Seu olhar sempre te entrega Jenni

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As duas equipes estavam no túnel lado a lado preparadas para entrar, concentração máxima estampada no rosto de cada uma das 22 jogadoras.

Irene era a primeira da fila, Jenni era a última, como de costume Alexia que estava na sua frente colocou a mão para trás e teve seu pedido atendido: Jenni segurou sua mão, deu um leve aperto, se aproximou e sussurrou em seu ouvido:

- Não se machuque, ok?

Alexia virou para ela, os dedos ainda entrelaçados.

- Você também não se machuque Jen, eu estarei sempre por perto.

O jogo contra França que deveria ser um amistoso parecia mais com uma guerra, as francesas estavam entrando muito forte, fazendo faltas muito duras. Elas já haviam derrubado Jenni três vezes, a camisa 10 da Espanha estava acostumada a receber marcação pesada, então as adversárias precisariam fazer mais se quisessem pará-la.

E elas fizeram: um carrinho por trás dentro da área, desleal, atingindo apenas as suas pernas, Jenni caiu no gramado com um grito de dor.

O coração de Alexia falhou uma batida ao ouvir o grito de Jenni, ela não foi capaz de escutar nem mesmo o apito da árbitra marcando o pênalti, ela correu até a morena e segurou a sua mão, mas tudo parecia acontecer em câmera lenta pra ela.

A equipe médica já se aproximava para avaliar a situação da espanhola.

- Hermoso, consegue ficar de pé ou prefere sair na maca? – Blanca, a fisioterapeuta da equipe perguntou enquanto jogava água e um spray para aliviar a dor.

- Sem maca, já vou levantar.

Alexia ajudou Jenni a levantar e apoiou com firmeza o corpo da companheira que foi mancando para a linha de fundo onde receberia os primeiros cuidados, elas não viram quando Mariona fez o gol de pênalti, mas todas as jogadoras vieram comemorar com elas.

- Vamos Ale, falta pouco para acabar o primeiro tempo. E você Jen, pare de nos assustar assim.

A voz firme de Irene foi acompanhada de um tapa leve na cabeça das duas.

Sentada no chão, Jenni deu um sorriso torto, claramente sentindo um pouco de dor no tornozelo que recebia a atenção de Blanca.

Alexia deu um último aperto na mão de Jenni e correu em direção ao meio-campo ao lado de Irene.

- Eu pedi para ela tomar cuidado, pedi para não se machucar. 

Frustração acompanhava cada palavra de Alexia.

- Alexia, não foi culpa dela.

- Eu sei, foi uma entrada muito dura, não quero nem pensar o que poderia ter acontecido.

 - Ela estava de costas, não tinha a menor condição dela saber que receberia aquela pancada, mas estamos falando de Jennifer Hermoso, você tem alguma dúvida que ela volta no segundo tempo?

Alexia esboçou um sorriso, Irene estava certa, Jenni estaria em campo com elas no segundo tempo.

O apito final soou, o placar marcava 2x0 pra Espanha, Aitana fez um gol no segundo tempo antes de ser substituída.

Todas as jogadoras dos dois times se uniram no meio de campo para saudar a torcida e se cumprimentarem.

Mesmo de olhos fechados Alexia conhecia aquela mão familiar em suas costas. Ela ainda abraçava Têre quando Jenni envolveu seus longos e fortes braços em volta delas.

- Jennifer Hermoso você faz parecer que esse uniforme é uma armadura, eu não conheço ninguém que merece essa camisa 10 mais do que você. – O sorriso aberto e o olhar de orgulho no rosto de Têre fez Jenni abraça-la novamente, tirando a jovem jogadora do chão.

- Nós merecemos, Têre. Nós trabalhamos muito. Nós todas..

Teresa Abellera era uma das atletas mais novas e mais talentosas que tinha na seleção, demorou para ela entender que agora jogava ao lado das jogadoras que ela sempre se inspirou quando estava nas categorias de base. 

Apesar de veterana, Hermoso mantinha aquele lado brincalhão e acessível que aproximava as meninas mais novas. Alexia sempre admirou isso, porque ninguém olhando de fora imaginaria que aquela Jenni com braços fechados de tatuagens, de olhar tão forte e determinado era definida por todos como a alegria do vestiário, não só na seleção, mas no clube também.

- Eu concordo com a Têre. - Alexia ofereceu com um sorriso enquanto afastava um pouco a morena do grupo de jogadoras.

- Você acha que podemos conversar esta noite? - Jenni se encheu de coragem e perguntou.

Alexia assentiu.

- Vou passar no seu quarto depois do jantar então.

Alexia só teve tempo de assentir novamente, porque Mariona veio atrás de Jenni, envolvendo seus braços em torno de sua cintura e arrastando a atacante para perto de Irene.

- Estou protegendo sua reputação, não precisa me agradecer. – Mariona sussurrou – Do outro lado do campo nós vimos você transando com ela só pelo seu olhar.

- Algumas coisas nunca mudam. - Paredes falou baixo.

Mariona a colocou de volta no chão e puxou a amiga para um abraço apertado.

- Você é uma idiota, Mariona. – Jenni falou rindo, enquanto retribuía o abraço.

- É claro que eu sou, aprendi com você, capitã!

- Você também é uma idiota, Irene.

- Só salvamos você de você mesma, minha amiga. Seu olhar sempre te entrega.

Irene se juntou feliz ao abraço delas, quando Lola chegou se jogando no trio:

- Vocês também viram o olhar dessa idiota transando com a Putellas?

Você é a RazãoOnde histórias criam vida. Descubra agora