Capítulo 8

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Distância.

 

  "Como vim parar aqui?" - eu já estava no meu quarto  e com outra roupa...
  Não me lembro de nada, apenas dos jogos e minha partida com o Coelho depois só me lembro dos borrões da luta dele com aquele cara que nem me lembro o nome.
    Olhei ao redor e não tinha ninguém. Então resolvi procurar por Coelho quero uma explicação do que aconteceu após ele me jogar para longe e lutar contra aquele grandalhão.
    Andei pelos corredores infinitos e finalmente achei o cômodo onde Coelho dorme.
    Ele não estava lá e nem no salão principal. Logo pensei que ele estaria no terraço onde conversamos constantemente.
   Subi os degraus com dificuldade, mas consegui.
   Coelho estava sentado no chão admirando o sol nascer, era uma vista de dá o fôlego.
  Cheguei mais perto e vi seu rosto e seu corpo todo machucado. Ele estava cheio de hematomas e cortes.
   Agora ele tinha um corte na boca, e um que dava da  testa a bochecha.
    Seus olhos estavam cheios de lágrimas, enquanto olhava o sol.
— Por momentos assim que eu prezo pela vida que tenho, por mais difícil que ela seja. Eu amo viver, mas, no fundo queria que tudo fosse diferente, mas com a mesma adrenalina que sinto aqui. Algum dia irei morar no mundo normal, ter uma vida normal e fazer tudo normal. É isso que eu quero! - Ele falava com tanta sinceridade que não daria para lhe contradizer sobre seus sentimentos.
    Sua voz estava calma. Fiquei com medo de perdê-lo, mas ele se levantou e me abraçou com força.
  Eu não disse nada, eu não fiz nada, eu simplesmente não senti nada. Era como se eu não quisesse aceitar tudo isso e, ao mesmo tempo não conseguiria negar que tudo isso era predestinado a me acontecer.
   Aconteceu e estou aqui abraçado com um cara que conheço a pouco tempo num lugar onde seus princípios são nojentos e canibais. Afinal o que eu poderia fazer, negar o abraço? Eu não sou assim.
    Quando ele me soltou olhou no fundo dos meus olhos e não disse nada. Então ficamos lá por um tempo.
    E quando o sol nasceu por inteiro, ele levantou e saiu andando. Me deixou lá sem entender nada do que anda acontecendo.
   Não fui atrás e nem procurei por ele pelo resto do dia. E pelo visto ele fez o mesmo.
   Enfim, estou mais confuso que ele.
  Passei tempo demais na minha cabeça e estou sendo atormentando por ela novamente. Olho-me nos cacos do espelho que está na minha parede e vejo um ser humano, afinal eu ainda sou isso não é?
  Além de um ser humano sou uma pessoa que está com uma péssima aparência. Vendo isso e me analisando, acabo me arrumado para nada, mas faço isso.
    Estava com muita fome e meio que já me sinto bem para andar por aí. Vou até o salão principal e vejo Coelho arrastando um saco preto. Eu já sei o que tem lá dentro, mas mesmo assim quando vejo ele abrir o saco me assusto.
— Essa é carne das boas. Sinto que deve ser O- que torna o sabor do sangue ótimo, assim como vinho. - eu não o compreendo bem, mas que assim seja.
    Eu ajudo ele, mesmo morrendo de nojo e medo.
    Não sei quanto tempo estou aqui, mas já vi e vivi demais para ter medo de um corpo morto.  Mesmo que eu ache isso errado, nojento e canibal, mas, no fundo sei que é a única forma de sobreviver por aqui.
    Coelho me contou que animais daqui são enormes, gigantes, canibais e até mesmo metade humano metade animal. Nunca são normais e confiáveis, além de ser raro achar um animal descente. Então só resta fazer o mesmo que eles; comer da própria espécie para sobreviver.
   Após separar às partes em que iria ser a nossa comida e a dos familiares de Coelho fomos a fogueira. Esquentamos o que iriamos infelizmente comer sem dizer nem um "piu", ele estava muito calado e eu não conseguia quebrar essa parede de gelo imposta por ele.
   Ele subiu novamente para o terraço e eu como um belo de um idiota que sou fui atrás.
  Tomei coragem e decidir conversar com ele, queria saber o que rolou ontem a noite, queria saber o que está havendo com ele e, porque está tão estranho comigo. Quando me pronunciei sobre tudo que queria saber, ele me contou, mas me contou somente o que aconteceu ontem a noite e me disse que sobre o que está acontecendo com ele eu não precisaria saber, não agora.
—" Podemos dizer que tive que lutar com aquele grandalhão. Peço desculpa por ter te jogado tão longe e com tanta brutalidade, eu só queria te proteger. Após  ganhar a luta fui até você e lhe trouxe até aqui. Foi só isso e sobre o que está havendo comigo, você não precisa saber, não agora." - Essas foi às palavras usadas por ele, foram simplesmente e comoventes de certa forma.
   Não respondi nada depois e ele não falou mais nada. Ficamos num eterno silêncio onde só conseguíamos olhar para o céu estrelado. Era uma noite tão bonita, era de tirar o fôlego. Acabei me perdendo enquanto admirava a lua e duas estrelas que ficava uma de um lado da lua e a outra do outro lado.
   Eu me comparei com a lua e a estrela, não sei como me sinto em questão a isso.
   Estava na hora de dá uma mordida nesse pedaço de pele, afinal era só eu que ainda não tinha comido. Coelho devorou o pratão antes de eu chegar no terraço.
   Encarei a comida com muito nojo e finalmente peguei na mão e mordi. Fingi a todo momento que era um pedaço delicioso de chocolate ou qualquer comida normal. Quando terminei senti aquele líquido subindo e descendo na minha garganta, esse líquido queimava minha goela. Mas eu segurei até que eu conseguir-se parar de me sentir enjoado.
— Logo se acostuma! - Coelho viu todo o meu drama e disse isso como se fosse fácil, mas eu não liguei. Porque ele me deu aquele sorriso, sabe? Aquele sorriso de "vai ficar tudo bem".
   Pego-me surpreso com esse meu pensamento. O que está havendo comigo?
 
             

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