{Capítulo 2}

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Ao despertar pela manhã, Ana sentiu-se melhor após a noite de desconforto. Contudo, a consciência de que era sábado a deixava meio entristecida, pois costumava passar os finais de semana com seus amigos em praças, shopping, lojas ou apenas dando voltas pela cidade. Suas memórias foi até Lucas, seu melhor amigo de infância. Mesmo que tenham tentado um romance no passado, ambos concordam que isso foi uma frustração, Os interesses amorosos de Ana haviam tomado outros rumos. E Lucas não se sentiu nada ofendido com isso, era como um irmão mais velho para Ana, Ela retornou à realidade se sentando na cama e notando uma cadeira que foi colocada à frente de sua cama. Quem a teria colocado ali? Esquecendo momentaneamente a cadeira, Ana levantou-se e ao descer as escadas, percebeu a ausência de seus pais na cozinha. Imaginou que estivessem em algum lugar do campo, dedicados à plantação ou à análise do solo. Seus pais eram agricultores pequenos, tirando sustento de um pedaço modesto de terra. Seu pai preferia ficar ao computador, analisando o solo de longe, enquanto sua mãe, como ela mesma descrevia de forma descontraída, era mais "raíz" apreciando sujar as mãos na terra e plantar com dedicação, ao chegar à cozinha, percebeu que os móveis da antiga casa já haviam sido arrumados, chegando ontem com um pequeno atraso. Os pertences chegaram por volta das 14:00, desencadeando uma pequena discussão entre Helen e o caminhoneiro. Que alegou que a cidade era esquecida, não constava em nenhum aplicativo de rotas e mapeamento, tornando difícil encontrar o local. buscando normalidade, pegou uma xícara do armário e preparou seu café da manhã, colocando pães na torradeira.
Ao respirar fundo e direcionar seu olhar pela janela da cozinha, deparou-se com a figura de um homem com um chapéu de palha grande a uma distância que o fazia ficar pequeno. A silhueta do desconhecido era tudo o que ela conseguia distinguir. Apertando os olhos para tentar enxergar melhor, confirmou que havia, de fato, alguém a observando de longe. O homem começou a descer a pequena colina de costas, sem sequer lançar um olhar para trás. Seu modo de andar era peculiar, com movimentos rígidos e ausência de movimentação nos braços. Descendo o morro que ficava no topo, a casa de ana era em uma colina alta que dava vista para toda a cidade que ficava em uma área aberta, mas envolta de algumas colinas pequenas, a estranheza causada pela presença distante do homem ficou na mente de Ana, mas em uma cidade pequena como aquela, estranhos encontros eram parte da rotina, e ela não deu muita importância.
— Tá queimando —disse seu pai, provocando um pequeno susto em Ana, que deu um pulinho,
— Ah, sim, eu me distraí. Onde vocês estavam?
—A gente estava no trabalho, quero dizer... Sua mãe estava no trabalho, eu decidi ficar na salinha de novo —disse Rodrigo com um sorriso no rosto.
—Como vocês acabaram encontrando esse lugar? O caminhoneiro disse que nem estava no GPS.
—Sua avó, antes de desaparecer, ela falava muito dessa cidade, A gente se apertou um pouquinho, mas valeu a pena, entende?
—Entendi, Posso dar uma volta pela cidade hoje?
—Claro, só não tente puxar assunto com os idosos. Eles... não são muito acolhedores.
—É, eu percebi  —disse Ana se lembrando da senhora Hostis e do homem que viu horas antes
—Vou indo então, vim só pegar meu carregador, até mais tarde —disse Rodrigo, dando um beijo na testa de Ana, Ela sorriu de volta e viu seu pai saindo pela porta dos fundos que dava acesso ao campo onde eles estavam começando a plantar.
—Ah, sim, já ia esquecendo. Na segunda-feira, vem um homem instalar o roteador na casa.
—E tem internet nesse buraco?
—Eu fiquei impressionado, mas tem, só não acho que seja das melhores.
Ele saiu da cozinha, e ela apenas ouviu o bater da porta, voltou a olhar com desconforto para o mesmo lugar onde o homem estivera parado.
