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Aviso: essa fanfic poderá conter diversos tipos de gatilhos, para de ler se sentir desconfortável.

Ponto de vista de Han Jisung.

Monótono.

Era essa a palavra que há tempos tentei me lembrar, para que pudesse associar a estadia no orfanato. Monótono. Repetitivo. Rotineiro. As crianças sempre brincavam as mesmas brincadeiras. As tias sempre davam o mesmo sorriso sofrido. A comida sempre tinha o mesmo gosto. As pessoas sempre vinham e iam.

Mas quando eu vim, eu nunca mais fui. Já fui entrevistado por várias famílias, conheci muitos adultos, a esperança acendia meu peito sempre que diziam que alguém estava vindo para adotar um de nós, mas com o tempo, quanto mais eu envelhecia, mais a chama da esperança se apagava e eu voltava para a estaca zero.

O sol estava quase queimando minha retina, mas ainda assim, eu olhava para ele, já me peguei pensando várias vezes se eu sumisse e fosse morar bem longe, em outro planeta. Desviei o olhar pela dor de cabeça e peguei o livro que estava sob meu peito, já havia lido esse romance cerca de cinco vezes, acabei de ler a sexta, e ainda assim, queria mais uma vez. Talvez eu quisesse mesmo era presenciar isso, as juras de amor, as promessas, os beijos...

É normal um garoto de dezenove anos nunca ter beijado antes? O protagonista do livro teve seu primeiro beijo aos quatorze. Devia se apressar, não devia? Mas, por enquanto, estava com medo de ser realmente expulso quando completasse seus vinte, para onde iria então? Qual o defeito em si? Se dedica aos estudos, ganha prêmios, sua vaga na universidade é um fato, seu corpo é esbelto e tem um futuro garantido. Como ainda não foi adotado?

Suspirei, deitei de barriga para baixo e apoiei o livro na grama. A mão segurava meu rosto, minhas bochechas sendo esmagadas e os olhos vidrados nas palavras que eu já sabia decorado.

- E, então, ele deu seu primeiro beijo... - Revirei os olhos. Deveria achar outro livro urgente, antes que esses pensamentos atrapalhassem minha vida.

- HAN JISUNG! HAN JISUNG! - Kim Jungsoo, um beta, gritou meu nome e eu olhei de lado. - Você não vai acreditar.

- Diga-me para que eu possa avaliar se acredito ou não. - Vi que Kim parecia bastante elétrico, mais do que o normal, a ponto de sair saltindo por aí.

- Lee Minho vai assumir o orfanato. - Por que a idéia em sua mente para ser tão tentadora? É apenas o filho do dono.

- E o quê eu tenho haver com isso? - Perguntei, Lee Minho na verdade me estressa, prefiro a sua irmã, ela sim tem uma alma boa e pura, podia ser uma alfa, mas tinha a delicadeza de uma ômega.

- Mas ele é um gostoso. - Se jogou na grama e os fios loiros caíram em seu rosto.

- Você acha? - Folheei o livro, pulando para as partes que mais gosto.

- Eu tenho certeza. - Ouvi seus suspiros e revirei os olhos. - Por que você não gosta dele? - Sua entoação parecia como se fosse um crime.

- Ele é rude comigo, toda vez que vem não me deixa em paz, é um saco. - Disse. - Você esqueceu que ele mudou Yongbok de orfanato?

- Seu namoradinho? - Pergunta.

- Sim! - Respondi enquanto pegava meu livro e o prendia contra meu peito e me sentei em cima das pernas.

- Não é permitido namorar aqui. - A voz grave arrepiou até os pelos que jamais sabia que existia.

- Não há namoros aqui, senhor. - Me levantei limpando os joelhos, seu olhar estava fixo em mim e eu sentia que ele poderia me bater na frente de todos, eu sempre me sentia pequeno perto dele e eu odeio esse sentimento de impotência, por mais que ele seja um dominante, assim como toda sua familia, ele não deveria intimidar um ômega tão fácil assim. - Com licença. - Disse para que eu pudesse sair.

- Han Jisung. - Ele sempre me chama pelo nome todo, quando fui me virar senti uma mão no meu ombro e outra alisando minhas costas. - Você está todo sujo. - Sorriu fechado e eu me estressei ainda mais.

