Back Home.
Não sei dizer o que sinto, nem o que não sinto. Eu o perdi, e tá tudo tão ruim.
No dia seguinte a sua morte eu saí sem rumo, corri tanto que cheguei perto do muro de quando cheguei. Eu chorei, e chorei. Parecia que não tinha mais nada o que fazer, além de me lamentar.
“Estou morto, estou ferrado, não tem o que fazer é vida ou morte” – são todos os únicos pensamentos do momento.
Quando já havia se passados alguns dias, me encontrei com Ártemis. Perto de um galpão pequeno com um lago – se aquilo pode ser chamado de lago, eu já não sei, mas era uma média extensão de água -, Ártemis estava feliz conversando com algumas pessoas envolta de uma fogueira semi-apagada, com alguns pedaços de carne, que acredito que sejam de animais, o que me surpreendeu bastante na hora.
Árthemis me avistou e super feliz veio me contar novidades sobre as coisas, mas claro, me contou do jeito dela. Sarcástica, irônica e meio rude, mas doce e sempre com um olhar sedutor que enxerga além da sua alma. Ela é a perdição, até mesmo quando abre a boca para falar de guerras e possíveis mortes por razões que eu não me dei o trabalho de ouvir.
Quando finalmente calou a boca consegui contar a ela o que aconteceu, ela chorou, se lamentou e depois sorriu. A morena alegou que era o melhor para ele, e até mesmo para todos nós. Fiquei em choque, não entendia como ela poderia sorrir numa situação dessas. Mas entendo que cada um reage de uma forma, mesmo que seja de uma forma extremamente estranha.
Nesse exato momento estou de frente ao galpão onde Coelho e sua “família” vivem, eu não consigo suportar a ideia de entrar aqui sem Coelho.
“Como irei explicar que ele morreu para suas irmãs e o chefe King?” - não sei como eles vão reagir, mas espero que ainda deixe-me viver por aqui, até eu achar um jeito de sair daqui.
Entro pela grande porta de aço, que é duas vezes maior que eu. Um barulho irritante preenche meus ouvidos e sei que todos que estão lá conseguiram me ouvir.
— Oi, tem alguém aqui? – ninguém responde e infelizmente não consigo ver nada, pois a luz do galpão não está funcionando.
Dou alguns passos até finalmente está dentro da primeira área do galpão, onde sempre eram as refeições, as reuniões e até mesmo os encontros que tinha com Coelho para irmos pros jogos.
Tudo aqui me fara lembrar dele. Se vai ser fácil viver no mesmo lugar que sempre vivíamos, eu já não sei, mas espero me curar dessa dor, assim como me curei quando minha nonna faleceu.
Espero que esse sentimento ruim que vive dentro de mim vá embora.
Mais uma vez chamo, mas não obtenho nenhuma resposta. Acredito que todos estejam jogando ou estão fora por motivos particulares.
Sigo até meu “quarto” e lá me deito, fecho meus olhos, mas todas as tentativas são ocupadas pela imagem de Coelho em meus braços dizendo as coisas mais bonitas e gentis que alguém poderia me dizer. É terrível pensar que meu melhor amigo se foi.
Minha cabeça é tomada por sentimentos ruins e a única coisa que consigo pensar é em como eu gostaria de morrer, como posso suportar a morte de alguém querido e a situação que vou viver? Jogar para sobreviver, comer carne humana, guerrilhar por tolices que nem são minhas? Não era assim que o meu pequeno eu planejou.
Só se passaram poucas horas desde que eu cheguei, mas estou preocupado com o fato de ninguém ter chegado.
Olho pelo ao redor procurando algo que eu possa fazer, e acabou avistando um caderno e uma canetinhas. Eram de Coelho... ele sempre deixava suas coisas espalhadas por todo canto sem pensar no quanto isso atrapalhava os outros.
Pego o caderno e começo a olhar página por página. Havia muitos desenhos, e a maioria eram meus... Coelho é um péssimo desenhista, mas eu conseguia enxergar os traços que eram exatamente como o meu rosto – mesmo que nos desenhos eu pareça um pouco mais velho e com um rosto um pouco chupando, talvez seja o fato de que eu não como direito a dias e nem durmo.
