/31 - Corra

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A luz entrando pela janela foi o despertador do garoto que ainda sentia o reflexo da dor dentro do peito, abre os olhos lentamente, respira fundo e passa a mão pela cama, não encontra o celular, lembra que jogou no tapete, isso não é importante nesse momento, vira de bruços e grita mais uma vez com o travesseiro, isso já estava se tornando um costume

- Você é um idiota Leng... ele jamais iria te escolher!

Leng suspira fundo e se levanta da cama, ainda veste o mesmo roupão que usou pós o banho da noite anterior, o seu mundo parecia sem cor naquela manhã, o relógio na parede marcavam 9am, ainda estava bem cedo, dormiu pouco, mas sem nenhum pesadelo dessa vez, escuta o celular tocando, balança a cabeça em negativa imaginando quem poderia ser, não tem compromisso hoje, na próxima semana era o evento esportivo da empresa, estava descansando para estar preparado para o grande dia

- Leng, seja firme!

O garoto repete essa frase inúmeras vezes enquanto caminha de volta ao quarto para buscar o celular, se abaixa e fecha os olhos prendendo o ar, não pode negar que sentiu o coração disparar quando viu o nome da tela, deixa tocar até desligar

📞 25 chamadas perdidas

- Ele só pode estar ficando louco!

Não tem nenhuma mensagem, somente as ligações, fica olhando o celular na mão, em seu íntimo pede para não tocar novamente, mas o coração implora e o pedido é atendido

- Oi Ohm... diga!

Leng não espera o outro dizer nada, tem pressa

- Eu não sabia que dormir sentado poderia fazer doer tanto as minhas costas...

Leng franze o cenho, não entende o que Ohm quis dizer com isso

- Ohm... se não tem nada a dizer, eu vou....

- Leng, estou te ligando desde as 5am... você tem um sono pesado!

- Ohm...

- Você pode por favor abrir a porta pra mim? Está um pouco frio aqui fora...

Abrir? Porta? Frio?

Leng arregala os olhos e corre em direção a porta principal do apartamento, o olho mágico mostra dois olhos pequenos com olheiras ansiosos com o celular no rosto

- Alô! Leng... você está aí?

Leng sente a respiração ficar cada vez mais pesada, leva a mão ao coração, está quase saindo pela sua boca, gira a chave e abre a porta lentamente, a visão de um garoto de olhos pequenos e ansiosos, com um celular apoiado no ouvido tiram os seus pés de órbita

- Leng... me desculpe!

Ohm abaixa o olhar, sente receio da reação do outro, medo da rejeição, não pode perder Leng, não quer perder Leng de forma alguma

- Ohm...

Leng está paralizado, nunca imaginou que Ohm iria até o seu apartamento, muito menos que ele...

- A quanto tempo está aqui?

- Quatro horas!

- Por que não me chamou?

- Eu te liguei!

Ohm mostra o celular e sorri tímido

- Mas você não atendeu nenhuma vez sequer...

- Bem... eu estava dormindo...

Leng balança a cabeça

- Porque não voltou pra casa e voltava mais tarde?

- Eu queria te ver Leng!

Leng sente as pernas vacilarem e o coração palpitar

- Ohm...

- Eu posso entrar?

Ohm passa as mãos pelos braços, demonstrando que sente frio, Leng abre espaço pedindo ao outro que entre o mais rápido possível

- Eu estava com saudades de você!

Ohm está de cabeça baixa, quería abraçar Leng, mas ainda sente receio, sabe o quanto pode ter machucado o garoto

- Bem... eu achei que estava ocupado cuidado de...

- Não vamos falar sobre isso, sim?

Ohm morde os lábios e se lembra de como teve que ir embora da casa de Nanon assim que o mesmo adormeceu, a irmã dele chegou tão rápido que impressionou até mesmo Ohm que contou por cima o que estava acontecendo, não queria prolongar o assunto, recebeu alguns pedidos de desculpas por parte da garota, se despediu e logo saiu em direção ao apartamento de Leng, sentia o peito queimando enquanto corria com o vento gelado da madrugada  invadindo seus pulmões, não parou pra respirar um minuto, nunca pensou que eles moravam assim tão longe, correu o mais rápido que pode, correu no ritmo de seu coração que ansiava ver o rosto de Leng, correu sorrindo com a possibilidade de abraçar o garoto novamente, e tal qual foi sua decepção quando chegou lá e não conseguiu contato com o motivo de sua corrida matinal, teve sorte que o porteiro de plantão o reconheceu e deixou que subisse até o apartamento, o que não serviu de muita coisa já que as tentativas de bater na porta falharam assim como as ligações não atendidas, acabou sentando com as costas apoiadas na parede, levou a mão ao olhos e cochilou ali mesmo, não demorou mais de duas horas para despertar e volta a saga de tentar acordar Leng, não bateu muito mais vezes na porta, não queria chamar atenção, então tudo foi ficando cada vez mais complicado, até ouviu barulhos vindo de dentro e ligar mais uma vez, sente o coração despedaçar quando não é atendido, até ameaça ir embora, mas o coração grita outra coisa, se levanta e fica diante a porta tentando pela última
vez contactar o amado

- Você pode me perdoar Leng?

Os olhos pequenos estão ainda menores e implorando por desculpas, Leng não responde

- Eu te prometo que nunca mais te deixo por nada e nem ninguém...

Leng não desvia o olhar, respira profundamente

- Não faça promessas que sabe não ser capaz de cumprir!

Essas palavras saem em um tom mais ríspido que o garoto queria demonstrar

- Bom... eu...

Ohm levanta a cabeça, puxa o ar com força, as mãos bagunçando os cabelos demonstram seu nervosismo

- Ohm... não quero te irritar ou parecer ingrato por ter vindo até aqui e dormido do lado de fora, é só que...

Leng da uma pausa e Ohm olha diretamente em seus olhos

- Nós sabemos que toda hora que ele precisar, você não pensará duas vezes e correrá em sua salvação...

- Eu corri por você Leng! Eu corri pra vim te ver...

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