O moreno queria partir alguma coisa, de repente sentiu falta do ginásio da base militar onde podia bater e lutar sem ninguém o criticar, mas por causa da sua lesão não poderia voltar, estava com uma "dispensa honrosa". O facto de Jessica aparecer no momento em que a sua vida estava a entrar nos eixos não traria nada de bom, principalmente para Paul, que para seu profundo desagrado havia assistido a todas as horríveis discussões entre eles.
Passos baixos, quase tímidos ecoam pelo corredor, não era preciso virar-se para saber que se tratava de Rey que caminhava a passos cautelosos na sua direção. Um sorriso involuntário surge no seu rosto pela atitude calma da sua namorada, ela queria que ele se mantesse calmo e andava a passo de gato com a intenção de não despertar a sua raiva em relação ao que aconteceu, mas era em vão, ele sabia sempre quando ela se aproximava.
- Ben. Estás bem? - pergunta preocupada.
Um sorriso tristonho surge no seu rosto anguloso. - Estou bem. E o Paul, como está? - pergunta.
- Ele adormeceu, acho que foi um choque muito grande a mãe ter aparecido de repente. - diz no seu tradicional tom amistoso, que como sempre era acompanhado com um sorriso gentil.
Um silêncio constrangedor toma o ambiente, Rey encara o seu casaco e mala no cabide junto da porta. Ao perceber a intenção o moreno logo trata de tentar impedi-la a sair porta fora. - Ouviste o que ela disse? Ouviste a discussão? - pergunta, apesar de já saber a resposta a essa questão.
- Ouvi. Desculpa, é que não deu para evitar ouvir...isto é, vocês estavam a gritar. - diz, tentando justificar-se.
- Eu sei que tens vontade de ir embora eu não te julgo por isso, mas gostava que ficasses e me deixasses contar a história toda. - pede.
Os seus olhos negros imploravam por ela, de repente um pensamento de tristeza toma conta dela. Após toda aquela discussão o seu primeiro instinto foi pegar nas suas coisas e sair porta fora, mas agora que ouvia aquelas palavras pedintes e encarava aqueles olhos intensos que imploravam por ela, sentiu-se a pessoa mais egoísta do mundo, ela tinha de ouvir o que ele tinha a dizer.
Caminhando até o sofá e sentando-se direita envia um olhar incentivador ao moreno, ao que o mesmo suspira e desbloqueia as suas memórias. - A Jessica sempre foi ciumenta, diria até mesmo controladora. - diz passando as mãos nos cabelos negros. -Tudo piorou quando ela engravidou, o meu capitão deixou-me fazer trabalhos menores para que eu conseguisse vir a casa uma vez por mês, com uma autorização especial é claro. - diz parando novamente.
Rey acaricia o seu braço dando-lhe um incentivo silencioso. - Ela chegou a ligar para o número da base militar para confirmar se eu realmente lá estava, chegamos a ter longas conversas em relação a isso. Nesse tempo a minha mãe ajudou bastante, também porque estava toda emocionada em ser avó. - diz sorrindo divertido.
Novamente o silêncio reina por alguns segundos. - Vamos Ben, eu quero saber de tudo. - incentiva, a sua curiosidade sendo maior que ela.
Ele queria tirar tudo do peito, então mais valia contar de uma vez. - Quando a gravidez estava quase a terminar eu tive uma lesão e com dispensa voltei para casa, dois meses depois o Paul nasceu e as coisas descambaram de vez. - diz, tristeza na sua voz.
- Ela teve depressão pós parto? - pergunta, apesar de já saber a resposta.
- No nível máximo, começou a beber, saia de casa sem avisar, ás vezes por dias e aparecia bêbada. Gritava comigo, com o Paul, com a minha mãe e até com os meus ex sogros, partia coisas. Foi assim por anos, então passamos a viver vidas separadas. Mas o pior de tudo, foi quando ela agarrou numa faca de cozinha e tentou atacar-me e ao Paul. - diz sentando e levando as mãos á cabeça.
Rey acompanha-o, não conseguindo acreditar como podia uma esposa e principalmente uma mãe fazer tal coisa. - Meu deus, eu lamento muito Ben.
- Ela foi presa e quando saiu pegou nas suas coisas e saiu porta fora. Soube pelo meu ex sogro que ela foi internada numa clinica mas não ficou muito tempo e andou nisso nos últimos anos. Chegou a mandar cartas a pedir desculpas e a dizer que me queria de volta, mas o que mais me chateou foi o facto de ela nunca, mas nunca ter mencionado o meu filho. - diz frustrado. - Depois disso eu segui a minha vida, ganhei total custódia do Paul e as poucas notícias que tive dela foi pelo Andrew e pela Susan, os pais da Jessica...mas eles faleceram num acidente de carro no ano passado. - diz triste. - Então deve ser por isso que ela saiu da clinica onde estava, as contas já não eram pagas. - deduz.
- Ben, obrigado por me contares a história toda. - diz, aproximando o seu rosto e juntando os seus lábios.
Os dois afastam-se quando falta o fôlego. - Obrigado Rey. - agradece.
A morena puxa-o para si e abraça-o, deixando-se ficar assim por algum tempo como se estivesse a embalar uma criança.
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My Salvation || Reylo AU ✔️
RandomBen Solo é um ex militar e pai solteiro, Rey é uma professora primária e jovem sonhadora. Ambos extremamente solitários, com apenas um pequeno grupo de amigos, que nem sempre os entendem. Mas após se conhecerem melhor, compreendem que talvez a aceit...