Havia uma folha sem nenhum rabisco de Coelho. Tomei coragem para escrever algo, algo que estava engasgado na garganta, mesmo que fosse difícil e que a cada palavra caia uma lágrima minha, eu fiz. Era uma carta para Coelho, mesmo que ele nunca a leia, estava lá, a coisa mais dolorosa que já escrevi em toda minha vida.
Me deitei novamente, só que dessa vez acabado e com nenhuma lágrima descendo em meu rosto. Estou tão desidratado que nem parece que estou realmente chorando.
“iremos nos encontrar de novo Coelho” – foi a última coisa que pensei, antes de dormir de vez.
Me sinto extremamente incomodado com o jeito que estou. Não sinto como se estivesse no colchão e sim numa cadeira.
“Eu reconheço essa sensação” – abro meus olhos e vejo que estou preso a uma cadeira na entrada do galpão. “ De novo não, não aguento mais esse inferno” – grito mentalmente para que ninguém possa ouvir.
— Alguém está aí? Por favor, podemos conversar senhor King? Juro que dessa vez vou ser útil, prestativo, qualquer coisa que quiser, mas antes temos que conversar, tenho algo importante para te contar. – não era como eu esperava contar a “família” de Coelho que ele está morto, mas é pra ser desse jeito que seja
— Aconteceu algumas coisas durante meu último jogo com Coelho... Por favor senhor King as cordas estão me machucando – meus pulsos estavam extremamente presos e toda vez que me mexia só piorava.
— Estávamos num jogo perigos, e quando estava no fim, seguimos um caminho e ele... ele... ele morreu para salvar minha vida. Me pediu para que voltasse para cá e vivesse por ele. – Me mexo novamente e sinto que minha pela está sendo rasgada a cada tentativa falha de me libertar das cordas grossas e amarradas fortemente aos meus pulsos.
Ao olhar para todos os lados em pânico vejo um senhor King me olhando com um olhar assustador e faminto. Eu não entendi o porque ele andava lentamente em minha direção. Seu semblante era indecifrável como sempre, mas seus olhos diziam mais do que tudo.
“Hoje serei devorado brutalmente no galpão que dormir por dias e lutei para poder ter um tempo de moradia” – Me mexo a cada passo que King faz, meus pulsos começaram a sangrar e eu estou surtando, não consigo gritar, não que há alguma coisa me impedindo, mas minha voz simplesmente não saí.
Seus lábios se movem falando algo que não consigo escutar, mas é fácil de decifrar pela forma que seus lábios se movem.
“Você está morto” – não sei se foi minha imaginação que inventou, entretanto eu tenho certeza de que de hoje, eu não passo.
Chefe King pega em minhas bochechas fazendo com que eu o olhasse no fundo de seus olhos castanhos escuros, cheios de fome. É o meu fim, ou não, pois de repente ele começou a desamarrar as cordas, porém não era para me libertar e sim para me forçar a andar até um dos aposentos no qual eu nunca tinha ido antes.
Era o lugar mais bizarro que entrei em toda a minha vida. Havia diversos métodos de tortura, mas o que mais me chamou atenção foi a prancha giratória, na qual é usada em shows de circo para arremessar facas. Falando nelas, lá estavam elas, todas afiadas e bem expostas na mesa para me causar pavor – e por sinal estava funcionando, eu estava extremamente apavorado e relutante para andar, mas King me puxou até a prancha giratória e sem falar nada me prendeu, mesmo com todos os meus movimentos bruscos e as tentativas de morde-lo.
“É o meu fim, é o meu fim, é o meu fim!!!!” – não que eu me importasse, mas eu não queria ser torturado antes de morrer, queria algo mais humilde.
— Sā, sutātodesu yo, shokumotsu – disse ele, e eu não entendi nada, além do meu apelido idiota. – Sorry, I forgot you don’t speak Japanese. – King consegue me torturar e humilhar em inúmeras línguas possíveis, é inacreditável.
Após essa palinha de humilhação, ele se virou e pegou algumas facas afiadas e começou a me ameaçar com o olhar.
