ℐrritation.

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SABRINA ESTAVA SENTADA À MESA, algemada, com uma expressão de cansaço no rosto. Quando me viu, seus olhos se estreitaram brevemente antes de se suavizarem. Ela me encarou dos pés à cabeça, seu olhar se tornou diferente, um sorriso apareceu em seu rosto e sua feição se transformou em uma de deboche.

— Pelo visto você conseguiu o que queria, não é? — disse ela, sarcástica.

— O que exatamente? Consegui muitas coisas nesse período de tempo. — Sabrina chutou minha perna por debaixo da mesa instantaneamente. Tentei disfarçar a visível dor que senti. — O que foi? Quer que eu fique com uma cara de coitada aqui na sua frente?

— Você já estava tendo um caso com o jogador, não é? — Não consegui segurar minha gargalhada.

— Sério que você acha isso? Não sou que nem você, Sabrina. Eu sei meu lugar, eu sempre fiquei na minha, ele que vem atrás. — Passei a língua pelos meus lábios para umedecê-los. — Você que o perseguia, né? Que humilhação.

Ela revirou os olhos ao me escutar, em seguida levantou o dedo do meio para mim.

— Se fode, Luana. Você 'tava sendo cu doce até um dia desses. Vocês só estão próximos por minha causa.

— Eu ser cu doce te deu a liberdade de tentar me matar?

Sabrina ficou em silêncio por um momento, seus olhos escurecendo de raiva.

— Você nunca entendeu nada, Luana. Nunca entendeu o que estava em jogo.

— Então me explique, Sabrina. Me explique por que tudo isso aconteceu. — Minha voz tremeu levemente, mas tentei me manter firme.

Ela soltou uma risada amarga.

— O cara é rico, bonito, famoso, joga bem e por esse curto período de tempo percebi que ele era uma pessoa legal. E você aí, otária do caralho, ficou enrolando. Se você tivesse ficado com ele dava pra você pegar uma grana pra você e ainda pedir mais pra dividir comigo e com as meninas do grupinho.

— Ah, então dinheiro e fama te fizeram perder a razão e tentar me matar? — rebati, incredulamente.

— Para de se fazer de idiota, Luana. Você também perderia a razão, ainda mais na situação que você está passando.

— Não. Eu jamais faria isso, e se você acredita que eu faria algo assim, você não me conhece.

Sabrina soltou um riso cínico, os olhos faiscando de raiva.

— Você não entende nada mesmo. O cara visivelmente apaixonado e você se fazendo de besta. Eu me transformei, mudei para melhor, fiz de tudo para ficar encantadora ao máximo que consegui, e mesmo assim não consegui tirar os olhos dele de você. Sério, Luana, como você pode ser tão irritante e idiota?

Fiquei paralisada. As palavras de Sabrina ecoaram na minha mente, misturando-se com as dúvidas que surgiram sobre Richard. Será que ele me amava? Será que os nossos sentimentos eram iguais? Será que ele gostava de mim tanto quanto eu gostava dele?

— De qualquer forma, isso não te dá o direito de me machucar — respondi, minha voz tremendo ligeiramente diante da intensidade da situação.

Sabrina me encarou com frieza, seus olhos transmitindo uma mistura de desdém e triunfo.

— Se você está esperando um pedido de desculpas, você não irá receber, Luana. Eu não me arrependo de nada do que fiz — disse ela, com um sorriso de superioridade nos lábios.

— Você pode ter mudado fisicamente, Sabrina, mas a sua personalidade continua um lixo. Deve ser por isso que ele não te quis. Você é a irritante aqui, totalmente insuportável.

Seu sorriso desapareceu instantaneamente, substituído por um olhar de fúria.

— Eu mudei por ele, fiz tudo por ele! E você, com sua atitude de superioridade e falsa inocência, conseguiu o que queria. Você é a verdadeira vilã aqui, Luana.

— Vilã? — ri com desdém. — Eu nunca quis machucar ninguém, muito menos usá-lo para ganhar dinheiro ou status. Talvez você devesse olhar para si mesma e ver quem é a verdadeira vilã dessa história.

Os policiais ao redor começaram a se mover, indicando que a conversa deveria terminar. Sabrina foi puxada de volta à cela, mas não antes de lançar um último olhar venenoso na minha direção. 

