A Repórter

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~ Kara Danvers POV ~


Eu tenho 26 anos.

Comecei minha carreira como estagiária na CatCo aos 22 anos.

Quando sai de Harvard decidi que não queria trabalhar com moda e fofocas sobre celebridades. Eu estudei ciência política, economia, francês e alemão, além de falar inglês e entender um pouco a língua do Brasil. Eu não podia dedicar minha vida para falar da vida alheia. Cat Gran sabia disso e logo que conclui meu estágio ela me indicou para trabalhar no Le Monde, um dos jornais mais famosos de Paris e um dos mais requisitados do mundo inteiro.

Eu nunca pude expressar todo meu agradecimento a ela por este feito e Cat nunca pediu por isto. Apenas me disse: "Não suje a reputação que eu construí. Ao te indicar você é parte disto. Faça apenas o melhor trabalho que os franceses possam ver, Kara Danvers."

E assim, aos 24 anos mudei-me para Paris, a cidade das luzes. Abandonei minha noiva e meu antigo relacionamento. Deixei meus pais, minha irmã e melhor amiga Alex. Deixei tudo por um objetivo. Ser a melhor repórter que o Le Monde conheceria.

Assim que cheguei a Paris conheci Louise, a quem carinhosamente chamo de Lu. Uma linda mulher parisiense, de sotaque arrastado, um lindo pescoço longo, rosto com belas sardas e um cheiro tipicamente francês. Lu é casada com Pierre. Pierre é um político importante na França. Viaja o mundo enquanto Lu gasta seu dinheiro com vestidos, champanhes e mulheres. Sim, mulheres. Lu, é uma típica mulher parisiense, livre e casada. Vive de amores inconstantes, mas dedica sua disposição a Pierre. Enquanto seu carinho à Maria. Sexo a Fernanda. Masturbações a Valentina. Namoricos a Romana. Amor a si mesma.

Ah, o amor! Lu me ensinou mais sobre amor, do que qualquer outra pessoa que eu já tenha conhecido. Não o amor sexual. Esse eu conheço muito bem e desfrutamos significativas vezes juntas. Quando falo sobre amor, falo do amor livre. 

O amor-próprio.

Este foi o primeiro que aprendi com Louise.

O amor que me fez entender que não há nada nem ninguém no mundo que eu devo a minha devoção e dedicação a não ser a mim mesma. Eu entendi que o amor é muito para ser dedicado a uma pessoa só.

E não há nada nem ninguém no mundo que me faça mudar de ideia. Eu sempre serei de quem eu quiser.

Desde que conheci Louise, ridiculamente me apaixonei. Sofri por alguns meses, até que quatro palavras saíram de sua boca e me fizeram entender algo: "Eu não sou sua". Sim, ela não era minha, assim como não seria de Romana, nem de Maria, tampouco de Fernanda, sequer de Pierre. Mas sim, dela própria. Eu sofri por meses até entender o que ela quis me dizer.

"Eu serei sua enquanto você souber que não pode me ter. Quando tentar me deter, eu partirei."

Aquela frase martelou por meses na minha cabeça. Eu sofri e chorei. Até que entendi e inevitavelmente ela voltou. Como um pássaro que pousa em uma flor, toma do seu néctar, voa e ninguém sabe se ele irá voltar.

- Oi, mon amour. - Abri a porta do meu modesto apartamento para Lu entrar.

- Eu não via a hora de poder estar em seus braços, ma vie. - Ela entrou e tocou seus lábios ao meu de forma carinhosa. A convidei para entrar e como eu havia chegado a pouco tempo, lhe informei que tomaria um banho.

- Je te veux, mon amour. (Te quero, meu amor).

Não demorei muito e quando retornei encontrei Louise despida no sofá da sala. Nos iniciamos caricias e beijos intensos, e como tudo com ela era sempre muito quente e rápido. Nos finalizamos o sexo com Louise tendo orgasmos. Seu telefone tocou logo em seguida. Parecia ensaiado. Nos transávamos em 30 a 40 minutos. Seu telefone tocava e ela ia embora.

