Você é a Razão

Uma soneca necessária

Quando chegaram, Alexia abriu a porta de seu quarto e foi só depois que elas entraram que Jenni soltou sua mão. Alexia perdeu a sensação familiar que a acalmava imediatamente. Ela ficou parada na porta, observando Jenni olhar ao redor da sala, com a testa franzida. O espaço de Alexia geralmente era imaculado, mas este quarto estava caótico. Roupas e sapatos estavam espalhados por toda parte, o que foi usado e o que estava limpo era impossível dizer.

Afastando-se de tudo isso, Jenni olhou para Alexia, que permanecia imóvel encostada na porta com o olhar repleto de vergonha. Ela tinha certeza de que Alexia não faria nenhum movimento sem sua permissão. Sem quebrar o contato visual, Jenni tirou o tênis, os encostou no canto com os próprios pés e caminhou em direção a Alexia, ela se agachou e gentilmente tirou os calçados dos pés da loira. Alexia sentia falta de cada pequeno detalhe em Jenni, do carinho que era sempre constante, do cuidado que a morena tinha com ela ao final de cada dia de treino, ela sentia falta do amor que transbordava nos gestos como os de agora.

Levantando-se, Jenni colocou as mãos nos ombros de Alexia.

- Você já tomou seus suplementos hoje? - Quando entrava em um espiral, muitas vezes ela se esquecia de tarefas diárias simples e Jenni sempre a lembrava. Alexia assentiu, Jenni acariciou os braços dela até segurar suas mãos.

- Isso é bom. Vamos tirar uma soneca, descansar um pouco, tenho certeza que você vai se sentir bem melhor.

- Não consigo dormir, Jen. - Alexia falou frustrada, Jenni estava sendo perfeita mais uma vez, mesmo sem ela merecer.

- Então vamos apenas deitar aqui juntas e ficar de olhos fechados um momento, conversando, relaxando.

- Jenni, eu... - Alexia suspirou, as palavras vacilaram, ela quebrou o contato visual e olhou atentamente para os pés.

- Eu sei que decidimos dar um passo para trás, mas também sei que você dorme melhor quando estou com você, querida. Somos só nós duas, e eu posso te oferecer isso aqui, nesse quarto, onde ninguém nos verá. - Jenni engoliu a bile que subiu em sua garganta ao se lembrar das palavras de Alexia durante o rompimento a um mês atrás.

- Deixe-me ficar aqui, Ale. Somos só você e eu.

Sem levantar a cabeça, Alexia assentiu. Jenni segurou o rosto da loira nas mãos, deu um beijo em sua testa e sussurrou 'obrigada' que Alexia respondeu com um sorriso triste.

Elas se deitaram uma ao lado da outra, suas mãos mal se tocando. Jenni rolou para o meio, colocando a mão sob a bochecha. Alexia estava olhando para o teto, com os olhos arregalados e a respiração lenta e uniforme. Jenni estendeu a mão, acariciando a lateral das costelas de Alexia até que a loira virou a cabeça e olhou para ela.

- Em que você está pensando? 

- Em nada.

- Você não precisa estar no controle o tempo todo, Ale. – A morena respondeu após um momento de silêncio.

Jenni se aproximou mais de Alexia, seus corpos a poucos centímetros um do outro, seu coração acelerando ao começar a sentir o calor da pele e o perfume que ela tanto amava que vinha do corpo da outra mulher.

- Feche os olhos. - Ela esperou até que Alexia obedecesse. Jenni se aproximou mais, de forma que suas cabeças começaram a dividir o mesmo travesseiro, ela passou o braço pela cintura de Alexia e a puxou para perto, até que seus corpos estivessem grudados um no outro, as pernas emaranhadas. Ela esfregou pequenos círculos nas costas de Alexia para fazê-la relaxar, Alexia envolveu Jenni pela cintura e sem perceber deixou sua mão dentro da camisa da morena, as unhas arranhando devagar um caminho curto na coluna da mulher mais velha, aquela era a posição que elas ficavam quando iam conversar antes de dormir, ambas estavam fazendo exatamente o que acalmava e desacelerava a outra, as duas estavam de olhos fechados mas podiam sentir que cada uma tinha um sorriso nos lábios.

- Você se lembra da viagem que fizemos ao Parque Ecológico de Tarifa, no ano passado? Passamos dias planejando isso, cada mínimo detalhe. Quando finalmente tivemos uma pausa no treinamento, estávamos tão cansadas que só vimos o interior do nosso chalé.

Ela viu o pequeno sorriso se transformar em um maior no rosto de Alexia.

- Eu estava tão animada para passar alguns dias fora com você, em um barco sob o sol tomando sangrias. Mas nós duas, naquela cama dormindo e ouvindo o mundo pela janela, sem nos preocuparmos com absolutamente nada, vendo o pôr do sol tomando vinho na banheira, foram as melhores férias pelas quais eu poderia ter orado, Jenni.

- Sim, eu também amei tudo daquela semana de férias, e pra melhorar, quando voltamos, nós duas marcamos cinco gols contra o Chelsea. Eu amo a nossa conexão. - Ela começou a esfregar círculos maiores nas costas de Alexia. - Então vamos ficar aqui, você e eu, nesta cama macia. Não há ninguém e nada além de nós duas aqui. - Disse a atacante, mesmo com o coração apertado.

Jenni continuou esfregando suas costas até ouvir Alexia soltar um pequeno ronco.

Olhando para baixo, ela viu Alexia  descansando e deu um sorriso, pelo menos naquele instante o dever estava cumprido. Jenni pressionou um leve beijo em sua testa e  tomando muito cuidado rolou de costas o mais gentilmente que pôde na tentativa de se levantar.

Alexia imediatamente sentiu a mudança e soltou um gemido baixinho enquanto rolava buscando o calor do corpo da outra mulher de volta, a loira se aconchegou no peito da morena, era fácil encontrar seu lugar favorito, onde ela sentia o cheiro do perfume de baunilha misturado com o cheiro do shampoo de Jenni preenchendo sua respiração, seu estado de sonolência ainda permitindo sentir os batimentos ritmados do coração que costumava bater por ela. Era exatamente isso que a acalmava em qualquer circunstância. 

Metade do corpo de Alexia estava por cima de Jenni, mas ela não se importava, segurar Alexia, senti-la se acalmar, sentir a conexão que sempre foi tão forte era tudo que Jenni precisava também.

Quando Alexia parou de se mover, Jenni deixou seus braços descansarem em torno dela, segurando-a suavemente no lugar. Deitando sua cabeça contra a de Alexia, ela deu um beijo no topo enquanto seu coração agradecia por aquele momento. Sentindo que seria vencida pela atmosfera tranquila que criaram, ela também deixou seus olhos se fecharem, um sorriso que poderia iluminar todo o hotel se formando em seus lábios.

Pelo menos durante o sono, elas podiam se permitir amar livremente.