— Isso não acabou, Luana. Ainda tem muita coisa que você não sabe — murmurou ela, antes de ser levada para longe.

Eu saí da sala, o peso da conversa ainda pairando no ar. Eu me sentia exausta emocionalmente, enquanto processava tudo o que acabara de ouvir. Richard colocou gentilmente uma mão no meu ombro, oferecendo conforto assim que me viu. 

— Você está bem? — perguntou, sua voz carregada de preocupação.

— Eu acho que sim — Respirei fundo, tentando me acalmar e não desabar em lágrimas ali mesmo. Tudo isso era demais para mim. — Preciso voltar 'pra minha casa. Vou pedir um Uber e-

— Não, pode deixar que eu te levo. — Me senti aliviada ao escutar isso, eu não tinha dinheiro pra pagar um Uber.

Richard e eu caminhamos em silêncio até o carro, quando entramos dentro dele tudo continuou da mesma maneira. Silêncio. Eu precisava daquele silêncio, eu precisava digerir todas aquelas informações, eu precisava refletir mais. Eu precisava... Porra, eu não consigo me concentrar em nada.

Enquanto dirigíamos de volta, o silêncio entre nós era carregado de tensão. Eu precisava encontrar respostas para tantas perguntas que surgiram naquele dia, especialmente sobre o que realmente sentia por Richard e o que ele sentia por mim.

Chegamos na minha casa, finalmente. Por mais que eu gostasse daquele silêncio, por algum motivo ele começou a me incomodar. Parecia que eu estava sendo sufocada pelas palavras que gostaria de dizer, pelas milhares de perguntas que passavam pela minha cabeça... Enfim, agora eu poderia relaxar de verdade.

— Espera. — Richard disse, segurando levemente meu pulso. — É... Me passa seu número, pô.

— Oxe, eu não. — Disse eu, puxando meu pulso de volta.

— Por favor, 'vei. O acaso juntou a gente, a gente tem que aproveitar.

— Que droga, menino. Você só fala de acaso, isso não existe não.

— Lógico que existe, se não existisse a gente não teria se encontrado depois daquele dia na casa dos seus pais. — Paralisei ao ouvir isso.

Ele se lembra do que aconteceu naquele dia. Ele sempre se lembrou de mim, porra. Eu estou sem reação.

— E aí, 'cê vai passar seu número?

— Vou, me dá esse seu Nokia aí que eu vou adicionar.

Ele riu, pegou o celular do bolso e estendeu para mim. Com mãos trêmulas, adicionei meu número. Quando devolvi o aparelho, nossos dedos se tocaram brevemente, e senti uma corrente elétrica percorrer meu corpo.

— Pronto, agora você tem meu número. Satisfeito? — disse, tentando esconder o nervosismo.

— Muito — respondeu ele, sorrindo de um jeito que fez meu coração disparar.

O silêncio voltou a se instalar entre nós, mas dessa vez não era sufocante. Era um silêncio carregado de possibilidades, de coisas não ditas, de sentimentos à flor da pele. Desci do carro após me despedir de Richard com um abraço.

Assim que fechei a porta atrás de mim, soltei um suspiro profundo. Meu coração ainda batia acelerado, e minha mente estava cheia de pensamentos confusos. A conversa com Sabrina, a tensão com Richard, tudo parecia um redemoinho de emoções que eu mal conseguia controlar.

Fui até a sala e me joguei no sofá, tentando processar tudo o que havia acontecido. Minha mente voltou para aquele dia na casa dos meus pais. Richard sempre se lembrara de mim. Isso mudava tudo. Fechei os olhos, tentando organizar meus sentimentos.

Meu celular vibrou, tirando-me dos meus pensamentos. Era uma mensagem de Richard: "Espero que você fique bem. Qualquer coisa estou aqui."

Um sorriso involuntário apareceu no meu rosto. Talvez, só talvez, o acaso tivesse mesmo um papel importante em nossas vidas.


𝐕𝐈𝐂𝐈𝐒𝐒𝐈𝐓𝐔𝐃𝐄 - Richard Ríos.Onde histórias criam vida. Descubra agora