King era assim mesmo, não era necessário quaisquer palavras apenas olhares para saber o que vinha a seguir, ele não é o homem mais legível do mundo, entretanto seu olhar é muito revelador.
Sem que eu percebesse, ele estava na minha frente tirando meus sapatos amarrotados e sujos de lama.
— Eiiii, o que.... – e novamente minha boca estava cheia de meias sujas e fedorentas. King é um homem nada piedoso.
A meia foi a coisa mais tranquila que ele fez comigo, logo em seguida desse acontecimento nojento começa o que chamo de inferno na terra.
Com a lâminas da faca, King retirou minhas unhas uma por uma. Meus gritos eram abafados pela meia velha e suja. As unhas retiradas vieram com alguns pedaços de carne e muitíssimo sangue, entretanto, king estava com o maior sorriso do mundo engolindo-as uma por uma na minha frente. Eu não sabia o que queria fazer, vomitar ou acabar com a minha própria vida com uma das lâminas que estavam ali.
A tortura não acabava, as unhas foram só o começo. King me olhou e deu um sorriso medonho que eu sonharia por anos.
— É a hora das aranha, small meal. – Eu tenho pavor de aranhas, só de ver ele segurando um pote cheia delas me deixou agoniado.
Tento me comunicar, porém saí apenas pequenos gemidos de dor, pois King teve a brilhante ideia de prender prendedores onde eram as unhas.
“eu simplesmente não consigo” – digo a mim mesmo, enquanto vejo King colocar aranhas em minhas roupas íntimas.
— Sabia que naquele saco contém o primeiro corpo que você viu naquele dia, small meal ? – eu simplesmente demorei para entender que era a mulher extremamente exposta e aberta na estrada do galpão. – Ela está com um cheiro tão ruim, já deve esta podre e eu já esfolei ela todinha, mas se quiser ser libertado terá que provar que é um de nós, que está do nosso lado na guerra! – eu não o entendia, meus dedos estavam inchando cada vez mais e eu não sabia de que guerra ele estava se referindo.
— Dessa vez o engraçadinho do Coelho não está aqui para te defender, você é meu Shokomutso, todinho meu. E se quer sobreviver nesse inferno é bom aprender de vez como se vive aqui. Anjos não sobrevivem ao inferno, muito menos demônios no céu. – King me quer, e quer me testar com algo que já fiz antes.
“Eu quero morrer de outra forma” – balanço a cabeça e ele resolve tirar minhas meias da boca.
— Eu faço o que você quiser só me solta. – implorei mentalmente para que realmente acontecesse algo de bom, entretanto.
— Coma-a como se fosse a sua última refeição. Faça a carne dela parecer a carne mais desejada. Quero ver.
Sem nenhuma outra alternativa para conseguir conquistar sua confiança, eu digo que sim.
King me solta, mas me prende com outra corda no pescoço o que me faz me sentir humilhado, pois me pareço com um cachorro prestes a se alimentar.
Minha pele está repleta de sangue e por incrível que pareça minha boca também, sinceramente o gosto é mais nojento do que realmente parece. Está podre, ela está quase no fim de sua decomposição.
Seus olhos me seguiam de um jeito estranho, ele estava fissurado pelo que via. Provavelmente ele tinha um desses fetiches nojentos e doentes. King era o homem mais podre que conheci em toda minha vida.
A carne podre ficava cada vez pior, ainda mais quando se sentia cheiro.
Não consegui mais mastigar, minha boca estava cheia e eu estava prestes a vomitar, quando King me lança uma faca a poucos sentimentos do meu rosto.
— Não me faça ter que enfiar goela a baixo.
Eu mastiguei e engoli, mastiguei e engoli, mastiguei e engoli. Até meu estômago se encher.
— Good boy. – ele se levanta e me puxa junto.
— Vamos, agora está na hora de me dizer a verdade.
Quando ele me amarrou na cadeira não consegui deixar de perceber que alguém estava nos observando.
— SOCORRO – gritei numa tentativa de me salvar, mas fracassei e recebi quatro tapas fortes no meu rosto.
— Tenta isso de novo e o próximo a está bem ali no chão será você! – ele apontou para a garota morta, que agora estava em pedaço e totalmente aberta. Seu odor era extremamente pior do que antes.
