Batatas?

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A moça olhou para Mary desconfiada, mas em nenhum momento deixou de descascar as batatas.

Mary por sua vez, parecia desesperada e olhava repetidas vezes para trás.

Mary: Tem homens me perseguindo, não sei o que querem, tenho medo do que possam fazer comigo. — Mary disse olhando para trás mais uma vez e esfregando as mãos de forma nervosa.

Moça: Você quer que eu te esconda? — A moça de olhos roxos que pareciam até mesmo uma ametista perguntou.

Mary: Sim! Sim... por favor!

Moça: Hmm, entre. A casa é simples mas, tem um esconderijo na parte do teto. Se me ajudar a pegar a escada você pode subir.

Mary ignorou as palavras da mulher e começou a escalar as paredes de madeira com as próprias mãos. A mulher observou aquela cena com dúvida, mas não parou de descascar as batatas.

Logo depois de subir, foram entregues a Mary suas malas. Ela estava escondida. Se fizesse silêncio seria impossível encontrá-la.

A mulher, com seus longos cabelos loiros, se apoiou na janela e continuou a descascar os legumes colhidos da horta atrás de sua casa. Mas, rapidamente foi interrompida com um estrondo. Os homens que perseguiam Mary derrubaram a porta da casa e a invadiram como cães de caça.

???: Onde está a Mary? — Um deles perguntou.

Moça: Quem é essa? — A mulher disse, colocando sua batata em uma cesta apenas com os legumes já descascados.

???: Não finja que não a viu. Ela veio para essa floresta! — O outro homem estranho falou em um tom raivoso, segurando o pulso da mulher com força. — Não finja que não sabe, sua...

O homem, levado, olhou para o decote "provocativo" no vestido da mulher. Ela levantou uma sobrancelha e olhou para o rosto dele.

Ao perceber uma chance de se dar bem, a mulher colocou uma das mãos sobre a testa e fez uma expressão de medo e tristeza.

Moça: Oh meu Deus, eu vivo aqui... SOZINHA, por tanto tempo... Ninguém vem me visitar. E quando alguém aparece, é me acusando de proteger uma criminosa. Eu me sinto TÃO humilhada...

A mulher jogou seu corpo invejável na frente do homem, que apenas a observava boquiaberto.

Moça: Será que algum dia... — A mulher deitou sua cabeça sobre o ombro do Homem. — Eu encontrei alguém que vai me querer bem?

O homem tentou dizer alguma coisa, mas da sua boca só saíram sílabas incompletas e estranhas.

???: Me desculpe, senhorita. Não vamos mais incomodá-la — O outro homem disse.

??? : Senhorita eu... posso saber o seu nome?

Moça: Cristina... meu querido.

Os homens saíram da casa de "Cristina" e depois de um tempo de espera, Mary finalmente pode sair do esconderijo.

Mary: Muito obrigada... Cristina.

Moça: Esse não é meu nome. — A mulher se sentou em um banco e voltou a descascar as batatas.

Mary: Mas você não disse a eles que esse era seu nome.

Moça: Você acha que eu os diria meu verdadeiro nome? Não sou idiota. Mary. Você também mentiu a eles sobre o seu nome?

Mary: Não... Eles descobriram.

Moça: Faz mais sentido. Aliás, por que está fugindo?

Mary: Devo mesmo te contar? — Mary disse colocando uma das mãos na cintura.

Moça: Bom, eu te ajudei a se esconder. Digamos que você me deve algumas explicações — A moça colocou mais uma batata descascada na cesta. Agora, só faltavam mais dois legumes a serem descascados.

Mary: Eu... Acabei escutando o que não devia. Agora eles estão atrás de mim.

Moça: E o que você escutou?

Mary: O escândalo sobre a poluição do Rio... Foi tudo armado.

Moça: Realmente, seria um grande segredo. Você fez bem em contá-lo para todos.

Mary: Eu só contei a uma pessoa. Bom... com você, agora são duas pessoas.

Moça: Mas de todo jeito, você fez a coisa certa. O rei é um homem bom, ele seria muito prejudicado caso ninguém soubesse da verdade.

Mary se sentou em um outro banco, ficando de frente para a mulher.

Mary: Qual o seu nome? — Mary perguntou.

Moça: Sarah.

Mary: E esse é seu nome de verdade?

Sarah: Sim. Não sou de inventar nomes.

Mary: Aham. Olha... por que você mora aqui? Sozinha, isolada, abandonada.

Sarah: Você não vai querer saber — Sarah pegou a última batata a ser descascada.

Mary: Eu já vi sua casa outras vezes. Mas achei que ninguém morava aqui. Só alguns casais de jovens que não tinham onde se "divertir". Se é que você me entende.

Sarah: Na verdade, eu costumava morar com alguém. - Ao dizer, a garota sente uma pequena tristeza

Mary: Quer contar sobre?

Sarah: E você escutaria?

Mary fez um sinal afirmativo com a cabeça e se ajeitou no banco de madeira.

Depois de horas conversando, Sarah contou que chegou a viver com uma garota. Yubin. Mas ela acabou morrendo, assassinada por guardas estranhos.

Sarah cuidou da jovem até os quinze anos dela. Até ela ser morta de forma brutal e impiedosa. E no fim, a garotinha só queria ajudar.

Mary, arregalou os olhos e colocou a mão sobre a boca.

Sarah: Agora eu vivo aqui, sozinha — Sarah disse, colocando na cesta a última batata.

A mulher de corpo desejável se levantou e levou sua cesta de batatas para fora da casa. Mary a seguiu até lá e colocou a mão sobre a cintura mais uma vez.

Mary: Você não tem medo?

Sarah olhou para a garota com dúvida, se agachando e ligando a torneira para lavar os legumes.

Sarah: Medo de quê?

Mary: Ora... De espíritos! E se o espírito da Yubin vir puxar o seu pé por não ter feito nada?

Ao escutar aquelas palavras, Sarah fechou a torneira e se levantou bruscamente.

Sarah: Acho que já está na hora de você ir embora — A mulher disse empurrando as costas de Mary para longe da casa de madeira.

Mary: Espera... e se os homens voltarem a me perseguir? Por favor, me deixe passar a noite aqui.

Sarah parou por um instante, olhando para baixo com tristeza novamente.

Sarah: Você não pode — Ela disse.

Mary: Por que não? Por favor, me ajude só mais uma vez.

Sarah: Se você ficar aqui morrerá. É mais seguro fugir para outro Reino e tentar uma nova vida.

Mary: Por quê? Por favor! Antes eu morrer aqui do que sofrendo na mão daqueles caras. E, porque eu morreria? Não tenho nenhuma doença...

Mary arregalou os olhos mais uma vez cobrindo a boca e apontando para a casa.

Mary: O ESPÍRITO DA YUBIN ESTÁ AÍ?! QUE HORROR, EU SABIA — Mary gritou enquanto fazia o sinal da Cruz loucamente.

Sarah: Não é por isso!

Mary: Ah, então me deixe ficar.

Sarah respirou fundo e acenou com a cabeça.

Sarah: Só uma noite.

Mary deu pequenos pulos de alegria e abraçou a mulher rapidamente.
Depois que entrou, Sarah deu um sorriso curto e voltou a lavar as suas batatas.

Os seis caminhosOnde histórias criam vida. Descubra agora