╭ ☀️ PRÓLOGO.

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PRÓLOGO
5 anos atrás.

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  ISAK SE ENCOLHEU, ENCOSTANDO-SE atrás da árvore que costumava ser o esconderijo dele e de sua mãe quando desejavam evitar o restante da família, que sabia muito bem como tirar do sério até mesmo a criatura mais serena da Terra. Era uma linda macieira alta e volumosa em uma pequena colina, de um ponto que dava para enxergar perfeitamente todo o campo de girassóis dos Solskinn, além de produzir uma sombra ótima para esfriar a cabeça no verão. Isak a amava.

 Mas naquele dia em específico, Isak não correra ao seu encontro junto a mãe, para que ele se aconchegasse em seus braços e a mulher lhe contasse as histórias mais fascinantes que somente ela conhecia, enquanto acariciava seus cachos loiros, e ali ficassem até o céu tomar tons de laranja característicos do fim do dia. Pelo contrário, dessa vez, era somente Isak e a velha macieira. E ele não estava feliz como de costume. Não, o pequeno estava mergulhado em uma angústia desigual, mais do que seu coraçãozinho infantil poderia aguentar. 

 Isak se recusou a chorar em frente aos seus colegas na escola, que já eram cruéis o suficiente todos os dias sem motivo, ridicularizando suas roupas, seu jeito e a sua falta de atenção. O Solskinn não gostaria de ser chamado de "bebê chorão" também, seria humilhante demais. Por isso, esperou até o intervalo e encontrou um jeito de fugir da escola, sem se importar com o que os professores ou as outras crianças diriam.

 Sozinho, Isak levou o rosto entre os joelhos e deixou que suas lágrimas caíssem, deixando escapar um soluço alto e dolorido. Os girassóis ao longe pareceram perder o brilho em solidariedade ao menino desolado. 

 Por que as outras crianças não gostavam dele?

 Por que não conseguia ter amigos como seus colegas? 

 Por que não conseguia ser normal?

 Essas palavras gritavam em seu subconsciente, o torturando dia e noite. Isak detestava se sentir dessa maneira. Era uma dor excruciante que invadia o seu peito e ameaçava destruí-lo de dentro para fora em todas as vezes. Tudo o que o loiro queria fazer era chorar, chorar e chorar, até a tristeza sair de seu corpo em forma de lágrimas que mais pareciam tempestades torrenciais. 

 Toda a confusão começou quando Milo, um de seus primos, contou para todos da escola que Isak era louco, que inventava histórias sobre enxergar criaturas mágicas na floresta, que falava com os animais como se fossem pessoas e para piorar, também mentiu dizendo que Isak já teria o atacado violentamente. Alguns de seus colegas riram, e outros tiveram medo do garoto. Solskinn nunca faria isso, ele era só uma criança de dez anos que mal conseguia levantar uma pá, jamais faria mal a alguém, e apesar de tudo, ele amava seus primos, amava a sua família, mesmo que eles não fossem capazes de demonstrarem o mesmo por ele. 

 As risadas maldosas ecoavam em sua mente. Os olhares de julgamento foram cravados em suas lembranças. O mundo era um lugar cruel para alguém como Isak, por diversos motivos. E ele não revidaria nem se quisesse. Não havia nada que pudesse fazer. Ele tentou ser legal, isso ninguém poderia negar. Como no dia em que passou o café da manhã inteiro colhendo margaridas para entregar a cada uma das crianças da sua sala, mas antes do intervalo, todas já estavam no lixo ou pisoteadas no chão. Aquilo destroçou seu coração. O que Isak teria feito de tão ruim para receber essa rejeição? O loiro começou a pensar que talvez, o seu maior erro tenha sido existir.

 Isak sentiu um toque suave em seu ombro, e o cheiro doce dos girassóis e do sabonete de lavanda invadiram o ambiente de imediato. Havia uma nova presença no lugar, que se agachou e sentou-se ao seu lado silenciosamente. Solskinn escondeu ainda mais o seu rosto entre os joelhos, não queria que sua mãe o visse chorando, pois ficaria preocupada e ele não queria incomodá-la outra vez com o mesmo assunto. Mas aquilo foi inútil, pois sua mãe o puxara para perto gentilmente e o envolveu em um abraço caloroso. Aquele tipo de abraço que parece curar todas as feridas internas que alguém possa ter. Entretanto, Isak apenas chorou mais, manchando o macacão de jardinagem de sua mãe com suas lágrimas.

DAYLIGHT, leo valdezOnde histórias criam vida. Descubra agora