𝓐ssume.

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TUDO ESTAVA MUITO BARULHENTO, mas não de uma forma normal. Eu percebi a movimentação estranha dos seguranças do local, resolvi ignorar. Segui o meu caminho em direção a recepção para sair dali.

— Você não pode ir por aqui. Estamos tentando conter algumas garotas irritadas na entrada da clínica, por favor saia pela porta dos fundos, é só seguir pelo corredor da esquerda. - Disse um dos seguranças.

Assenti e segui o caminho pelo corredor que me foi indicado. Assim que estava a exatos três passos de distância consegui escutar o vidro da porta se quebrar e diversos gritos femininos. Não precisei pensar em nada, meu corpo respondeu por si só. Em um piscar de olhos eu já estava fora da clínica.

O lado ruim era que eu tinha pouco tempo para decidir o que fazer. A porta dos fundos levava ao estacionamento dos funcionários, mas sair por ali era arriscado; alguém na entrada principal poderia me ver.

Decidi, então, saltar o muro. Não foi difícil, e aproveitei a facilidade para pular mais sete, até me sentir suficientemente distante da clínica.

Sabia que aquelas garotas estavam me perseguindo, tinha certeza disso. Liguei meu celular, precisava chamar um Uber. Não conseguiria voltar a pé para casa; estava longe demais e não queria correr o risco de cruzar com aquelas garotas malucas.

Entrei em um corredor estreito que conectava o quintal da casa à área da frente, onde o portão dava acesso à rua. Verifiquei o entorno rapidamente e, sem perder tempo, saltei o último muro, aterrissando suavemente na calçada. A rua estava deserta, apenas as sombras das árvores se projetavam sobre o asfalto.

Enquanto o celular carregava o aplicativo, o ar parecia mais pesado, como se algo estivesse prestes a acontecer. Cada segundo parecia se arrastar, e os barulhos noturnos se tornavam mais ameaçadores. O silêncio era interrompido apenas pelo som distante de passos, que ressoavam como um aviso.

Finalmente, o aplicativo confirmou que um carro estava a caminho. Um alívio momentâneo me tomou, mas eu sabia que ainda não estava segura. Olhei ao redor, atenta a qualquer movimento suspeito, e esperei.

Quando o carro finalmente chegou, não perdi tempo. Entrei desesperadamente no veículo, quase arrancando a porta ao abri-la. O motorista, um homem de meia-idade com expressão curiosa, me olhou pelo retrovisor, surpreso com a minha pressa.

— Está tudo bem? - ele perguntou, enquanto eu tentava recuperar o fôlego, olhando nervosamente pela janela traseira.

— Sim, é... não é nada. - respondi, tentando soar calma, mas a urgência na minha voz era inegável.

Ele deu de ombros e começou a dirigir. Eu me afundei no assento, o coração ainda acelerado, enquanto observava as ruas passarem rapidamente pela janela. Cada sombra parecia esconder um perigo, e cada carro que se aproximava me fazia prender a respiração.

Por um momento, pensei ter visto uma das garotas no reflexo do espelho lateral, mas quando olhei de novo, não havia ninguém. Fechei os olhos e tentei acalmar os pensamentos. Tudo que eu precisava agora era chegar em casa em segurança.

Abri meu Twitter, e a primeira coisa que surgiu na tela foi o vídeo responsável por atrair aquelas garotas até a clínica. Não me dei ao trabalho de ler os comentários maldosos que acompanhavam a postagem; já sabia o que estaria ali—insultos, ameaças, palavras cruéis que só serviriam para aumentar a ansiedade que eu tentava controlar.

Troquei para o Instagram, procurando algo que distraísse minha mente. Foi então que vi que Richard havia postado um story. Não hesitei, cliquei no vídeo.

— Puta que pariu — o palavrão escapou antes que eu pudesse me controlar. O que vi no vídeo me deixou perplexa.

Richard postou uma foto nossa, uma que tiramos juntos na praia. Na imagem, estávamos sorrindo, o sol brilhando atrás de nós, como se aquele momento fosse perfeito e intocado por qualquer preocupação. No canto da foto, ele colocou dois emojis: uma aliança e um coração. Meus olhos se fixaram naquilo, sentindo o impacto que cada pequeno símbolo trazia.

E então, o som da Poesia Acústica 2 começou a tocar, acompanhando a imagem. Eu conhecia bem aquela música e o que ela significava. Richard estava me assumindo publicamente, para todos verem.

Uma mistura de emoções tomou conta de mim. Parte de mim estava encantada, surpresa com a atitude dele, mas outra parte estava completamente atônita. Sabia o que isso significava—não só para nós, mas para todas aquelas pessoas que estavam nos observando, esperando por qualquer sinal de fraqueza.

Enquanto a música continuava, cada verso parecia se entrelaçar com as batidas aceleradas do meu coração. Era romântico, corajoso, mas também me expunha de uma maneira que eu não esperava. Eu estava no meio de algo grande, e agora todos sabiam.

Eu não fazia ideia de que ele estava disposto a ir tão longe por mim. Assumir um namoro publicamente, ainda mais sabendo que o que tínhamos era, até então, um "quase algo." Mas, com aquela foto, os emojis, e a música, ele deixou tudo claro.

Minha mente girava com a nova realidade. O que antes era apenas uma conexão indefinida, algo entre o possível e o incerto, agora se tornava oficial. Richard não deixou espaço para dúvidas; ele estava me assumindo, e o fazia sem medo, diante de todos.

Olhei para a foto mais uma vez, e senti um misto de nervosismo e alegria. Acho que agora, oficialmente, estamos namorando.

𝐕𝐈𝐂𝐈𝐒𝐒𝐈𝐓𝐔𝐃𝐄 - Richard Ríos.Onde histórias criam vida. Descubra agora