Chefe King não teve piedade, cada vez que me perguntava o que havia acontecido com Coelho, eu lhe contava o real ocorrido, mas ele me batia ou cortava alguma parte das minha pernas, e dizia que eu estava mentindo.
“Livre-me desse sofrimento senhor, estou pronto para o fim, mas que não seja aqui, desse jeito” – É incrível como até ateus iram na hora da de suas mortes. Ninguém de fato que morrer desse jeito, medíocre e doloroso.
Eu me sinto inchado e dolorido, as aranhas me morderam e provavelmente estou sofrendo os efeitos dos venenos. Meu sangue não para de lingar, principalmente de meus dedos e pernas. Não dou conta de todo sofrimento, e acabo desmaiando.
De repente estou ao ar livre, estou no lugar favorito de Coelho. “Será que finalmente morri? Será que aqui é o paraíso onde irei encontrar meu amigo querido?” – Sem respostas me levanto, mas fracasso, meu corpo ainda dói.
— Hi, don’t try so hard. You are very hurt. I think you’d better stay here while things are bad. My father is no longer around, the war has started, I have to go. I was fine Shoko! – Olá, não se esforce tanto. Você está muito machucado. Acho que é melhor você ficar aqui enquanto as coisas vão mal. Meu pai não está mais por perto, a guerra começou, tenho que ir. Fique bem, Shoko!
Era Lop, a irmã mais nova de Coelho. A que dormiu comigo no primeiro dia. Lop é idêntica a Coelho...
— Guerra? – pergunto mais não obtenho uma resposta, pois a platinada já havia ido embora.
“Chegou a hora” – me movo um pouco para ver o por do sol. É tão bonito que quase não consigo desviar o olhar do céu rosado, com toque de laranja bem no fundo.
Pensei que iria cumprir minha promessa, porém se eu cumprir morrerei torturado. Eu não sou Coelho, não consigo suportar tudo que acontece aqui como ele, e sem ele. Não há saida, não há quem cuide de mim, e eu não sou nada. Posso fingir ou tentar, mas nunca serei o que preciso para sobreviver, o que me faz pensar que a única saída é a morte.
“Por momentos assim que eu prezo pela vida que tenho, por mais difícil que ela seja. Eu amo viver, mas, no fundo queria que tudo fosse diferente...” – lembro-me de está exatamente aqui com Coelho, e ouvi seus sentimentos sobre a vida. Posso dizer que foi uma das coisas mais linda que ouvi, Coelho sempre foi tão profundo, mas gostava de parecer raso, ou não dizer nada que pensava, pelo menos para os outros porque para mim ele era tão profundo.
Tento me arrastar novamente, e a cada vez que me arrasto, meus braços e pernas doem. Meus dedos estavam extremamente inchados e doloridos e meu corpo estava cada vez mais pálido e dolorido pelas mordidas. Pensei que as aranhas fossem venenosas, porém se fossem agora eu estaria morto.
Consigo subir na sacada, a vista é ainda mais bela aqui de cima. Finalmente me ponho de pé, com dificuldade. – esse é finalmente o a realização do que queria desde o princípio.
— Eu quero ir para casa.
Do fim eu não temo, não depois de tudo que passei. Sou mais forte que qualquer um, mas não dá. O fim estava mais próximo do que eu imagino, prefiro acabar com o meu próprio sofrimento ao viver aqui e sofrer pela eternidade.
Olho para baixo e dou meu último passo. Estou me sentindo mais leve, entretanto meu corpo está levemente pesado, estou caindo.
“estou indo para casa, estou indo para casa, estou indo para casa, finalmente em cas...”
****
— FRANK?? ESTÁ ME OUVINDO NÃO DESISTE AMOR, ESTOU AQUI COM VOCÊ. ALGUÉM CHAMA A DOUTORA ARTEMÍS... POR FAVOR FRANK!!?!!
Os batimentos cardíacos estavam mais acelerados do que o comum, talvez estivesse tendo uma parada cardíaca, mas fazia tempo que o corpo de Frank deca sinais de vida.
Katheriny estava lá sentada quase todos os dias, após a escola, só esperando que seu namorado acordasse do coma.
