𝓓aydream.

68 0 0
                                    

Já tinham se passado quarenta minutos, e eu ainda estava ali, na sala de espera, sentada em uma cadeira desconfortável. O ambiente ao meu redor parecia caótico: pessoas tossindo e espirrando, crianças chorando e gritando, e celulares tocando com volumes exageradamente altos. O barulho era incessante, e o ar estava carregado de uma mistura de sons e cheiros que me deixavam ainda mais ansiosa, e por alguma razão me deixavam levemente enjoada.

Eu olhei para o relógio mais uma vez, sentindo a impaciência crescer. O tempo parecia se arrastar, e cada minuto ali parecia uma eternidade. Eu me perguntei se seria chamada logo ou se teria que suportar aquela espera interminável por mais um tempo. Eu tentava desacelerar meus pensamentos, tentando encontrar algum tipo de distração, mas tudo o que consegui foi me sentir mais inquieta.

Não sei se estava sendo paranoica, mas a sensação de estar sendo observada era inescapável. Parecia que todos ali sabiam quem eu era, como se o motivo de eu estar naquela clínica fosse do conhecimento de todos. Comecei a suar, apesar do ambiente gelado. Meu nervosismo era incontrolável; a boca seca e o coração acelerado faziam o desespero tomar conta de mim.

Olhei ao redor, desesperada por encontrar uma cadeira isolada, um canto onde eu pudesse respirar fundo e tentar me acalmar, mas a sala estava cheia, e não havia onde me esconder. Sentindo a ansiedade crescer, peguei o celular, na esperança de me distrair. Abri o Instagram, mas isso só piorou as coisas. Richard ainda não havia se pronunciado, e o número de comentários, curtidas e seguidores no meu perfil continuava subindo vertiginosamente. A realidade parecia estar desmoronando ao meu redor.

Desliguei o celular com um suspiro frustrado, tentando me desconectar da avalanche de pressão que o mundo virtual estava despejando sobre mim. Foi então que notei uma garota entrando na recepção. Ela me olhava fixamente, seus olhos pareciam atravessar minha pele, me analisando de uma maneira que me deixava inquieta. A intensidade do olhar dela era perturbadora, e meu desconforto aumentou.

Eu não sabia se estava imaginando coisas ou se aquela garota realmente sabia algo sobre mim. Tentei desviar o olhar, mas minha curiosidade venceu. Quando voltei a encará-la, ela ainda estava lá, observando cada um dos meus movimentos. Por um momento, considerei a possibilidade de que ela fosse uma das pessoas que me seguiam online, alguém que tivesse reconhecido meu rosto das fotos que circulavam na internet.

Eu estava cogitando falar com ela, mas no momento em que me levantei, escutei meu nome sendo chamado para o atendimento. Respirei fundo, tentando manter a calma, e caminhei em direção ao consultório. Antes de entrar, olhei para trás, apenas para confirmar minhas suspeitas.

A garota estava apontando o celular na minha direção, e de repente, um flash rápido iluminou o ambiente. Eu estava sendo fotografada. Meu coração acelerou ainda mais, e uma onda de indignação e pânico tomou conta de mim.

Tentei processar o que tinha acabado de acontecer. Como ela ousava invadir minha privacidade desse jeito? E pior, o que ela faria com aquela foto? Seria mais um combustível para os fofoqueiros de plantão na internet?

Respirei fundo mais uma vez, tentando me acalmar. Eu não podia fazer uma cena ali, não na frente de todos. Entrei no consultório, fechando a porta atrás de mim, e me sentei na cadeira em frente ao médico.

Ele olhou para mim, provavelmente notando a tensão em meu rosto.

- Tudo bem, senhorita? - perguntou ele, com um olhar preocupado.

- Sim, estou bem - respondi, tentando forçar um sorriso. - Só um pouco nervosa, eu acho.

O médico assentiu, compreensivo, e começou a consulta. Enquanto ele falava, eu tentava me concentrar em suas palavras, mas minha mente estava a mil, pensando na foto que a garota havia tirado. Será que Richard já tinha visto? O que ele pensaria de tudo isso?

[*]

Saí do consultório com uma receita em mãos, e a cabeça um pouco mais leve. Ainda estava meio desconfortável e confusa por eu ter sido gravada por uma desconhecida. Afinal, quem era ela? Nós nos conhecíamos? Talvez nunca saberei.

Depois de caminhar por alguns corredores percebi o quão assustador estava aquele lugar, parado, silencioso, tudo muito quieto, extremamente suspeito. Fiquei em alerta, caminhei em passos rápidos até a saída, não encontrei nenhuma pessoa por ali, o que era muito estranho.

Quando entrei no consultório, a recepção estava cheia e barulhenta, agora nem mesmo os atendentes estavam lá. Comecei a suar de medo, senti que iria chorar, mas por alguma razão eu não conseguia, me senti extremamente desesperada.

Resolvi sair o mais rápido dali, corri até a porta de vidro e a puxei com toda a força que me restava, mas eu não conseguia. Meu coração começou a bater mais rápido. Eu estava presa.

Tentei gritar por socorro mas minha voz saía abafada, como se eu estivesse distante. Olhei ao redor, a recepção estava escura e vazia, provavelmente não havia nada e nem ninguém que poderia me ajudar ali.

Me virei novamente para a porta, encostei meu rosto no vidro tentando enxergar algo do outro lado, mas era impossível devido a neblina, eu não conseguia ver nada, absolutamente nada.

Tentei gritar por ajuda novamente. Silêncio. Eu ainda estava esperançosa, não queria desistir.

...

- AH!!!

Um rosto havia surgido no vidro, ele me encarava assustado, com seus olhos esbugalhados, como se quissesse me falar algo. E por alguma razão, o susto trouxe de volta a minha voz.

- PORRA, RICHARD! - Respirei fundo. - Você quer me matar do coração, caralho?!

Sem resposta.

Eu tô falando com voc-... - De repente senti algo em minhas costas, porra, tinha certeza que era uma arma.

Senti um arrepio na espinha, me senti ficando fraca, senti como se fosse desmaiar. Olhei para a porta novamente, o rosto de Richard havia sumido.

Respirei fundo, eu estava decidida a reagir, não iria morrer tão facilmente assim. Me virei rapidamente, porém não o bastante. Escutei o disparo, e senti a dor do impacto da minha cabeça contra o chão.

[*]

- Senhorita? Senhorita? - Eu escutava de longe alguém me chamado.

- Acho que ela está acordando. - Outra pessoa o respondeu.

Eu abri os olhos lentamente, a claridade da sala estava me incomodando. Olhei ao redor, eu ainda estava no consultório, lá fora continuava barulhento e eu aparentemente havia desmaiado.

- Vá pegar um copo de água para ela. - O homem na minha frente ordenou, e em seguida, escutei a porta do consultório se fechar.

O médico entregou alguns papeis em minhas mãos.

- Eu pedi um encaminhamento para um psicólogo e receitei alguns remédios para ajudar com a sua ansiedade.

Assenti.

- Ah... É... Obrigada. - A moça retornou com o copo de água em mãos, eu não queria, mas aceitei por educação.

Os dois me encaravam enquanto eu bebia.

- A água tá com gosto esquisito.

- É soro fisiológico. - Cogitei cuspir no chão, mas forcei um sorriso e terminei de beber.

𝐕𝐈𝐂𝐈𝐒𝐒𝐈𝐓𝐔𝐃𝐄 - Richard Ríos.Onde histórias criam vida. Descubra agora