Capítulo 1: Correntes Invisíveis

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Calista sentia o peso de um destino que nunca pediu. O trono do reino de Édrian pairava sobre seus ombros como uma nuvem carregada, pronta para desabar sobre ela. Três anos haviam se passado desde o desaparecimento de seu irmão, o rei legítimo, e, enquanto a esperança de seu retorno se esvaía lentamente, Calista sentia que sua própria liberdade se tornava cada vez mais inalcançável. Não queria a coroa, não queria ser rainha. Queria ser apenas Calista, alguém em busca de aventuras, de experiências que a fizessem sentir viva.

Mas os guardas, sempre atentos, não lhe davam sossego. Estavam constantemente em seus calcanhares, como sombras, prontos para garantir que ela não se afastasse demais dos deveres que se esperavam de uma princesa. Cada vez que Calista falava com seus pais, era uma nova discussão. Ela dizia, sempre que podia, que precisava viver, conhecer o mundo. Eles, em resposta, falavam sobre a responsabilidade, sobre o reino que precisava de uma líder. Mas nada disso lhe interessava.

Uma noite, Calista sentou-se ao lado de seu avô na biblioteca. O velho era o único que a compreendia, que conhecia o espírito inquieto da neta e sabia como acalmar seus anseios, nem que fosse por algumas horas, com suas histórias de tempos passados. Ele sorriu para ela, os olhos cheios de lembranças.

"Já te contei sobre o homem que encontrou um reino além dos limites do nosso mundo, minha querida?"- disse ele, a voz grave e suave, como uma melodia antiga.

Calista arregalou os olhos, curiosa. — Não, vovô. Que reino era esse?

"Ah, era um lugar mágico "- respondeu ele, encostando-se na poltrona e fitando o teto como se enxergasse além das paredes da biblioteca. 

"Havia seres de todos os tipos. Feéricos, vampiros, criaturas sobrenaturais que jamais poderíamos imaginar. E esse homem, ele se encontrou no meio de uma guerra que ameaçava todo aquele reino. Lutou bravamente, fez amigos entre aquelas criaturas e, no fim, foi considerado um herói."

Calista deixou escapar um suspiro de admiração, seus olhos brilhando de fascínio. Ela podia se imaginar ali, vivendo aquela história. Lutando, enfrentando desafios, sendo livre. O que poderia ser mais emocionante? Por que ela deveria aceitar uma vida presa ao trono, quando poderia, em vez disso, ter uma vida repleta de aventuras? O trono que a esperava viria com correntes invisíveis, que amarrariam seus pés e sufocariam sua essência, tornando-a apenas mais uma figura que passaria pela história sem realmente vivê-la.

"Como ele encontrou esse reino, vovô?" — perguntou Calista, inclinando-se para mais perto, seu olhar fixo nos olhos do avô.

O velho sorriu, acariciando a barba grisalha antes de responder. — Foi por acaso, como acontece com todas as grandes aventuras. Dizem que ele seguiu um mapa antigo, um artefato perdido há séculos, cheio de símbolos e inscrições misteriosas. Alguns dizem que o mapa o escolheu. Outros acreditam que ele apenas seguiu seu instinto, guiado por uma vontade incontrolável de descobrir o que havia além do que conhecemos.

"E o que ele encontrou primeiro?" — Calista apertou as mãos sobre o colo, visivelmente animada.

"Uma floresta encantada." — respondeu o avô, fechando os olhos por um instante, como se pudesse ver tudo aquilo novamente. 

"Árvores tão altas que tocavam as nuvens, folhas de cores que não existem em nosso mundo. Mas também havia perigos. Criaturas que testavam a coragem daqueles que ousavam atravessar seus domínios. E foi lá que ele encontrou os feéricos, seres belos e traiçoeiros. Eles o colocaram à prova, e ele precisou provar que era digno de continuar."

"Como ele provou isso? "— Calista perguntou, curiosa, a voz quase um sussurro.

"Com seu coração."— disse o avô, sorrindo gentilmente. 

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