CAPÍTULO 4

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Ao voltarem da Reunião, Estrela de Lobo sentia um terrível gosto na boca. As palavras daqueles gatos haviam realmente o deixado repreensivo. Além de ter sido sua primeira Reunião como líder oficial, teve de lidar com inúmeros comentários profanos.

Orelha Afiada pareceu notar o estado melancólico do líder. Se aproximou, pedindo gentilmente para Pata Pequena lhe dar espaço. O aprendiz estava sentado ao lado do líder, ouvindo-o dar as notícias do que havia acontecido na Reunião. O representante enrolou sua cauda na do líder, chamando sua atenção.

— Sei o que está pensando — Ele miou baixinho. — É melhor não pensar muito nisso.

O gato malhado suspirou fundo, seu pêlo marrom brilhoso. Orelha Afiada estava certo; era melhor deixar aquilo tudo enterrado fundo em seu coração. Já havia lidado com esse tipo de coisa antes, mas geralmente, seu pai estava lá para fazê-lo se sentir melhor.

Mas agora não está mais.

O trabalho de líder estava subindo-lhe pela cabeça. Inúmeras responsabilidades que faziam sua pelagem emaranhada tremer só de pensar. Teria de travar batalhas no futuro, ou pior, liderá-las. Iria planejá-las e levaria seus guerreiros para o campo de batalha. Estrela de Lobo não queria ser o culpado pela morte de inúmeros gatos inocentes.

Pensou que seria o responsável por nomear novos aprendizes e guerreiros. Se acalmou ao pensar que um dia iria nomear Pata Pequena como um guerreiro. Olhou para o aprendiz, que bocejava por estar acordado por muito tempo.

Se levantou, anunciando para todos no acampamento que deveriam ir dormir. Orelha Afiada confirmou as próximas patrulhas, e Estrela de Lobo concordou em participar de uma delas.

Ainda sou um guerreiro, pensou, não querendo se livrar dos afazeres de um gato de Clã só por ter se tornado líder.

Os gatos foram lentamente voltando para suas tocas. Estrela de Lobo observou seu aprendiz ir aos pulos, animado para finalmente descansar. O líder também foi alegre para sua toca, mas sem realmente demonstrar isso. Mas antes de finalmente entrar em seu novo lar, foi barrado por Nuvem da Manhã. A curandeira carregava um chumaço de folhas na boca, os largando nas patas do líder.

— Aqui, para você dormir melhor — Ela abriu o pacote, revelando sementes de papoula. — Caso você fique com dor no rosto.

O gato malhado sorriu agradecido, se curvando para comer o que lhe fora dado. — Não muito, não quero que você desmaie.

Ele levantou a cabeça, agradecendo a curandeira. Ela sorriu, pegando o resto que sobrara e levou para sua toca. Estrela de Lobo se agachou, pronto para entrar pela primeira vez na toca do líder como Estrela de Lobo. O tronco enorme da árvore que forma a toca não lhe era novidade, pelo contrário; passou boa parte de sua juventude dormindo ali com seu pai e Listra de Árvore.

Ao adentrar, sentiu o familiar cheiro de madeira e musgo, e também, de Estrela Vermelha. O gato de pelagem vermelha e marrom tinha um cheiro muito específico, misturando o aroma do campo com uma peculiar fragrância de madeira de carvalho.

Sorriu ao olhar a enorme cama de musgo, ainda com pequenos tufos de pelo vermelho. Lembrou dos dias em que ele e Listra de Árvore brigavam para decidir quem dormiria com Estrela Vermelha. Listra de Árvore sempre vencia, usando somente palavras para deixar Estrela de Lobo emburrado e desistir. Mas eles sempre acabavam todos dormindo juntos, às vezes empurrando Estrela Vermelha para fora da cama de musgo.

As lembranças ainda machucavam bastante, e Estrela de Lobo dormiu sentindo o cheiro de seu pai, fingindo que o mesmo estava ali com ele.

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