- à bientôt, mon amour. (Te vejo em breve, meu amor.)

E ela partia.

Sempre foi assim. Sempre será assim.

Certa vez, ofereci as chaves do meu apartamento. Ela recusou. Lembrei-me da resposta clara como água:

"Se eu aceitar, você esperará por mim. E se esperar por mim, esperará por algo que não posso lhe dar. O meu amor não é seu, ma vie. "

Eu olhei meu vestido no chão, minha lingerie jogada em um canto qualquer. A meia luz do abajur foi tudo que permaneceu ligado durante nossa transa. Era melhor assim. No escuro eu não via suas expressões. Se não as visse, corria menos risco. E sempre foi assim com Louise. Depois de meses enamorada por alguém que não poderia ter, eu a deixei de lado. Conheci outras pessoas, e outras e mais outras, até que me percebi cada vez mais parecida com Louise.

Livre e me amando. Amo quem eu quero. Quando quero. 

Escolho meus amores, como quem escolhe uma flor no Jardim de Tuileries.

Eu precisava dormir. Tenho uma matéria para entregar amanhã até horário do almoço. Ela já está pronta, mas sempre gosto de revisar antes de entregar ao editor chefe. A economia na França não anda no seu melhor momento, e tudo que publicamos a respeito do governo é estritamente respeitado por uma grande maioria dos parisienses. Meu celular apitou e olhei de relance uma notícia.

"Lena Luthor anuncia novo investimento na capital francesa." – a tela desligou imediatamente.

Aquilo era no mínimo interessante.

Eu sabia o que qualquer pessoa sabe sobre Lena Luthor. Ela é uma empresária do ramo de Tecnologia, proprietária L-Corp. Uma empresa com inúmeros clientes, como coreanos e americanos e marcas famosas de celulares. A L-Corp é a maior importadora de tecnologia de ponta para segurança dos aparelhos celulares, notebooks, drones etc. Ou seja, ela é a N. 1º no ranking mundial. E agora pretende abrir uma filial na França.

Ok. Curioso. - pensei.

Após dar uma rápida lida na reportagem, escrevi uma mensagem para o lindo par de olhos verdes.

" Oi Lena. Aqui é Kara. Adorei o nosso encontro. Aqui vão algumas informações sobre mim: Me chamo Kara Danvers, tenho 26 anos. Sou repórter no Le Monde. Minha família mora em National City. Me mudei para Paris há pouco mais de 2 anos. Sou Americana. Não tenho filhos e sim, sou solteira. E em toda a minha a vida, de todas as pessoas que já conheci, nenhuma delas ficou na minha memória como você, seus lindos par de olhos verdes e seu sotaque irlandês. Acredito que o tempo livre não seja algo comum para você, mas caso tenha, gostaria de almoçar comigo amanhã? Eu não paro de pensar em como seria sentir seu doce cheiro novamente. Kara Danvers."

Reli a mensagem algumas vezes, parecia muito exagerado para alguém que acabei de conhecer. Eu falo tanto de amor-próprio, mas minha intensidade aparece nos mínimos detalhes sobre mim. Seja na escrita, no toque ou no olhar intenso. É inevitável.

"Oi Lena, aqui é Kara Danvers. Se estiver livre, amanhã poderíamos almoçar juntas às 13h00min? Estarei em frente a sede de Le Monde. Me confirme. Boa noite." (Mensagem enviada)

Já são quase onze horas da noite e eu espero que ela aceite meu convite. Tomei um banho, recolhi minha roupa do chão. Comi uma comida qualquer da geladeira e fui assistir televisão no meu quarto até pegar no sono. Amanhã seria um longo dia. 

ObcecadaOnde histórias criam vida. Descubra agora