𝓜emories.

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OS RAIOS DE SOL QUE ENTRAVAM PELA BRECHA JANELA me fizeram acordar, lentamente abri meus olhos e me sentei na cama, assim conseguindo olhar meu quarto que estava um completo caos. Um cheiro insuportável de álcool, paredes manchadas, roupas e lixo no chão, e aquele clima abafado. Respirei fundo e me levantei, o que foi uma péssima ideia. Tudo começou a girar, minha visão ficou turva e minha cabeça começou a latejar, eu visivelmente não estava bem. A noite de ontem acabou comigo, mas não posso deixar isso transparecer na frente dos meus pais. 

Respirei fundo mais uma vez e, me apoiando nos móveis ao meu redor fui até a janela, abri ela por completo e deixei o vento entrar. Em poucos segundos a atmosfera daquele cômodo havia mudado, agora tudo parecia mais leve, tudo parecia tão calmo, tudo parecia estar tão bem. Mas na real, nada estava. Me virei e fui vagarosamente até o banheiro, tomei banho, escovei os dentes, fiz o que tinha que fazer e troquei de roupa. 

Por alguma razão minha mãe me esperava na cozinha, me seguia com o olhar mas permanecia em silêncio, sentia como se ela pudesse ler todos os meus pensamentos e saber de todos os meus pecados. Odeio quando ela faz isso, me deixa mais nervosa do que o normal.

—Vai continuar me encarando assim ou vai falar logo? —Eu comecei a  preparar meu café, virei de costas na intenção de não encarar o seu rosto.

—Você saiu escondida de novo, e pior, ainda trouxe seus amigos pra cá. Já te falei que não gosto de visitas.

—Ah sim, desculpa. — Pelo visto isso não era o que ela queria ouvir, me encarava com um ar de que esperava algo mais. —Vou limpar a casa depois que eu tomar meu café.

—Você namora e eu não estou sabendo?

Meu coração gelou, na verdade eu não namorava. Mas sabia que eu não iria conseguir fazer com que ela pensasse o contrário tão facilmente, pode parecer mentira, mas da ultima vez que uma situação assim aconteceu ela me deixou sem sair de casa por dois meses pra ter certeza de que eu e meu namorado inexistente não iriamos nos encontrar.

—Não, por que a pergunta?

Ela me encarou dos pés a cabeça com aquele olhar de julgamento, provavelmente pensa que estou me fazendo de sonsa, mas não é tão fácil assim virar pra sua mãe e dizer "escuta coroa, eu 'tava era lombrada ontem, me lembro de nada não". Minha mãe permaneceu em silencio durante uns dois minutos, até que percebeu que eu não iria falar nada e resolveu continuar o seu interrogatório.

—Luana, não sou idiota. Tenho o dobro da sua idade, eu já conheço todos esses seus truques, não esqueça que um dia eu já fui jovem como você. Mas, se você vai continuar se fazendo de desentendida, eu vou falar pro seu pai, porque só assim você leva as coisas a sério. —Logo em seguida saiu da cozinha, entrando no quarto dela, onde muito provavelmente vai mandar mensagens pro papai.

Respirei fundo, era sempre assim. Ela sempre envolvia meu pai nas nossas discussões, mesmo sabendo que ele vai ficar do meu lado, até porque ele parou de acreditar na mamãe depois das três primeiras brigas. Ela só quer se fazer de vitima, distorcer a história, me fazer parecer ignorante, sem noção e irresponsável. Mesmo eu tendo dezoito anos, usando o meu dinheiro para ir as festas e saindo uma vez na vida, ela faz questão de brigar comigo nas pouquíssimas vezes que eu resolvo sair de casa. Eu sou totalmente responsável, sei o que estou fazendo da minha vida. Não preciso dela reclamando de tudo que eu faço ou o que eu digo, ela só quer controlar minha vida, isso já está me deixando maluca.

Deixei de lado os pensamentos quando eu acabei de lavar a louça, sinto que fiz as coisas mais rápido enquanto pensava nessa situação. Subi as escadas para ir ao meu quarto, cada vez que eu olhava, a situação dele parecia piorar. Aos poucos fui catando as embalagens, latinhas, garrafas e cigarros que eu achava jogados no chão ou em cima da minha penteadeira, joguei todos no lixo do banheiro na intenção de que minha mãe não me visse segurando essas coisas. Aos poucos fui colocando minhas roupas e pertences nos seus devidos lugares, ontem eu praticamente dormi em cima de uma montanha de roupas.

Mas uma coisa me incomodava, vez ou outra encontrava alguns fios de cabelo loiro, o problema é que eu não sou loira e nem tenho amigos que são. Então fui entendendo aos poucos o porquê da minha mãe perguntar sobre namoro, alguém desconhecido tinha vindo aqui, e o maior problema disso tudo é que eu não me lembro nada da pessoa, nem voz, nem rosto, nem a roupa que estava usando, até porque eu apaguei completamente. E eu não poderia perguntar como é a pessoa pra minha mãe, porque aí eu vou dar motivo 'pra ela me chamar de irresponsável, e isso é a última coisa que eu vou querer nesse momento, já que ela iria usar essa situação como "argumento" em qualquer briga futura nossa. 

Fiquei curiosa, peguei meu celular na esperança de ter pistas para descobrir quem possa ser a pessoa, desbloqueei e entrei no Instagram, mas antes que a primeira postagem pudesse carregar, meu celular morreu. Eu suspirei fundo e coloquei meu celular no carregador, pelo menos agora vou conseguir focar na faxina.

(...)

𝐕𝐈𝐂𝐈𝐒𝐒𝐈𝐓𝐔𝐃𝐄 - Richard Ríos.Onde histórias criam vida. Descubra agora