Capítulo 12

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                      I Can’t Save Us

Coelho.
    Só mais um dia vivendo com o coração e a consciência pesada por amar alguém e não ser correspondido. Ainda mais quando não se sabe expressar essa sensação, esse amor, essa saudade de algo que nunca aconteceu, o amor é cruel de várias formas e eu sou a prova viva disso.
    É meio difícil às vezes olhar para Shoko, ele sempre tá sério e pensando em algo que eu nunca saberei o que é.  Só queria ser corajoso o suficiente para perguntar diretamente para ele, mas infelizmente não tenho essa coragem.
    Em algum momento deixei meus pensamentos de lado, e acabei percebendo que ele havia sumido.
— EIIII SHOKO, CADÊ VOCÊ? — grito desesperadamente com medo de ter o deixado em algum lugar ou ele ter sido pego.
     Procuro-o por um tempinho e logo o encontro sentado numa árvore,  pensando novamente.
“Eu reconheço essa árvore...” — penso imaginando de onde e logo volto a minha realidade para questiona-lo sobre sua imprudência.
— Porque não me respondeu?
— Desculpa. — ele diz e se levante seguindo em frente. Sem dizer mais nada sobre o porquê de ter sumido.
— Você não vem? — foi a última coisa que ouvi dele.
    Eu guio-o até o local. Como todos os outros jogos havia  várias pessoa e apenas um ponto de encontro. Entramos e seguimos os outros para dentro, até uma sala grande com um telão maior ainda.
    Observo o local vejo muitas pessoas desconhecidas e pessoas que já vi e outros jogos e  sobreviveram, eu prefiro ficar na minha e prestar atenção no enunciado que uma mulher de voz firme e aguda.
     “BEM VINDOS AO JOGO: INTERFECTIO.” — ela gritar e meus ouvidos ardem.
    “É a primeira vez que vejo um jogo em Latim...” — Penso e logo em seguida volto a ouvir a mulher de voz irritante.
     “Como disse Voltaire em uma de suas frases: “Os desconfiados desafiam a traição.”
   Para cada um essa frase terá significado. Então para ser mais direta vamos para como funciona o jogo:
— Todos terão armas para de defender e matar. O objetivo do jogo é matar o impostor, mas nesse jogo em especial, nem o impostor sabe quem é ele. Então vocês terão que se matar até descobrir quem é.
Basicamente um jogo de matança. Mas é claro que há regras e coisas a serem seguidas e elas são:
• Não pode matar com plateia, só se for seu cúmplice de matança;
• Não deve criar rebeliões de assassinato, pois deve haver 1 ganhador pelo menos.
• Não se sabe ao certo quantos ficarão vivos no final, muito menos se é apenas um impostor;
• Haverá dicas ao passar das horas;
• E o mais importante é que o jogo só durará 15 horas, se até então o impostor não ser morto. Iremos dizer quem são os possíveis assassinos, e  o resto são vocês que resolvem.
•Acho que é óbvio, mas vale ressaltar que vocês terão água, comida, lugar para descansar e utilizar o banheiro.
• A última informação é que após o impostor ser morto de aberto a saída de emergência, que graças a nós está ligada a outra sala. Ao entrar na sala será mostrado seus números e posições no ranking, além de mostrar que são os vendedores.
- O resto vocês já sabem.
Bom jogo a todos!!”
     Acabo não entendendo completamente o jogo, mas compreendo que ele me causará problemas. Existe muitas possibilidades de eu ou Shoko acabarmos morrendo.
— E se um de nós for o impostor? — questiono- o e ele rapidamente me respondeu:
— Eu sei que é idiota, mas já estamos participando do jogo, então você sabe a solução dos nossos problemas, Coelho. Mas por enquanto iremos nos juntar para sobreviver. – ele diz com tanta facilidade que teremos que nos matar se caso der tudo errado.
— Eu discordo, mas por enquanto seguiremos o plano. – eu não vou seguir plano, muito menos deixá-lo matar alguém.
