Capítulo 8

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01/01/1991

Max encostou o carro em um posto de gasolina, desses que encontramos no meio da estrada e estão sempre lotados de viajantes  buscando alguns minutos de descanso antes de seguirem seus destinos.

Mas hoje estava praticamente vazio, e uma névoa esbranquiçada cobriam as janelas do estabelecimento, afinal, a madrugada de ano novo estava congelante.

Max encostou no balcão e pediu um chocolate quente, mas não estava tão cremoso quanto o da cafeteria da faculdade.

Ele ainda estava com algumas dores no corpo do incidente que ocorrera no Natal, mas os cuidados de Antônia naquela noite e os remédios, foram essenciais para que a dor não aumentasse durante a semana que se seguiu.

"Antônia" Max esboçou um sorriso enquanto lembrava dos momentos que tiveram juntos desde a primavera, a tarde no parque onde a viu pela primeira vez, as marcas de tinta no jaleco e as trocas de olhares pelos corredores.

Ele sabia que estava errado ao ir embora sem nem se despedir dela. Ele estava ciente que poderia estar deixando para trás a mulher da sua vida, a musa que ele tanto buscou para adicionar as suas pinturas.

Mas a carta que recebera no dia seguinte ao Natal, quando chegou em casa todo enfaixado, sonolento e apaixonado, o deixara completamente fora de si.

"Para Max

Filho, talvez quando estiver lendo essa carta seja tarde demais.

Como você sabe, Sua Tia Solange não anda nada bem, desde o começo do ano, e os médicos disseram que não restam muitos meses de vida para ela.

Os quadros dela já estão desbotando, e as tintas secaram no ateliê onde vocês costumavam conversar e pintar a tarde toda, e ela já não se lembra de quase ninguém.

A não ser do pequeno Max, por quem ela chama todos os dias e espera desde o amanhecer.

Ela precisa de você, e achei que você gostaria que eu te desse essa notícia.

Avise o seu irmão também, e venha o mais rápido possível.

Beijos
Tia Gertrude.”

Então ele resolveu todas as suas pendências com a faculdade, pediu afastamento por tempo indeterminado e no final de semana seguinte, pegou o carro e dirigiu sem parar até o Posto mais próximo de Aurora, sua cidade Natal.

Enquanto todos comemoravam a chegada de um novo ano, memórias antigas passavam por sua  mente, e apenas o chocolate quente o acalmava e o trazia de volta para a realidade.

Largou algumas moedas no balcão e agarrou a última para fazer uma ligação.

Parou em frente ao telefone por alguns segundos e pensou na reação de Antônia, acordando na madrugada com uma chamada desconhecida e tendo que ouvir as suas tristezas bem na noite de ano novo.

Desistiu, voltou para o carro e seguiu viagem.

Tia Sol não sabia mais pintar, havia esquecido como tocar seus instrumentos favoritos e mal conseguia falar.

Mas quando Max chegou, ela sorriu, o olhar distante se iluminou e foi ali que ele percebeu que não poderia ficar longe da mulher que havia criado.

Durante as semanas que se seguiram, a rotina era monótona.

Max acordava, dava bom dia para Tia Sol e ajudava Gertrude a buscar as compras no supermercado.

- Você tem sido um verdadeiro anjo Max, deixando sua vida de lado pra cuidar dessas duas irmãs velhinhas nesta cidade do fim do mundo.

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