que me empenhar quando vocês gostam tanto desse rostinho ingênuo... mas bem, faço de seu desejo o meu!

A voz dele me fez sair do meu maldito transe, vai começar novamente, um calafrio percorre minha coluna quando o som de algo sendo tirado da mesa me pega desprevenido, uma lâmina? Uma arma? Não me virei para olhar, meu corpo apenas não queria ver o que estava por vir. Ele se agachou na minha frente e me mostrou um item em mãos.

- Sabe o quê é isso?

- Um maçarico?...

- quanta inteligência, docinho.

O homem acariciou meus cabelos e acendeu o maçarico na minha frente, com uma mão agarrando meu pescoço e levantando, deixando minha caixa torácica reta e meus pulmãos sem muito ar, fox aproxima o mesmo da minha pele, o cheiro dela queimando e o sons do meus gritos encheram o local, ele fazia tudo tão lentamente, minuciosamente calculando cada movimento como se minha dor não valesse de nada, em determinado momento parei de gritar sem ter mais força nem ar para isso. Ele se afasta depois de alguns minutos, pegando a câmera de um dos tripés ele se aproxima mostrando minha barriga, vendo no monitor eu finamente enxergo com nitides varias queimaduras horriveis em formatos de coração.

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Do começo ao fim foi uma tortura infeliz, já perto do fim da live com ele atrás de mim mutilando nomes em minhas costas com uma adaga, a respiração dele vai ficando pesada de repente, escutando os sons contra a máscara dele, os dedos que estavam nas minhas costas descendo para os meus quadris, as unhas dele machucando minha pele mais uma vez, depois de alguns minutos parados ele apenas me larga e se levanta, e vai até em frente ao chat, lendo algumas coisas.

- Bem, como vocês desejam finalizar a live de hoje?

A cauda dele balança, mantendo os braços atrás das costas e os olhos na tela, em algum tempo calado ele finalmente assente com a cabeça e vai até a mesa mais uma vez, pegando um saca rolha da mesa e indo até mim, puxando meus cabelos para cima, eu ja não tinha forças, eu sentia minha consciência indo embora aos poucos.

Fox colocou o saca rolhas em cima do meu olhos direito, utilizando do material para retirar meu olho fora, senti meu corpo acordando por alguns segundos, meu sangue ficando mais quente, e então eu cedi a dor, desacordando mais uma vez.

The Price Of Flesh (Ren)Onde histórias criam vida. Descubra agora