    Sinto como uma mãe, mas como um amigo apaixonado que quer protegê-lo de tudo e todos. Sei bem que uma hora terei que deixar com que ele se vire, mas eu não vejo isso acontecendo agora, agora não quem sabe após anos de experiências.
   Todos ao nosso redor parece exatamente como a gente, preocupados, mas não ao ponto de surtar e matar todos. Talvez estejam planejando algo. Eu deveria fazer o mesmo, afinal não dá para saber ao certo quando vão começar a matar uns aos outros. 
    “Porque é tão difícil me manter focado em algo?” – antes de voltar a pensar no meu plano de matar perto do banheiro penso em conversar com Shoko que está analisando o que temos para comer.
— Olha só, temos bolinho de chocolate e café. Você já provou essas coisas?
— Só o bolinho, mas nunca comi café...
- Hahhahahahhaha – ao rir da minha resposta começo a me questionar o porque, e o que tem de tão engraçado a minha falta de variação para comida.
- Café não se come se toma Coelho. – ele me entrega uma xícara e despeja um líquido preto e cheiroso nela.
     Ele balança a cabeça e eu entendo que é para eu tomar, ou apenas experimentar. Faço o que pede e me emociono de tão gostoso e incrível é, como pode um líquido preto com uma aparência simples ser tão gostosa??
— Café definitivamente é meu líquido favorito!!
- Hahhahahahha, é o nosso com certeza! – ele se serve e ficamos lá aproveitando o maravilhoso líquido preto e cheiroso.
     “Por momentos assim que prezo pela vida que tenho” – essa é a minha frase que define todos os momentos da minha vida. Acho que não há nada no momento que me arrependa e espero que seja assim agora e sempre.
     *Cinco horas depois...*
— Como você não havia visto que tinha duas pessoas juntas Shokomotsu? Poderíamos ter morrido se eles fossem bons de verdade! Preste mais atenção!!!
— Desculpa – isso é tudo que ele sabe falar nesses últimos dias.
    Após limparmos nossas roupas decidimos voltar para onde estávamos antes.
     O galpão é gigante, então meio que não encontramos quase ninguém. Matamos apenas três pessoas e ainda não foi anunciado o fim do jogo.
   Quando o relógio mostrou que estávamos três horas por  aqui, recebemos informações sobre o impostor. E essas informações diziam que ele era: está utilizando apenas preto e tem um colega que não desconfia de nada.
    Existia muita pessoas de preto, principalmente eu. Isso me assustou e deve ter assustado Shoko também, mas ainda continuamos firmes com a ideia do café e da sobrevivência.
       *Quatro horas depois...*
— Já se passaram mais três horas, será que vão revelar outras informações sobre o assassino? – Shoko me pergunta sentado ao lado de outro corpo que infelizmente tive que matar.
— Não sei, mas provavelmente.
“ Meus queridos jogadores, sinto-lhes informar, mas ainda não foi a óbito o nosso impostor, então o jogo continuará pelas próximas seis horas.
    Agora lá vai à dica do assassino: ele está utilizando um sapato que se parece muito com os que os cowboys usam... Infelizmente só podemos dá essa charada, então até daqui a três horas galeria e continuem”
— Eu não aguento mais essas charadas idiotas, porque eles não dizem logo que é uma porcaria de uma bota. — eu me entristeci ao perceber que poderia muito bem ser eu, então acabei fazendo o que sempre faço. Transformo tristeza em raiva, uma das minhas piores qualidades...
— Calma Coelho, todas as questões vão ser assim, em formato de charada isso é para não deixar tão óbvio. – ele estava certo, mas eu sinto que sou eu. Não dá para me enganar quando sinto algo.
- Vamos comer outro bolinho para acalmar.
        *Três horas depois....*
— Você sabe que sou eu não é? – digo obviamente forçando com que ele entenda o que está acontecendo.
