Alexia estava no taxi voltando para casa, fazia uma semana desde aquela noite, 7 dias que uma parte de sua vida entrou em coma induzido junto com Jenni, 168 horas que seu corpo não conseguia dormir ou comer direito.
Treinar ou jogar estava completamente fora de questão.
Ela pediu uma licença de dez dias, mas a última coisa que ela pensava era em voltar aos campos.
Irene resolveu todas as pendências que Alexia não conseguiu, tanto no hospital quanto no clube.
Nada na sua vida estava normal.
Nada na vida de ninguém estava normal.
Sua mente relembrava os acontecimentos daquele dia constantemente.
Todos os pequenos detalhes de Jenni no treino, as brincadeiras dela com Mariona, as duas rindo enquanto faziam dupla do outro lado do campo.
Alexia lembrou do beijo que trocaram no vestiário e de como Jenni já não ficava tão surpresa com o gesto. Pura felicidade era o que existia em seu olhar.
Ela lembrou do sorriso que Jenni tinha nos lábios quando pousou o queixo em seu ombro pela última vez. Era o sorriso que Jenni só tinha para ela.
Alexia lembrou do último beijo que trocaram e ela ainda conseguia sentir o sabor e a textura dos lábios macios de Jenni nos seus.
Quando ela fechava os olhos, o cheiro suave do perfume que Jenni usou aquela noite ainda preenchia todos os seus sentidos.
Se ela pudesse voltar no tempo, jamais teria pedido para Jenni ir buscar os peixes. Elas comeriam qualquer coisa simples e passariam um tempo fazendo amor no sofá enquanto uma série qualquer passava na televisão.
Se ela soubesse, teria prolongado um pouco mais o tempo no chuveiro. E do chuveiro, ela levaria Jenni no colo, com as pernas envoltas em sua cintura direto para a cama aonde continuariam se amando, como já fizeram tantas vezes.
Se ela pudesse voltar a uma semana atrás, teria dado mais atenção aos sinais.
Se
Se
Se
Seus pensamentos estavam consumindo tudo que ainda existia dentro dela.
Alexia não era uma pessoa religiosa, mas passou a frequentar a capela do hospital nos últimos dias. Ela começou a rezar por uma única coisa: Que Jenni sobrevivesse.
Nada no mundo tinha o tamanho e o peso da culpa que fazia morada em seu coração.
Se ela não tivesse pedido pra Jenni sair naquela chuva, ela estaria aqui ao seu lado agora e não em uma cama de hospital com um tubo de oxigênio em sua boca, um acesso venoso no braço e mil fios saindo de seu corpo ligados a 4 monitores que forneciam relatórios instantâneos de seus sinais vitais.
Esses pensamentos só saíram de sua cabeça quando o motorista informou que haviam chegado ao seu endereço. Ela estava funcionando no modo automático.
Sua mãe buscou Marisol e Rafa no aeroporto na noite do acidente e Alexia fez questão que eles ficassem em sua casa. Então ela fez um esforço extra para tentar disfarçar um pouco a tristeza, pois sua sogra a recebia todos os dias com um sorriso no rosto, e o mínimo que ela podia fazer era retribuir um sorriso para uma mãe que estava com o coração em pedaços.
Hoje não foi diferente, quando Alexia abriu a porta do apartamento, ela foi recebida com um abraço demorado de Marisol.
Ela observou que a casa estava limpa e muito bem organizada, Alexia não queria que a sogra se preocupasse com nada disso. Marisol também não estava dormindo direito e não era justo que ela fizesse os serviços de casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Você é a Razão
RomanceUma concentração da seleção espanhola conturbada para Alexia a faz perceber que Jenni foi, é e sempre será a razão da sua felicidade, e por ela, Alexia enfrentaria tudo. Inspirado na música You Are The Reason de Calum Scott