Capítulo 4

0 0 0
                                    

A testa bronzeada de Nate estava tensa e o suor escorria pelo seu rosto, cada movimento com a espada eram fortes e precisos, os desvios eram ligeiros, seus pés tocavam o chão como se estivessem em uma dança. Cada ataque que fazia contra seu adversário, era defendido com maestria, não que ele esperasse que fosse diferente. As botas marrons finas permitiam que a sensação do piso de rocha com alguns pedregulhos fosse sentida enquanto o sol ardia forte em suas costas nuas. As tatuagens tribais pretas que nasciam do seu peito e andavam até as costas e ombro esquerdo brilhavam devido ao esforço físico. Os giros e as defesas fantásticas que Nate fazia durante o combate harmonizavam com os traços retorcidos e circulares da tatuagem preta e grossa. O sol refletia na lâmina das espadas de forma majestosa, fazendo com que se assemelhassem a espelhos lânguidos.

-Chega! – Narrok se apoiou com as duas mãos nos joelhos, a respiração estava ofegante, sua camisa estava encharcada como se tivesse sido jogada no rio, os braços grandes e musculosos estavam avermelhados devido aos ritmo acelerado da luta. Nate não demorou para se jogar no chão e sentar com as palmas estendidas para trás, quase em posição para se deitar sob a poeira.

Nate e Narrok se olharam por alguns segundos, suas faces cansadas e ruborizadas. A respiração acelerada implorava por alguns goles de água. Suas cabeças zuniam por causa dos esforços e o calor latejante. O verão estava mais rígido naquele ano.

-Por hoje, seu treinamento foi completado- Narrok ergueu a postura e disse com a voz firme de sempre. A barba loira cacheada com pequenas tranças balançou com a brisa de vento que refrescava as peles grudentas deles. A mão enorme de Narok com luvas de couro se estendeu em direção a Nate, que a agarrou rapidamente.

-Os sentinelas informaram mais algum avanço da tribo do Norte desde ontem a noite? - Nate não se demorou para perguntar aquilo que estava o consumindo por dentro desde o início do treino. Seus pensamentos se desviavam para a ameaça inimiga fazia dias, e nada conseguia retirar sua preocupação.

-Agora entendi porque senti que estava mais lento hoje– Narrok retrucou enquanto andava para sair da arena de combate, sem se incomodar em olhar para Nate.

-Faz 5 dias que não temos nenhuma notícia sobre eles, nenhum avanço, nada. – Nate se apressou para acompanhar Narrok, que tinha as penas tão compridas quanto as dele. –Esse silêncio repentino é estranho.- Seus olhos ficaram fixos no rosto de Narrok enquanto andavam para as escadas de pedra.

-Eu sei- Narrok diz pensativo. – Talvez, seja hora de perguntarmos aos ancestrais o que eles acham que devemos fazer. Você já está na hora de se casar mesmo.

Nate não responde ao comentário, fazendo com que o barulho das passadas dos dois homens preenchessem o vazio que se estabeleceu na conversa.

Finalmente, haviam chegado na escadaria estreita de pedra. A largura pequena fazia com que Narrok e Nate não pudessem mais andar lado a lado. Os degraus pequenos forçavam com que olhassem com atenção para os pés.

-Mas temos outras opções além de um casamento forçado entre você e a filha de algum militar da tribo do Norte - Narrok continuava a descer os degraus um por vez – Afinal, não sabemos quais são as verdadeiras intenções deles com essa aproximação súbita.

Nate não resistiu ao grande suspiro que seguiu após perceber que essa conversa não iria tirar o fardo que sentia nas costas "Porque eles iriam querer se aproximar de nós depois de tantos anos sem contato e com o Pacto de Paz ter sido selado e respeitado?", sua mente martelava esse questionamento enquanto descia a escada atrás de Narrok.

Depois de meia hora, eles desceram o último degrau da grande escadaria. Mulheres com saias longas e sandálias andavam com potes de água na cabeça, algumas tinham crianças amarradas nas costas e grandes bateias com sementes, castanhas e frutas. Outras usavam vestidos coloridos com pequenas medalhas penduradas nas bordas dos tecidos e com grandes ornamentos, como brincos e pulseiras. Homens andavam com cabras e bodes pelas ruas do vilarejo, artistas tinham panos abertos no chão com diversos utensílios, desde pedras de beleza exuberante até jarras de barro enfeitadas de forma artística. As crianças corriam com bolas e faziam brincadeiras, o sorriso contagiante nos seus rostos fazia com que os idosos sentados nos bancos de madeira maciça se lembrassem dos tempos de juventude.

ResistentesOnde histórias criam vida. Descubra agora