Frank tinha um melhor amigo, ambos se conheciam desde criança, Zack era um rapaz problemático. Sua mãe havia morrido quando ele era pequeno, e suas irmãs mais novas foram praticamente criadas por ele, já que seu pai Mitsubishi caiu no mundo do alcoolismo, e quando voltava para casa descontava no filho.
Zack era problemático para quem não o conhecia, afinal todos achavam que todas as suas cicatrizes vinham de brigas, mas mesmo das brigas com seu pai. O únicos que conheciam esse lado cruel da vida de Zack, era Frank e Katheriny, que sempre tentavam ajuda ele de alguma forma. Mas não foi suficiente...
E um dia de repente Zack foi encontrado morte em seu quarto, pendurado em uma corda. Seu pescoço preso e seu corpo pálido e gelado pendurado. Quem o encontrou foi sua irmã mais nova.
Tudo foi tão de repente para todos. Menos para Mitsubishi que culpou e ameaçou Frank. Ele alegou que seu filho era maravilhoso e tudo era culpa de Frank, que havia influenciado o filho a se matar.
Sem piedade Mitsubishi criou mentiras sobre Frank, levando-o a corte. Os rumores se espalharam e as amassas começaram.
“Não sou tão forte assim, perdoe-me Zack” – Foi suas últimas palavras antes de enfiar uma faca em seu peito.
Frank tentou suicídio, entretanto acabou no hospital internado por meses.
Todos acharam que ele tentou se matar para não ter que pagar por seus pecados na terra. Não tiveram dó, nem quando ele estava prestes a morrer. As pessoas são impiedosas e merecem o karma que recebem.
— Consegue me ouvir? – Escuto uma voz que me parece familiar.
Quando abro meus olhos vejo uma mulher de cabelos pretos, rosto levemente redondo e olhos castanhos escuros marcantes. Eu a conheço, a conheço de algum lugar.
Tento me comunicar, mas falho miseravelmente. Sou levantando e vejo, finalmente a vejo.
— Kathe... – minha voz falha.
Era ela, o amor da minha vida. A mulher que procurei durante meses nos meus sonhos. A loira esta na minha frente, seus olhos verdes claros me fazem chorar.
— Katheriny é você? – finalmente consigo falar.
Um sorriso doce surge em seus lábios finos e eu entendo que é ela.
— Pensei que meu nome fosse Anjo. – ela sorri e deixa muitas lágrimas cairem sobre seu rosto. Eu finalmente a conheci pessoalmente.
Faço alguns exames e eu estou ansioso para poder receber alta. Sei que vai demorar, mas quero ir para casa. Seja lá aonde for, só pretendo está com Katheriny e já vou me sentir bem, e em casa.
— Tenho que fazer algumas perguntas para você Frank. – ela se senta na minha frente na cadeira onde antes se encontrava a Katheriny.
— Você se lembra de algo?
Para mim aquilo era uma pergunta idiota, como eu não me lembraria de todo o sofrimento que sofri durante meses. Estou aliviado de ter sido salvo.
Arrumo coragem e digo tudo que me lembro, e a cada palavra que eu falava, ela anotava e me olhava com os olhos marcantes e agora questionador.
Quando eu termino, percebo que estou chorando.
“Isso não aconteceu de verdade. Foi só, foi só...” – meus pensamentos são interrompidos por Temis.
— Creio que você saiba que tudo isso foi apenas um “sonho”. Você não foi salvo, não do jeito que pensa. Frank tenho que te contar, você estava em coma, tudo que lhe ocorreu foi uma criação da sua cabeça! Pode ter até aspectos da sua vida, mas nada disso aconteceu de verdade...
Tinha certeza de que o que contei a ela foi verdade, porém essa certeza me parece sumir aos poucos. Me sinto anormal, nada faz sentido no momento.
“Você é uma má influência, por sua culpa meu filho se matou! Você acha isso legal? Você acha que tem algum direito dentro da minha casa?” – lembro-me de Mitsubishi na casa dele... King....
Tudo está tão bagunçado em minha mente, mas com os flashbacks consigo me lembrar de coisas.
