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-Agora não tem como voltar atrás, está preso comigo, Shin.
-Preso...? Não, gatinha. Você é minha liberdade.
"Onde nem as brincadeiras cruéis
do destino pôde separá-los..."
...
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Os dois rapazes se encontraram na cafeteira do hospital. Já haviam avisado para Ryoko e Keisuke que Chihiro havia nascido e esperaram que o irmão e mãe da garota chegassem para ficar com ela enquanto eles comiam.
-Cara... a um tempo queria conversar com você uma coisa -Wakasa olhava para Shinichiro com uma feição séria enquanto mordiscava o canudo que usava para beber o refrigerante que comprou -Já faz um tempo que... aconteceu uma coisa mó louca.
Shinichiro não sabia do que se trava, mas ficou curioso e se atentou as palavras do amigo.
-Há uns meses tive algo que no início achei ter sido um pesadelo muito longo... mas não fazia sentido aquilo ser um sonho, estava mais para memória.
Shinichiro ficou tenso na mesma hora, ele sabia do que Waka estava falando pois sentiu o mesmo oito meses atrás, quando sua esposa foi morta.
Ele começou a tremer, não havia superado aquela experiência e sensações. Tinha pesadelos na maioria das noites com ela dentro de um caixão, com ela morrendo na sua frente, lembrando-se dos sons das palavras que ela tentava dizendo enquanto se afogava no próprio sangue, do jeito como se sentiu morto quando se tocou que não conheceria seu filho.
-Eu me lembro... da Myiu estar morta, Shin. -Wakasa falou fazendo o amigo engolir seco. -Ela foi atropelada por uma moto e nem aguentou chegar com vida ao hospital. -Shinichiro odiava lembrar daquilo. Chegou ao ponto de começar a tomar o rivotril, que Myiu usava para se acalmar em meio crises de ansiedades, para conseguir dormir sem ter tantos pesadelos, ou ao menos não lembrar deles.
-Eu sofri muito e durante meses, até que... o Keisuke se apunhalou e morreu também. -Wakasa soltou uma respiração pesada e continuou -Lembro que saímos para beber depois do enterro dele e você... você matou um morador de rua. Tentei te segurar mas, você me acertou.
Wakasa falava com aquele olhar de tédio no rosto enquanto lia todas as expressões de Shinichiro.
-Você matou o velho e quando fui te chamar para sairmos do lugar, simplesmente acordei em casa. A Myiu estava viva, Keisuke também e todas aquelas cicatrizes que você possuía no corpo haviam sumido. Olhei a data e era 31 de agosto. Exatamente dois meses antes, a data do acidente. Acidente esse... que nunca aconteceu.
Shinichiro não sabia o que dizer ou como desmentir tudo aquilo. Porém mesmo que conseguisse tentar retrucar tudo, os sinais do seu corpo mostrariam o contrário. Ele ia se desesperar, acabou de descobrir que seu amigo não só sabia mas também se lembrava de tudo.
-Passei muito tempo tentando me convencer que foi um sonho longo e demorado. -Continuou a falar- Mas, quando comecei a prestar atenção em você, vi que você ainda possue hábitos que eu me lembrava, como ficar observando os pulsos, como se as marcas de cortes ainda estivessem aí.
Shinichiro, enquanto tremia, abaixou a cabeça apoiando em suas mãos. Havia sido pego, seu amigo sabia de tudo, e ele não fazia ideia de como reagir aquilo. Mas não mentiria, ele tinha que aceitar o que tinha feito. Tirou a vida de um senhor de idade brutalmente e de forma cruel.