- Não precisa limpar senhor, irei trocar de roupa. - Saí do aperto desconfortável. Que alfa idiota. Espero que seja temporária sua estadia, sua irmã é muito mais bonita e gentil. Comecei a caminhar rápido, eu conseguia sentir o olhar queimar as minhas costas. Gostaria de saber o motivo. Seria por que estou ficando velho? Ele está colocando pressão em mim para que eu saía imediatamente?

Que merda. Certeza que sim. Tenho que arranjar um emprego para quando eu sair, ter alguma renda extra. O maior empasse é que tenho que pedir autorização da diretoria do orfanato, que agora, consta nas mãos de Lee Minho. Coloquei meu livro na estante e preparei uma nova roupa para que eu pudesse me apresentar formalmente à diretoria para pedir permissão para que pudesse procurar um emprego.

Changbin, que já saiu ano passado, foi ajudado até mesmo a escolher um emprego bom, antes de se mudar e conseguir independência financeira. Mas antes era a Lee minsoo, obviamente ela faria tudo ao seu alcance.

Havia um uniforme próprio para quem era do orfanato, mas não era obrigatório, era usado mais quando havia visitas de adultos para adoção. Com isso, peguei o maldito uniforme, deveria me apresentar de uma boa forma para agradar aquele... novo diretor.

O uniforme era azul marinho e a calça já estava apertada, a blusa de botões branca estava curta, se levantasse os braços certeza que daria para ver meu abdômen, mas, é a melhor roupa que tenho. Infelizmente, não tenho muitas roupas, além desse uniforme, o da escola, o pijama e algumas poucas roupas casuais.

Após todos os meus preparativos pessoais, tomei meus surpressores como de rotina e me encaminhei até a sala do diretor. Bati duas veze e ouvi um "entre" daquela voz irritante e forçada. Me encaminhei até a frente dele com as mãos a frente do corpo, fiz reverência e limpei a garganta.

- Eu gostaria de falar sobre meu futuro. - Lee me olhou atentamente, analisando cada parte do meu corpo, minhas expressões e dando um sorriso de lado.

- Continue. - Me senti desconfortável, abaixei um pouco a blusa e coloquei o cabelo detrás da orelha.

- Eu deveria começar a arranjar algum emprego, com a sua autorização, para que, eu possa garantir uma renda extra quando eu fizer vinte anos e não residir mais no orfanato. - Falei tentando não o olhar nos olhos, por mais que eu soubesse que ele estava me olhando fixamente, abaixei de novo a blusa e tentei não me mexer demais.

- Esse uniforme está ficando pequeno. - Comentou. Fiz uma cara confusa, o quê isso tem haver com a conversa? Quis perguntar, mas me contive. Olhei ele se levantar e vir até a minha frente. - Você não acha? - Ele me puxou pelo braço e ajeitou a manga da minha blusa, depois desceu a mão até o último botão fingindo ajeitar, enquanto descaradamente eu sabia que ele tava passando a mão na minha cintura. Me afastei cerca de cinco passos.

- Não é sobre isso que eu vim falar, gostaria que mantesse a seriedade do assunto. - Disse já com raiva. Que filho da puta.

- Eu estava tentando apenas ver as medidas para um novo. - Cruzou os braços e eu olhei para o lado. Sei... - Sobre o emprego, você tem a minha autorização, mas quero toda e qualquer atualização sobre isso e que não seja em um lugar longe. - O ouvi dizer.

- Obrigado. - Fiz uma reverência.

- Han Jisung. - Me chamou. - Pode pegar apenas aquele livro para mim? - Concordei e segui até onde o indicador do diretor estava apontando.

Fiquei na ponta dos pés e levantei meus braços para que pudesse alcançar a prateleira, minha blusa subiu até demais e eu senti, eu senti aquele olhar, e eu poderia adivinhar que ele estava sorrindo enquanto me via tentar pegar o maldito livro. Me senti totalmente vulnerável e o alcancei rápido, foi tudo uma fração de segundos até eu o pegar e minha blusa quase virar apenas um pano em meu corpo.

O entreguei com raiva e ele parecia querer explodir em gargalhadas. Ele realmente deve pensar que sou uma piada, mas não, ele tava com o maxilar trincado e lambeu os lábios nervoso. Parecia estar segurando algo, ou escondendo.

- Obrigado. - Disse, mas sua voz estava falhada. Não disse nada e apenas saí. O ouvi soltar um suspiro quando fechei a porta.

Delusion •minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora