1.

150 15 0
                                    

Stella Williams.

Sexta Feira, 9:54 PM.

Chego em casa após mais um cansativo dia de escola e trabalho, é final de maio e a lanchonete já começa a ficar lotada por conta do começo das férias. Vou direto para o meu quarto onde tomo um banho e logo depois vou para a cozinha esquentar o salgado que eu trouxe.
Cristina, minha mãe, está lá encostada no balcão comendo uma maçã.

-Oi - cumprimento a mesma que me corresponde com um aceno de cabeça - Hélio já chegou?

Hélio é o meu padrasto nada legal que provavelmente só vai chegar hoje de madrugada e muito bêbado, isso já é uma realidade em uma terça feira qualquer, imagina em uma sexta, mas mesmo assim pergunto.

-Ele disse que iria fazer hora extra hoje - ela responde dando uma mordida na maçã e eu a olho na mesma hora.
Não é como se ela não soubesse que essa é só mais uma das mil desculpas que ele inventa para ir para um bar de esquina encher a cara. Tanto ela quanto eu sabemos que ele é um viciado de merda que gasta todo o pouco dinheiro que temos em bebidas e drogas, mas acho que ela prefere acreditar nas "mentiras" dele do que aceitar que ela provavelmente está sendo traída ou que todo o seu dinheiro está indo embora mais um final de semana.

-Ah - respondo e pego meu hambúrguer indo na direção do meu quarto.

-Stella - minha mãe me chama e eu me viro - Você vai pra casa do seu pai semana que vem?

Ela sabe que não. O meu pai resolveu dar um chá de sumiço desde o último verão e apesar de eu ainda mandar 50 mensagens por dia, ele ainda não me respondeu e talvez nem vai responder. Mas finjo que a pergunta não meu abalou e respondo que ainda não sei, voltando a seguir o caminho para o meu quarto.

Arthur, vulgo meu querido pai, não é e nunca foi a pessoa mais presente na minha vida. Ele se separou da minha mãe quando eu tinha seis anos e desde então, a luta pela minha guarda começou, mas não se enganem, a luta era pra ver quem não ia ficar comigo. Pois é, mas a justiça deu a guarda para minha mãe, contanto que três meses do ano eu iria ficar com o meu pai, desde então eu vivo todos os anos aguardando ansiosamente por esses três meses, porque os outros nove eu me sinto basicamente em um inferno já que minha mãe sempre deixa claro que não faz questão da minha presença aqui.
Na verdade, eu só estou vivendo esperando o dia que eu vou poder ter minha própria casa e morar sozinha sem nada que me prenda realmente aos meus pais.
No período do verão, que eu passo com meu pai, ele vive trabalhando e a casa fica praticamente inteira pra mim, não vou negar que me sinto sozinha mas pelo menos eu estou na praia e sem minha mãe falar todas as merdas que ela me fala e sem Hélio, meu padrasto, tentando me assediar ou pegar o meu dinheiro.

Eu trabalho desde que tenho doze anos em uma lanchonete do bairro, junto meu dinheiro e tento ao máximo não ter que depender de ninguém, mas eu também estudo e tendo só dezessete anos fica muito difícil, mas eu faço o possível e quase o impossível. As vezes eu me pego pensando o porquê eu tive que vir a esse mundo tendo a vida tão ruim que eu tenho, porra, não é possível que alguém tenha que viver assim, mas sempre que eu tenho esse tipo de pensamento eu lembro do que a minha vovó me falava:
"Tudo que acontece tem um propósito, inclusive você"

Dona Anne era uma mulher incrível, minha melhor amiga e a única pessoa que eu tinha e que eu podia contar nesse mundo, lembro dos seus conselhos inesquecíveis e de quando eu saía chorando pra casa dela e ela sempre me recebia com um bolo de chocolate e suco de morango, eu me sentia em casa só de estar com ela. Até que a um ano atrás, em um dia ensolarado na casa do meu pai em Los Angeles, enquanto eu lia um livro, a vida resolveu tirar ela de mim, me lembro até hoje da ligação do seu vizinho e me lembro até hoje da sensação de se sentir completamente sozinha, desde então essa é a única coisa que eu sinto.

Sinto meu rosto encharcado de tanto chorar e deixo que mais lágrimas caiam. Costumo evitar chorar, mas ultimamente isso é o que eu mais tenho feito.
Depois de mais ou menos uns cinco minutos eu vou até o banheiro lavar meu rosto e escovar os dentes, e já começo a me preparar para dormir, amanhã começa mais um longo dia, me deito e entro no instagram para ver se tinha algo de diferente, mas como sempre o que eu encontro é nada. Desligo o celular e não demoro muito a pegar no sono.

AFTER YOU | RAFE CAMERONWhere stories live. Discover now