01: Ela te odeia

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Nova Bota¹, São Paulo

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Nova Bota¹, São Paulo. 24 de dezembro de 2023.

A imobiliária San Dodotti recebeu muitos currículos desde que anunciou uma vaga para recepcionista. Não era necessário que Johann revisasse os documentos, mas ele ficaria sozinho na véspera de Natal de qualquer jeito. Seus pais estavam na Espanha resolvendo questões da herança do falecido avô e não conseguiram voltar para o Brasil a tempo. Então, Johann preferia trabalhar a ficar numa mansão silenciosa.

Adentrou o elevador com seu notebook e apertou o botão do segundo andar, já conformado à sua primeira solidão no Natal em sete anos. No entanto, quando a porta do elevador se abriu, se surpreendeu ao ver luzes ligadas. Ao centro do andar estava Maíra Abreu.

Johann ponderou se deveria se aproximar, já que ela nem notou sua presença. A mulher estava de costas para o elevador e digitava freneticamente no teclado. Ele se questionou se ela era do tipo de cristão que não comemora o Natal, mas logo afastou o pensamento, já que aquilo não era da sua conta.

— Com licença — disse, mas a mulher não se virou para ele. Devia ter falado muito baixo. — Maíra.

A mulher soltou um grito. Com a mão sobre o peito e a respiração agitada, ela pareceu aliviada ao ver Johann, o que foi cômico.

— Que susto — disse, ainda ofegante. — O que faz aqui?

— Eu iria perguntar a mesma coisa — ele respondeu. — Não deveria estar com sua família agora?

— Tenho um contrato para redigir. — Mal educada, de certa forma, ela lhe deu as costas para voltar ao computador. — Quero fechar negócio antes do Ano Novo e farei isso.

O tom de voz dela acrescentava algo como “e ninguém vai me impedir”. Mesmo que ela não estivesse vendo, Johann levantou as mãos, como que se rendendo.

— Não irei atrapalhá-la, só preciso revisar os currículos que mandaram para a vaga de recepcionista — respondeu, já se encaminhando para uma mesa à frente de Maíra.

— Isso não é trabalho da Raquel? — Johann a viu olhá-lo com uma curiosidade desconfiada.

— É, mas eu dei essa semana de folga a ela — respondeu, simplesmente, sentando-se à mesa vazia. Desabotoou o terno e abriu o notebook diante de si, já concentrado no que deveria fazer.

Meia hora se passou sem que os dois falassem, estavam absortos pelo trabalho. A mente de Johann, no entanto, aproveitou a primeira brecha para passear pela questão “Maíra”. O porquê dela lhe odiar era um mistério. Desde que voltou da Espanha, o homem mal havia falado com ela. Na primeira vez em que falou, quando já estava na empresa há uma semana, ela foi hostil, fechando qualquer possibilidade dele tentar construir uma amizade. Johann revisava constantemente aquele dia, tentando entender o que fez de errado.

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Dois meses antes...

— Eu entendo, Raquel, mas gosto de conhecer o pessoal com quem trabalho — Johann respondeu à chefe do setor de Recursos Humanos.

A Data ImperfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora