Nova Bota, São Paulo. Fevereiro de 2024.
Maíra borrifou um pouco da fragrância de pêssego sobre o pescoço, pulsos e curva do braço. Tinha ganhado o perfume como presente de aniversário e ainda se questionava como Johann poderia ter prestado tanta atenção no cheiro do antigo perfume dela. O homem parecia cada vez mais disposto a surpreendê-la.
E talvez Maíra estivesse completa e totalmente apaixonada por Johann Dodotti.
— Hum — ela murmurou, sorrindo sozinha. — Apaixonada é pouco.
O interfone tocou e o porteiro avisou que quem ela esperava chegou. Maíra desceu até o estacionamento e ficou feliz ao ver a BMW cinza ao invés da Mercedes. Chamaria menos atenção.
— Boa tarde! — cumprimentou, contente. Johann fechou a porta do acompanhante depois dela entrar e deu a volta no carro para voltar ao volante. — Por que tinha tanta urgência em sairmos hoje? Quer aproveitar o fim do Festival da Fruta?
— Também — ele respondeu, manobrando o carro. — Minha mãe passou mais cedo na Túlio e disse que a decoração está bonita. Pensei que poderíamos aproveitar e passear um pouco, já que mal tenho te visto nos últimos dias.
— Ah, estou numa correria só! — Ela descansou a cabeça no encosto do banco. — Mas graças a Deus por isso, fechamos mais vendas do que o normal. Seu pai ficou orgulhoso de mim. — Sorriu, arteira.
Ele riu.
— Você virou a preferida dele, Abreu. Deveria se envergonhar por roubá-lo de mim.
Maíra riu alto. Os dois engataram na conversa até chegarem ao centro de Nova Bota e estacionar o mais próximo possível de uma das avenidas principais da cidade, a Túlio Danvor.
— Você sabia que, quando Túlio foi registrar o nome da avenida, o cara do cartório não aceitou que ele colocasse o nome da esposa? Apesar disso me indignar, o que me deixa ainda mais irritada é o Túlio ter sido um frouxo. Só existia os Rässmin e os Danvor na cidade inteira, ele poderia ter demitido o cara do cartório e contratado outro menos machista.
— Tem razão — Johann concordou. — Foi o que Raniel Rässmin fez, não é? Exigiu que registrassem o nome da esposa dele, uma brasileira ainda — referiu-se à Ana Paula Rässmin. — Por isso eu me identifico mais com os Rässmin.
Os dois riram. A rixa entre as duas famílias mais tradicionais de Nova Bota era motivo de muita brincadeira na cidade.
Johann e Maíra caminharam pela Túlio, admirando a decoração colorida da avenida de hexágonos de pedra. Haviam várias bancadas vendendo frutas da época: ameixas, pêssegos, abacates, peras, uvas... Todas bonitas e exalando um cheiro delicioso.
No entanto, Johann não comprou nada. Maíra o seguia em silêncio, curiosa com a postura dele. Sempre que ficava mais sério, seus pensamentos estavam ocupados por algo importante. Ela queria saber o que era.
Eles se sentaram na praça principal da cidade. Foi ali que comeram um cachorro-quente Danvor e Maíra abriu seu coração para Johann. Ali algo lindo começou a ser construído entre os dois.
Já entendi! — o coração dela gritou para sua mente ouvir. No entanto, se obrigou a não abrir a boca.
— Você viajaria para Järmir ou Auvoro primeiro?
— Järmir. Eles tem pontos turísticos lindos e eu adoraria pisar num país que ainda é monárquico — ela respondeu.
— Realmente, os pontos turísticos são lindos. Você adoraria uma visita às ruínas do castelo da capital — ele falou com um sorriso.
— Imagino que sim — concordou.
Johann ficou alguns minutos em silêncio e Maíra se esforçou ainda mais para esperar mais. O homem virou o corpo para ela e procurou por sua mão. Ele a segurou com as suas.
— Eu tenho certeza, Maíra — iniciou. — Na verdade, tenho certeza desde o Natal, mas queria que você se acostumasse com a ideia. Você é a mulher da minha vida, foi por você que eu esperei. Eu te amo.
— Eu também te amo — ela respondeu, aliviada por aquele momento ter chegado. Tocou o rosto dele e o acariciou.
Johann beijou a palma da mão dela e buscou algo em seu bolso. Quando achou, se ajoelhou à frente da mulher com a caixinha de veludo aberta, revelando o anel de noivado. A pedrinha rosa se destacava no dourado.
— Você quer se casar comigo, Maíra Abreu?
Ela sorriu, um tanto emocionada, mas engoliu em seco e virou a cabeça para o lado, pronta para fazer um charme.
— Não sei, só te conheço a dois meses — disse.
Voltou a olhar para ele e o encontrou com as sobrancelhas franzidas, confuso.
— Os dois melhores meses da minha vida — ele respondeu. — Não quer noivar agora?
Ela riu, deixando cair uma lágrima. Ele entendeu que ela estava brincando e soltou os ombros tensos.
— Que susto, Maíra.
— Me desculpa, só achei que um pouco de insegurança faria bem a um homem sempre tão seguro — disse, chorosa. — É claro que eu quero me casar com você.
Ele sorriu, encaixou o anel sobre o anelar direito dela e beijou o local para depois voltar ao banco.
— No próximo Natal, se estivermos debaixo do bendito do visco de novo, seremos marido e mulher — disse, carinhoso.
Maíra sorriu.
— Acho que me apaixonei por você ali, sabia?
— Só ali? E eu caidinho por você há um tempão — ele reclamou, fazendo-a rir.
Johann deixou um beijo na testa de sua amada e passou o braço pelos ombros dela, aconchegando-a perto de si.
Maíra suspirou, inundada pelo perfume masculino. Seu coração estava em festa, grato a Deus por tudo o que Ele fez por ela.
Maíra continuaria sendo luz para seus familiares, sem medo da reprimenda, podendo agora construir a sua própria família sob os princípios e valores cristãos. Seria um prazer ter Johann Dodotti ao seu lado para sempre.
No final, Deus transformou uma data imperfeita num dia inesquecível. Esse é o poder dEle.
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A Data Imperfeita
RomanceÀs dez horas da noite da véspera de Natal, é presumível que todos queiram estar com suas famílias para cear à meia-noite. Por isso, Johann se surpreende ao ver Maíra Abreu trabalhando na imobiliária. Apesar de ser filho do dono, Johann é novo na emp...