O Lenhador e a Tempestade

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Eric 

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Eric 

A nevasca cega minha visão enquanto avanço pela floresta. Perdi meus cachorros, não sei se estão vivos ou mortos. Meus passos afundam na neve fofa, e o vento gelado parece cortar minha pele. A véspera da noite de Natal nunca foi tão hostil. Eu, Eric, um lenhador acostumado à natureza, me encontro perdido em meio à tempestade.

Avistei uma luz tênue entre as árvores e segui em sua direção, a esperança de abrigo me mantendo em movimento. Ao me aproximar, a visão de uma cabana abandonada se erguia diante de mim. As tábuas rangem com o vento, mas eu não tenho outra escolha senão buscar abrigo ali.

Empurro a porta da cabana e adentrei, o odor de madeira antiga e mofo atingindo minhas narinas. Uma lareira abandonada está no centro, seus restos indicando que ninguém pisa aqui há anos. Uma sensação de inquietude paira no ar. Este lugar não me é estranho.

— Parece que encontrei um refúgio, mesmo que precário, para essa noite terrível. — murmuro para mim mesmo.

Logo percebo o porquê de minha inquietação; está não é qualquer cabana, mas sim, minha cabana. A cabana onde um infeliz acidente aconteceu. Coço minha barba grisalha e amarro meus cabelos para trás.

Os ventos uivam do lado de fora, fazendo-me sentir mais isolado do que nunca. Aconcheguei-me em um canto da cabana, desejando ter um pouco de companhia para enfrentar esta noite infernal. No entanto, algo me diz que talvez não estivesse tão sozinho quanto penso nesta cabana solitária.

Antes que ficasse impossível de sair devido à neve, me levantei e caminhei em direção à lareira para acender o fogo, a neve aumentará muito lá fora; preciso me aquecer. A falta de algumas madeiras e telhas faz com que as roupas que uso pareçam tecidos finos; o que não são. Pele de lobo cobre os meus ombros, casacos grossos que tentam me aquecer junto ao calor remanescente da lareira extinta.

Tenho 40 anos, uma idade moldada pelas serras e vales que percorri ao longo dos anos. Os músculos marcados pelo trabalho árduo entre as árvores que se erguem majestosas. Os cabelos, outrora escuros, agora exibem orgulhosamente fios prateados, como vestígios das muitas estações que testemunhei. Meus olhos, intensos e cinzentos como as tempestades que assolam nossas montanhas, carregam o peso das histórias que vivi, traçadas nas linhas que contornam meu rosto.

Minhas tatuagens, como marcas da minha jornada, contam histórias que às vezes eu mesmo não consigo decifrar por completo. Algumas, frutos do árduo trabalho nas florestas, são cicatrizes que se tornaram arte, testemunhas silenciosas dos anos que passei cortando madeira entre as árvores imponentes de Serravalle.

Há outras, porém, que são como enigmas para mim. Marcas que não reconheço, cicatrizes que ganharam vida através das agulhas, formando um mosaico de mistérios no meu corpo. Uma delas, nas minhas costas, uma representação sinistra de um demônio ancestral, como se fosse um eco dos meus pesadelos mais inquietantes, uma presença que ronda meus sonhos e desperta temores antigos.

Meu braço-direito é um testemunho da linhagem que carrego, gravada em rituais antigos e símbolos que ecoam as montanhas e as árvores da floresta que chamo de lar. Cada tatuagem conta uma história, um capítulo do meu passado, entrelaçado com a essência dessas terras selvagens que moldaram quem sou hoje.

A floresta esconde segredos e criaturas das quais eu evito. Há histórias que rondam as montanhas e os vilarejos próximos, lendas antigas, que certamente não acredito muito. Os lobos, sim, existem e te devoram facilmente. Mas carrego meu machado e faca para todos os lados, pronto para qualquer um.

Aqui, em Serravalle um lugar envolto em nevoeiro e sombras que se erguem das montanhas enegrecidas pela noite eterna. As altas cristas das montanhas guardam segredos milenares, sussurrando lendas esquecidas pelos séculos. Os vilarejos, espalhados ao longo dos vales, parecem abrigar mais do que simples moradores. As casas de pedras se aglomeram como sentinelas silenciosas, testemunhas de mistérios enterrados sob suas fundações.

As montanhas, erguendo-se majestosas, escondem em suas fendas segredos obscuros, onde o eco dos ventos parece murmurar antigas maldições. À noite, a escuridão se adensa como um véu sombrio, envolvendo cada recanto deste lugar e alimentando lendas sobre criaturas que espreitam na penumbra.

Os vilarejos, com suas vielas estreitas e casas de pedras, são habitados por almas que parecem carregar o peso de um passado sombrio. O ar está impregnado de uma atmosfera enigmática, como se cada esquina guardasse uma história sinistra prestes a ser revelada.

Serravalle é um lugar onde a noite parece estender-se para além do tempo, onde o eco do passado se mistura com o presente, criando uma aura de mistério e perigo. Como se as sombras das montanhas guardassem segredos que nunca deveriam ser revelados.

É verdade, Serravalle é um lugar envolto em mistérios e perigos que se misturam com a própria essência do local. Mas é aqui que me encontro, neste vale enigmático. As montanhas que escondem segredos ancestrais parecem ter uma atração estranha sobre mim, como se meu destino estivesse entrelaçado com as sombras dessas cristas.

Apesar dos perigos e do ar sombrio que permeia cada canto deste lugar, é aqui que a minha história está enterrada. Em meio ao nevoeiro e aos segredos sussurrados pelo vento, encontro pistas do meu passado, das antigas maldições que cercam minha linhagem. Talvez seja essa busca por respostas, por redenção, que me mantém preso neste vale, mesmo diante dos perigos que aqui habitam.

Serravalle pode ser um lugar de mistério e perigo, mas também é onde encontro vestígios da verdade que tanto busco. É como se cada sombra, cada eco do passado, sussurrasse um enigma que só aqui posso desvendar. E é por isso que, apesar de tudo, permaneço aqui, entre as sombras das montanhas, na esperança de encontrar a chave para desvendar os segredos que assombram a minha própria existência.

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Nota de rodapé: Criada pela autora, Serravalle é uma cidade fictícia situada nas redondezas de Hallstatt, na Áustria. Suas características pitorescas e atmosfera enigmática foram inspiradas na beleza cênica e na aura misteriosa dessa região montanhosa. As vielas estreitas, as casas tradicionais e as imponentes montanhas criam o pano de fundo perfeito para os segredos ancestrais e reviravoltas que moldam essa narrativa fictícia.

Carnage Christmas - Conto NatalinoOnde histórias criam vida. Descubra agora