— Desculpa Coelho.... – ele diz me olhando com um semblante sem quaisquer, tipo de expressão.
     Eu em momento algum pensei que seria tão trágico o meu fim, ainda mais nas mãos de quem amo.
    Minha intuição nunca falha, mas dessa vez torci com todas as minhas forças para isso ser mentira. Queria acordar desse sonho que me parece um pesadelo. Se eu não me entrega vou morrer de qualquer maneira sendo caçado por várias outras pessoas.
     “Meus queridos jogadores, sinto-lhes dizer novamente mais o impostor ainda está entre vocês. A dica sobre o assassino é: cicatriz de Jason Momoa. Poucos vão conhecer esse homem das notícias, mas só para refrescar ele foi o autor do filme mais clamado de 2018.
    Após as próximas três horas irá ser revelado quem são os possíveis assassinos, então para não serem acusados é bom matarem-o logo.”
      O que foi revelado aqui mostrou todos os fatos para mim. Eu tenho essa cicatriz desde que eu me conheço por gente, estou totalmente de preto, estou acompanhado e estou com uma bota preta também. Se não sou eu, será quem?
— Você tem que me matar Shoko! — digo de boca para fora sem pensar e me arrependo.
— Você sabe que eu não irei fazer isso com você! Vamos pensar em algum outro plano que não te envolva. — Shokomotsu é um amor de pessoa, eu não o mereço.
    Não consigo pensar em nada nas próximas duas horas e meia, está quase na hora e sei que vou morrer, mas só consigo pensar o quão pouco tempo tive com Shoko e como será difícil ele sobreviver sem mim. Ele é bom, mas melhor comigo ao seu lado. Talvez, eu esteja subestimando.
— Café? — pego a xícara e vejo ele me servido.
— Não sabia que a minha última bebida teria um gosto amargo e delicioso... Talvez seja o karma da vida.
— Eu não acredito em Karma e nem que as coisas vão acabar assim. Vamos lutar com todas as nossas forças para sair daqui  vivos, seja você ou não vi impostor!
         *Três horas depois...*
“Meus queridos já se passaram às quinze horas exatas. E infelizmente o impostor não foi morto, então aqui vai os dois nomes, características que  vocês devem procurar:
- Coelho, bloco 6
- Jeremias, bloco 3
- Olívia, bloco 9
    Agora que sabem quem pode ser, vão à caça, mas é claro que há um tempo limite de uma hora. Então boa sorte para encontrá-los e mata-los!”
   “É o meu fim, e agora sei bem disso. Qual a possibilidade de todos eles terem uma cicatriz no tanto igual à minha? Sei que a possibilidade de terem as mesmas roupas, mas a cicatriz?” – sou tirado dos meus pensamentos quando Shoko colhe as coisas ao meu  redor e me puxa para fugirmos.
— Você não morre hoje, não na minha frente!
    Pegamos nossas coisas e começamos a andar com cuidado pelos corredores nos quais estavam vazios graças a nós que matamos muitas pessoas sem necessidade.... Tudo foi perda de tempo já que eu sou o impostor, me sinto um idiota em fazer tudo que estou prestes a fazer.
    “Não sou de fugir dos meus problemas, então, porque fazer isso agora?”
— Espero que você não pense que essa merda toda é justa.
— O que você está falando Coelho? Você não quer viver? Não quer sair desse mundo cruel e conhecer o mundo fora dessa prisão? – nem eu sei o que quero agora, nada faz sentido.

Shokomutsu.
     Não havíamos percebido, mas estávamos numa escala de um bloco para outro. E foi assim que escutaram a briga e foram ver quem era. Até que....
— *COELHO, FICA COMIGO, TÁ ME OUVINDO? Coelho, FICA COMIGO POR FAVOR! Eu não te peço mais nada, FICA COMIGO. Respira amigo, respira, vai ficar todo bem!* - meu coração estava a mil, não conseguia pensar em mais nada além do que estava na minha frente. Eu o abraçava com delicadeza, não queria o machucar mais.
