Às dez horas da noite da véspera de Natal, é presumível que todos queiram estar com suas famílias para cear à meia-noite. Por isso, Johann se surpreende ao ver Maíra Abreu trabalhando na imobiliária.
Apesar de ser filho do dono, Johann é novo na emp...
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Em certa altura do sol, Johann e Maíra se aproximaram e engataram numa conversa fluida. Passearam por experiências de vida, sonhos e ambições e até mesmo dates⁶ mal sucedidos. Seria impossível negar que ambos criaram muito carinho um pelo o outro naquele pouco tempo juntos.
— Eu preciso ir, dona Zilá — Johann respondeu à mãe de Maíra. — Sinto muito, mas prometo que provo da sua gelatina em outra oportunidade.
— Espero mesmo que essa oportunidade chegue! — Zilá disse num tom insinuativo.
— Dá para vir no aniversário Mai — seu Pedro contribuiu.
Johann sorriu e olhou Maíra rapidamente, que balançou a cabeça. Estava com vergonha; o homem havia mesmo caído nas graças da família Abreu — e o mais louco: nas de seu Pedro, em especial. Bendito Flamengo!
Johann se despediu dos Abreu e depois caminhou com Maíra para fora da edícula.
— Fiquei muito feliz por passar o Natal com vocês — ele disse, assim que viraram a esquina.
— Fico feliz por não tê-los achado estranhos. — Maíra riu. — São excêntricos, mas eu os amo e... Bom, vi algumas pequenas mudanças nesse Natal. Deus é bom, creio que um dia os verei em Sua presença!
— Amém — Johann respondeu. — E pensar que você quase passou o Natal longe deles.
Maíra parou de andar, já próxima da Mercedes, e o encarou.
— Você espera um agradecimento? — perguntou, um pouco surpresa.
— Na verdade, sim. — Ele sorriu de forma misteriosa. Maíra sentiu um frio na barriga. — Eu preciso fazer uma confissão.
Meu Deus, de novo não!
— O-o quê? — gaguejou.
— Eu não transmiti seu pedido de perdão ao meu pastor.
Maíra ficou confusa.
— Por quê?
— Bem, eu pensei em deixar você mesma falar com ele, no culto, hoje à noite — explicou, então.
A mulher soltou os ombros, aliviada. Por um instante, pensou que ouviria o homem se declarar. Ela sabia como isso seria absurdo, mas não impossível. O seu quase namorado fez algo parecido; foi gentil com ela e depois exigiu um “agradecimento”: um beijo. Depois de várias pistas, foi ali que ela descobriu a sem-vergonhice dele.
Por um momento, temeu profundamente que Johann fosse igual. E o motivo para esse temor ela ignoraria até poder meditar no assunto sozinha.
— Ah, vou ter que confessar pessoalmente? — ela perguntou, exprimindo um sorriso receoso. — Que vergonha, Johann! Eu te fiz companhia nesse Natal, poderia ter me livrado dessa!
Ele não demonstrou sua leve decepção com a aparente lentidão dela. A razão para “obrigá-la” a falar com seu pastor era, na verdade, levá-la para a igreja dele e poder passar mais tempo com ela. Em um segundo, Johann se questionou se não esteve vendo coisas onde não existiam, mas se recompôs internamente.