Após o café, Ana subiu as escadas e dirigiu-se ao seu quarto, calçando suas botas de cano alto. Acreditava que as botas transmitiam uma sensação de segurança contra possíveis surpresas indesejadas, como cobras venenosas. Descendo a pequena colina, andou por uma pequena estrada de terra que cercava sua casa, observou um gambá deslizando em direção à mata, causando-lhe calafrios com a simples visão do animal, chegando na pequena cidade, notou que a população era majoritariamente idosa, o que a deixou desconfortável, explorou a cidade e encontrou diversos bares, provavelmente a principal opção de lazer para os mais velhos. Finalmente, avistou alguns jovens em uma praça, que ficava no centro da cidade, pensou que aquela deveria ser a única praça, mas não era, na cidade havia mais três praças, mas aquela era a principal, era adornada com bancos de madeira, flores e árvores, enquanto um coreto bem cuidado ocupava o centro da praça. Olhando mais a sua volta, avistou uma máquina de sorvete operada por um senhor de aparência simpática, ele vestia calças marrons, sapatênis e uma boina na cabeça, usava uma camisa de botão cor de creme.
—Oi, bom dia. Quanto custa o sorvete?
—Bom dia, jovem. A casquinha sai por 3,50, o cascão por 6,00, qual você vai querer?
—Vou querer um cascão mesmo.
—Qual sabor?
—Quais são os sabores?
—tem de chocolate, creme, misto e  recentemente chegou o sabor de morango.
—Vou querer o de morango.
Ana pagou pela casquinha e despediu-se do senhor, que não respondeu, apenas permaneceu parado com um sorriso no rosto. Ao virar as costas, Ana não percebeu que o senhor cessou o sorriso e a encarou com uma expressão vazia enquanto ela se afastava, entregue à doçura do sorvete, escolheu um banco estrategicamente posicionado para ficar de baixo da sombra, sentir a brisa suave e saborear o deleite gelado. a calmaria do local contribuía para uma experiência agradável. Contudo, seu olhar perspicaz captou a presença de uma biblioteca ao longe descendo uma rua,
Ao entrar na biblioteca, um cenário distinto se apresentou. Uma senhora no balcão, de semblante peculiar, gordinha e baixinha, seus cabelos presos em um coque apertado, trajava uma camisa azul escura e uma saia jeans, um óculos meia lua adornavam seu rosto com uma cordinha enfeitada com pequenas pedras roxas, a senhora, com a voz marcada por décadas de tabagismo, rapidamente a repreendeu por portar alimentos no recinto. Ana, sem emitir palavra, descartou o que restava do sorvete.
—Agora, lave as mãos
sua voz autoritária ecoando pelo espaço. Ana, contrariada, dirigiu-se ao banheiro para cumprir a exigência. Após lavar as mãos, retornou à biblioteca, encontrando um ambiente que combinava com o mistério e a contemplação.
Explorando a seção de fantasia, deparou-se com uma placa de madeira que tinha escrito nela com letras bonitas "Museu de boa primavera" ao lado de uma escadaria que a conduziu a um museu. Ali, entre artefatos antigos da cidade, instrumentos musicais de uma banda local do passado e fotos dos 10 prefeitos que governaram o local, uma sensação de nostalgia e curiosidade a envolveu. Contudo, seus pensamentos foram interrompidos pela visão de um livro peculiar, sem título, protegido por uma caixa de vidro e um cadeado de ouro excepcionalmente elaborado.
Ana, prestes a tocar na caixa, foi surpreendida pela voz da senhora do balcão.
—Nada de tocar nos artefatos, mocinha —advertiu a senhora, surgindo atrás de Ana e causando-lhe um sobressalto.
—Meu Deus, a senhora estava me seguindo? indagou Ana, perplexa.
—Sim, não é para colocar as mãozinhas nos artefatos —respondeu a senhora com firmeza.
Sentindo-se desconcertada, Ana deixou o ambiente da biblioteca, abandonando-o apressadamente e lamentando que sua primeira impressão da biblioteca foi péssima, O livro envolto pela caixa de vidro e guardado sob o cadeado de ouro, tornou-se uma constante obsessão nos pensamentos de Ana. Cada detalhe, desde a sua presença solitária até a aura de mistério que o envolvia, semeou uma semente de curiosidade que florescia incessantemente em sua mente. A visão do homem bem vestido, imerso em seu traje formal de terno e gravata, parado à porta da casa de Ana, intrigou-a profundamente. Seu olhar, perscrutando cada detalhe da residência de cima a baixo, conferia à cena uma atmosfera de mistério e suspeita.
Ana, mantendo uma distância discreta, observava o homem, tentando decifrar suas intenções. O contraste entre a formalidade de seu traje e o ambiente simples da cidade pequena aumentava ainda mais a curiosidade de Ana. Quem seria aquele homem? E o que o levava a analisar tão minuciosamente sua casa?
Com passos cautelosos e uma mistura de intriga e curiosidade, Ana foi se aproximando do homem bem vestido.Com coragem, Ana decidiu quebrar o silêncio.

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