    Meu melhor amigo havia levado uma facada no estômago, não tinha mais volta.
    Bati em seu rosto para ele continuar acordado, mas como ele é forte ele continua a me olhar fixamente com um olhar doce, algo que faz meu rosto se encher de lágrima.
     “Meus queridos jogadores, finalmente o jogo chegou ao fim o nosso impostor está abatido, logo irá ir a óbito, então podem ir à sala preparada para recebê-los.”
    Eu nem ligo para onde deveria está indo no momento minha preocupação é o meu melhor amigo no momento.
— Eii Shoko, pode... Me encostar na parede por... – antes de terminar a frase ele tosse sangue o que me faz disparar ainda mais a minha ansiedade me fazer chorar mais ainda.
— Não precisa dizer nada já sei.
— Não, eu preciso... Dizer algo sim. Deixa eu respirar um pouco e ter forças.- ele é tão forte quanto acho que é. Mas vê-lo nessa situação me deixa ainda mais triste.
    “Eu vou perder a única pessoa que me entende aqui e gostar sinceramente de mim.”
    Coelho dentre todas as pessoas que conheci na vida é o que mais merece viver a vida como merece, ele passou por coisas inexplicáveis e absurdas. Isso é uma droga de uma injustiça... Hoje é o dia em que mais me arrependo de está vivendo.
   “Deus se está me ouvindo me leva no lugar dele, ele merece mais que eu.” – nunca fui de orar, mas nesse momento minha necessidade, minha vontade, meu coração, meu tudo está pedindo por um milagre de vida.
— Agora eu vou falar e apenas eu. – eu fico em silêncio com o meu coração apertado de ansiedade.
— Em todo esse tempo que estive sozinho... Mas eu encontrei alguém que amei mais-que-tudo e esse alguém é você. Sei que talvez seja ridículo para você um... homem te amar, mas Shokomotsu, eu te amo e quero que viva, viva por mim e pela minha promessa de que iria sair daqui e conhecer o meu cantor favorito, que tomaríamos café numa praça e tudo que melhores amigos ou namorados fazem. Eu não me importo se não é recíproco... eu só achei que não queria morrer com essa coisa que se embola dentro do meu peito toda vez que penso em amor e você vem logo em seguida, eu peço desculpas por isso. Te amar não estava nos meus planos. – ele tosse e sai cada vez mais sangue de sua boca e agora pelo seu nariz...
    Sinceramente eu nunca havia percebido que ele gostava de mim, eu nem consigo pensar na reciprocidade no momento. Só quero que ele morra de sentindo bem e feliz, então decido beija-lo. O que é de certa forma idiotice, pois tenho quase certeza que não curto essas coisas...
    Não foi algo tão grandioso, mas muito significativo para ele.
— Sei que não é o que você esperava, um beijo antes da morte, espero que fique bem amigo.
    Ele já estava com os olhos fechados e com muito sangue ao seu redor. Era uma poça enorme e grudenta, eu não conseguia nem olhar. Infelizmente até mesmo minhas mãos estavam sujas. 
    Em momentos de surtos, começo a me limpar, o sangue não parece desgrudar das minhas mãos.
   “Ele me amava, eu deixei esperando por uma resposta?”
   Minhas mãos em minha visão ficava cada vez mais sujas e mais culpadas. A única coisa que consigo pensar é em como tudo é tão injusto, e como vou ficar daqui para frente.
   “Coelho nunca poderá ouvir o CD do The Weenkd...”- penso nisso e em todas as coisas que poderíamos fazer juntos.
      Meu melhor amigo se foi, quem me levará para casa e me defenderá?
     Caio no chão de joelhos e mais uma vez, mesmo não acreditando em Deus, eu oro, oro muito. Peço perdão e que Coelho viva melhor aonde quer que ele esteja.
    Primeira vez na vida que sinto o peso da perda de algo realmente importa para mim.

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