“Por momentos assim que eu prezo pela vida que tenho, por mais difícil que ela seja. Eu amo viver, mas, no fundo queria que tudo fosse diferente...” – Coelho, não, não Zack.
— Quem é Zack? – pergunto em voz alta e a morena se levanta.
— Acho que está na hora de você conversar com alguém que te conhece de verdade. – ela se aproxima da porta e vira novamente para mim. – Você está muito longe de receber alta, sinto muito. Por enquanto vou lhe encaminhar para um psicólogo e ver no que vai dá... Até mais tarde para os exames e fique bem!
Finalmente ela atravessa a porta.
— Ei, melhor a gente conversar. – Katheriny passa pela porta e me dá um sorriso meio tenso, ela estava nervosa e pensativa.
Sorrio para ela e ela vem em minha direção. Sentada em minha cama a loira me conta todas as coisas que de fato me aconteceram nesse ano.
Nesse exato momento estou entrando em um colapso mental, tudo faz sentido e nada faz sentido ao mesmo tempo.
“Eu nunca estive lá.” – eu sorrio, entre lágrimas.
Katheriny me puxou para um beijo e um abraço, eu estou em casa, ou no paraíso, qualquer lugar com ela era bom.
Minhas lembranças voltaram, e eu finalmente voltei para casa. Revi meus pais, meus velhos amigos e passei mais tempo com a minha namorada.
Eu tenho que passar duas vezes na semana no hospital para ver meu psicológico e as vezes fazer uns exames.
“Vai dá tudo certo” – digo enquanto arrumo minha bolsa.
Hoje vai ser mais um daqueles dias chatos e exaustivos na escola – é o meu primeiro dia depois de meses. Estou nervoso, mas nada que uma caneca de café, não ajude.
Enquanto procuro uma caneta na escrivaninha, acabo me deparando com um envelope.
“Para Coelho, ou seja lá quem for ler. Perdoe-me Katheriny” – com um certo receio, decido abrir o envelope. E ali estava, minha carta de despedida. Eu não consigo ler, não agora. Se por algum milagre eu conseguir ler isso, será quando eu conseguir olhar para trás e não pensar em como a vida me derrubou, em como lutei para está aqui!
E por mais que eu tente fugir, meu passado e minhas falsas lembranças sempre vão estar lá, me condenando. Acho que não preciso de mais uma coisa para me atormentar a noite, ou pelo menos tentar.
Decido pegar a carta e colocar na última gaveta da minha escrivaninha.
— Um dia, talvez, eu tome coragem e te leia, mas agora pretendo me curar.
Por fim escolho ficar na curiosidade e seguir a vida. É o melhor a se fazer, por motivos óbvios.
“Nem sempre existe casos que mudar é a única escolha. O melhor é aceitar.” – digo isso a mim, todos os dias antes de sair do quarto, eu não sei ao certo qual é o sentindo dessa frase, mas sei que ela me faz acreditar que sou suficiente e que tudo vai ficar bem.
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Cʜᴀɴɢᴇs.
Mystery / Thriller𝑫𝒊𝒗𝒆𝒓𝒔𝒂𝒔 𝒗𝒆𝒛𝒆𝒔 𝒐𝒑𝒕𝒂𝒎𝒐𝒔 𝒑𝒐𝒓 𝒖𝒎𝒂 𝒗𝒊𝒅𝒂 𝒇𝒂́𝒄𝒊𝒍 𝒆 𝒔𝒆𝒎 𝒈𝒓𝒂𝒄̧𝒂, 𝒎𝒂𝒔 𝒑𝒆𝒍𝒐 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒊𝒏𝒐 𝒐𝒖 𝒑𝒆𝒍𝒐 𝒂𝒄𝒂𝒔𝒐 𝒔𝒐𝒎𝒐𝒔 𝒆𝒎𝒑𝒖𝒓𝒓𝒂𝒅𝒐𝒔 𝒂 𝒗𝒊𝒗𝒆𝒏𝒄𝒊𝒂𝒓 𝒄𝒐𝒊𝒔𝒂𝒔 𝒊𝒏𝒊𝒎𝒂𝒈𝒊𝒏𝒂́𝒗𝒆𝒊...