Eu não vou me afastar

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- O que você está sentindo, Alexia?

A loira foi interrompida da confusão dos seus pensamentos pela voz calma do seu psicólogo. Doutor Juan Garcia, esse era o nome do homem gentil que estava sentado diante dela com uma agenda aberta e uma caneta na mão. Essa era a quarta consulta, talvez a quinta ou sexta. Do que importa? Ela mal consegue falar quando está diante dele. É como se as palavras simplesmente não saíssem de sua boca, e quando elas saíam vinham carregadas de uma grosseria que até Alexia se assustava.

Era horrível ter que conversar com uma pessoa estranha sobre o rumo perturbador que tomou a sua vida. Um estranho que não a conhece, não conhece sua família, não conhece Jenni.

Isso era algo que Alexia nunca pensou que teria que fazer. Nada do que a sua vida se transformou é algo que ela desejou experimentar. Ela sempre soube que coisas terríveis aconteciam o tempo todo, mas isso é uma coisa que ninguém está preparado para enfrentar.

Ela tentou se segurar em todos os fios de esperança que cultivou no seu coração até o dia que Jenni abriu os olhos, mas o que era para ser o motivo maior de felicidade se transformou na última porta fechada. Uma porta que afastou completamente as lembranças de quando a vida estava voltando a ser simples, normal e perfeita para elas.

Alexia nunca pensou que sentiria tanta dor, que Jenni lhe causaria uma agonia tão grande assim. E a pior parte é que nenhuma delas tinha culpa de nada daquilo que estava acontecendo.

Jenni nem sabia que Alexia estava sofrendo daquela forma. Ela pode ter percebido alguma coisa em cada uma das visitas de Alexia, mas toda vez que ela ia embora era como se uma borracha entrasse em ação na mente da morena e apagasse cada pequeno vestígio que Alexia deixou por ali.

Alexia sabia que Jenni nunca a machucaria intencionalmente, mas isso que existia dentro dela era pior do que qualquer dor que ela já experimentou, seu coração não tinha mais nenhum lugar intacto, tudo dentro dela estava quebrado e sem vida. Então ela a visitava, conversava com ela, respondia algumas perguntas e se sentia ainda mais quebrada.

- Você está chorando, Alexia. – O psicólogo entregou a ela um lenço de papel – No que você está pensando? O que está sentindo?

Alexia aceitou o lenço, ela nem percebeu que estava chorando.

- O que eu estou sentindo? Eu sinto que não consigo mais controlar nada, nem essas malditas lágrimas, nem o meu dia, nem a minha vida... nada.

- Eu entendo.

- Não entende não. Eu tenho vontade de fugir, de correr dessa cidade, da minha vida.. e nunca mais voltar. – Ela falou mais ríspida do que gostaria e desviou o olhar para as próprias mãos.

Essa era a primeira consulta que Alexia conseguiu falar como se sentia de verdade. Mesmo sem saber como colocar isso em palavras, o cenário em sua cabeça era esse, ela queria sumir e nunca mais voltar. Mas ela sabe que não pode fazer isso. É por isso que ela acha inútil estar numa sala falando coisas que ela sabe que não pode fazer. Mesmo que seja muito doloroso todos os dias, ela continua visitando Jenni, ela continua fazendo uma força descomunal para não desmoronar na frente da morena. Seu amor por Jenni a mantém no lugar que ela precisa estar, mesmo que ela não receba esse amor de volta.

- Ela nem sabe quem sou eu. – Alexia chorou – Ela nem sabe... Ela consegue lembrar de todo mundo, mas quando eu entro em seu quarto, ela não consegue se lembrar nem do meu nome. Isso está me matando um pouco a cada dia.

O psicólogo anotou alguma coisa em sua agenda.

- Você sabe o que ela me perguntou ontem?

- O que, Alexia? – Doutor Juan empurrou devagar a caixa de lenços para perto da loira.

Você é a RazãoOnde histórias criam vida. Descubra agora