Tudo tem seu risco
Capítulo 16
O celular despertou e eu custei a levantar, fiquei deitada alguns minutos pensando no que eu poderia fazer... Faltar? Ir ao médico inventando uma conjuntivite, uma dor de cabeça, uma cólica forte? Não, o que eu deveria fazer era ir trabalhar e pronto.
Sai de casa atrasada e no caminho decidi que o melhor a fazer era procurar o diretor e falar o que aconteceu. Afinal o que poderia acontecer? Ser afastada por molhar de café a carta que um bandido recebeu. Percebi então que eu estava fazendo na verdade uma tempestade em copo d'água. Que independente do conteúdo da carta, e mesmo tendo sido eu quem molhou, o problema de fato não era meu. Foi um acidente não um crime. E acidentes acontecem, crimes podem ser evitados. E o criminoso ali não era eu.
Não precisei procurar o diretor, nem cheguei a me sentar a mesa e ele mesmo me chamou
- Bom dia querida, como está?
- Bem.. e o Senhor
Ele suspirou e disse que estava bem, mas claramente não estava.
- Evinha me desculpe te chamar assim tão cedo, antes de você sequer se acomodar e tomar seu café, mas é que eu preciso falar com você
- Imagina eu também preciso falar com o Senhor então de uma forma ou de outra eu..
- Só um minuto - o telefone dele tocou - Estou tratando disso nesse momento - ele disse ao telefone, - em alguns instantes eu te retorno- ele colocou o telefone no gancho- Eva como eu estava falando, você leu alguma carta ontem? Aliás - ele sorriu - a pergunta não é bem essa, porque eu sei que você leu dezenas de cartas ontem, mas uma carta em específico, direcionada ao Marcos Ribeiro... O gigante - senti minhas vistas escurecerem, engoli seco, tentei manter a calma, mesmo mordendo os lábios e balançando as pernas feito uma maluca. - Eva?
- Oi?
- Então.. você recebeu alguma carta direcionada a ele e por acaso, ou um por algum motivo esqueceu de repassar? Olha Eva, eu não estou desconfiando do seu trabalho, por favor não me entenda mal, mas é que desde ontem quando o malote de cartas desceu para serem distribuídas e esse homem não recebeu a dele que ele tem feito da vida dos meninos lá debaixo e em consequência a minha um inferno, porque segundo ele nos não entregamos a carta dele por "pirraça" pra dar um castigo nele. Pra você ter uma noção eu já estava deitado ontem quando o Sandro, o carcereiro da noite me ligou perguntando dessa carta.
Nesse momento eu já estava quase que totalmente sem ar, minhas mãos soavam e eu também sentia o suor escorrendo pelas minhas costas.
- Como eu te disse Evinha, não é desconfiança, mas eu sei que você lê muita carta e talvez justamente essa tenha passado batido, você esqueceu de ler, ou de mandar, eu juro que quero muito que você me fale que sim.
- Não - eu respondi de prontidão já me arrependendo amargamente da minha resposta - quer dizer não sei, algumas cartas ainda estão lá na minha mesa para serem lidas ontem foram muitas e eu não terminei - mais uma vez eu menti sem querer, parecia algo incontrolável, mas a feição de alívio do chefe era notória
- Então deve estar no meio dessas, Eva eu sei que você acabou de chegar talvez nem tenha tomado seu café, mas por favor verifica se está lá no meio e se tiver me entregue o mais breve possível. Eu vou dar uma saída pra resolver algumas coisas qualquer coisa me ligue, ou me mande mensagem que estou no celular. E você o que ia mesmo me dizer?
- Nada não, era... Na verdade era isso mesmo eu ia dizer que não consegui ler todas as cartas ontem mas que agora na parte da manhã eu vou fazer isso.
- Ah sim, então por favor... - ele disse já se levantando e quase que saindo da sala junto comigo - Obrigada Eva, espero de verdade que essa carta esteja lá, porque a última coisa que quero é arrumar mais problemas com esse problemático
- Eu ainda não entendi porque você não falou a verdade
- Eu também não, Vânia eu juro que eu tô tentando entender
Depois que diretor saiu eu desci pra pegar um café e encontrei Vânia e contei pra ela o que havia acontecido
- Melhor você procurar o Dr. Robério e falar a verdade, ele vai entender, sei lá fala que foi a pressão, que você foi pega de surpresa com as perguntas dele.
- Ele vai me perguntar porque eu não disse ontem o que aconteceu
- Então eu não sei o que falar amiga, diz que você não encontrou a carta pronto.
- Você não viu a cara que ele tava, a esperança dessa carta estar comigo ainda
- É... Não se fala em outra coisa aqui além da raiva que o gigante tá, tá todo mundo com medo dele.
- Pior talvez seria se ele soubesse o teor da carta...
- Então, essa é a sua deixa, diz ao chefe que a carta estragou e diz também o que tava escrito. Ele vai entender
Fiquei alguns minutos pensando e me veio uma ideia na cabeça.
- E se eu escrever outra carta?
- Ãnn?
- Isso, e se eu escrever outra carta eu me lembro o que tava escrito e me lembro bem da caligrafia da tal da Luana, já li tantas vezes as cartas dela..
- Tá maluca? E se o gigante desconfiar da letra?
- É um risco que eu corro, mas talvez seja menos arriscado do que eu falar pro chefe que desastrosa mente eu derrubei café na carta mais importante do presídio
- Aí Eva, não sei... Ainda acho que é melhor você falar a verdade.
- Por um lado eu também, mas se eu tenho a possibilidade de escrever outra eu acho que é melhor, porque se ele não desconfiar da letra eu simplesmente acabo com isso e ponto
- O problema também está no que estava escrito nessa carta, eu nem sei se é pior você escrever a carta ou deixar pra lá.
- Melhor eu escrever Vânia, vou arriscar
- Eva? - Ricardo entrou no refeitório pálido feito um papel- me diz que você achou a carta daquele monstro?
- Eu..
- Eva pelo amor de Deus, esse homem precisa ler a carta daquela vadia - Dava pra ver o ódio nos olhos de Ricardo - pra ver se ele se acalma, porque se não eu nem sei...
- Eu tava aqui tomando café, vou subir pra procurar agora.
- Por favor Eva, quando achar me chama no rádio que eu subo pra pegar, e eu espero que ela tenha escrito coisas lindas pra ele dessa vez porque se não quem vai se foder somos nós
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Tudo tem um risco
RomanceNada poderia dar errado na vida de Eva, uma moça simples, dedicada e com princípios. Porém sua vida muda quando se apaixona por uma pessoa do lugar onde trabalha. Nada anormal se ela não trabalhasse em um presídio.