Capítulo 2

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O rapaz com a máscara divida em preto e branco permaneceu quieto e atento à figura feminina na sala e ao olhar desejoso do palhaço. Os cabelos oleosos do homem à sua frente estavam jogados para trás e o copo estava somente com 3 cubos de gelos. Uma de suas mãos segurava o copo já vazio enquanto que a outra permanecia por baixo da mesa. Por um segundo, os olhares de ambos se cruzaram. Nenhum dos dois desviou os olhos sob o outro.

-Sua ladra sem vergonha – Diz o homem gordo com a máscara de coelho -Como se atreve a me roubar, sua rata! - Ele retira seu disfarce e mostra sua grande cara redonda, suada e com um bigode branco marcante que se mistura com os pelos cinzas que saem do nariz -Vou quebrar seus dedos até virarem carne moída– Ele ergue a mão aberta para atingir a jovem no rosto, a qual permanece imóvel durante todo a cena.

-Não é permitido arruaças nesse estabelecimento, Senhor -O segurança, que até então estava ao lado na porta, segura o braço do velho antes que este pudesse tocar na ganhadora.

O velho olhou do segurança para a moça com os olhos ferozes e raivosos. A jovem continuava quieta e vitoriosa por trás da cena com o pescoço erguido e o rosto impassível, como se fosse intocável. Sua expressão inspirava o prazer que ela sentia por cada traço de irritação que o perdedor tomava com o decorrer do tempo.

-Solte-me, imediatamente – o segurança não pestanejou em obedecer aos comandos do homem.

O homem, cada instante com o rosto mais vermelho, arrumou seu paletó, sacudiu suas vestes e colocou sua máscara. Antes que virasse as costas para os adversários, disse com a enorme barriga estufada e mirando na moça, que estava com as pernas cruzadas e as mãos por trás da cabeça:

-Obrigada pela noite, senhores. Temo que não iremos mais nos encontrar, já que o ambiente anda tão mal frequentado. - A moça colocou suas mãos em cima da sua coxa e soltou uma risada baixa e orgulhosa ao ouvir as palavras grosseiras do velho.

O homem caminhou com passos fortes até a porta e a escancarou com violência, sem olhar para trás por sequer um segundo. Ele fechou a porta tão forte quanto a abriu.

-Bom, meninos, foi ótimo passar essa noite na companhia de cavalheiros tão educados – A jovem diz sarcasticamente enquanto olha para os dois restantes jogadores na mesa. – Quem sabe, outra noite podemos repetir a dose-Ela diz isso com um sorriso aberto e provocativo, o qual homem com a máscara de palhaço retribui com um puxar de lábios. O outro jogador, encostado na cadeira e com o corpo um tanto quanto jogado, continua analisando o homem com a máscara de palhaço.

- Então, se me dão licença- A garota levanta-se subitamente da cadeira, que deslizou para trás com o movimento rápido.

O corpo esbelto balança em uma dança harmoniosa com os cabelos longos e soltos com o decorrer dos passos que dá em direção a porta. A pele clara se entrelaça com o cabelo castanho e ondulado, que cai pelas finas costas da jovem como uma cachoeira. As pernas grossas e o quadril largo contrastam com a cintura fina.

-Antes que eu me esqueça, bonitão – A bela moça se vira para o dealer com o paletó vermelho vinho encolhido no fundo do estabelecimento – Você acerta pra mim no caixa? - Ela diz com um tom delicado para o menino, que responde com um aceno de cabeça tímido e a cabeça abaixada.

A menina continuou a caminhada até a porta com tanta agilidade quanto entrou na sala, com os olhares embasbacados e zelosos dos outros jogadores em suas costas. Quando ela tocou na maçaneta com delicadeza e abriu a porta, o barulho exterior tomou conta de seus ouvidos. Pelo visto, o amadurecer da noite trouxe novos amantes da escuridão para fora das suas casas. O cheiro de entorpecentes e cerveja tomou o nariz da garota tanto quanto os gritos de prazer das mulheres dos quartos adjacentes. Antes que pudesse adentrar o pútrido bar, uma voz grossa chamou sua atenção para a mesa redonda que havia deixado atrás de si.

ResistentesOnde histórias criam vida. Descubra agora