I - Cute et operies te, et oculi mei mentiantur

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peignoir (definição por dicionário): vestimenta feminina caseira, de tecido leve, corte confortável e ger. aberta na frente, us. sobre a roupa de dormir ou a roupa de baixo; robe, quimono.

Adora é rei nessa fic pq eu vi o headcannon na gringa de que ela provavelmente não seria uma rainha e sim, um rei, e não consegui mais desver.

Nesta fic, essa recorrência não tem nenhum impacto na sua identidade de gênero ou social. Neste mundo criado por mim, você pode escolher ser chamado da forma que você quiser e Adora quer ser rei. É isso. Tô explicando porque percebi que eu simplesmente não elaborei isso ao longo da fic.

[...]

I - Cute et operies te, et oculi mei mentiantur
(se cubra com a minha pele e minta olhando nos meus olhos)

Adora está ofegante ao seu lado, enquanto Catra, com as mãos postas uma sobre a outra em seu estômago, olha para a arquitetura do teto de sua cama de dorcel, irritantemente confortável, como se ela estivesse deitada em cima de penas de ganso ou alguma porra assim, e fica cada vez mais emburrecida com os sons de sua esposa recém-casada.

Não a entenda mal, apesar de sempre fazer tudo o que está ao seu alcance para não gostar da companheira, ela, para desgosto próprio, aprecia muitos dos sons produzidos por Adora. Principalmente aqueles baixinhos como sussurros, produzidos ao pé do ouvido, parecidos com aqueles que a loira estava fazendo há alguns segundos. Catra simplesmente não gosta desse som. O som que vem depois. O som que significa que, e ninguém jamais vai pegá-la admitindo isso, ela tem que ir embora.

Não que a rainha se importe com isso.

De jeito nenhum.

Por Deuses, ela é a rainha, a pessoa mais importante em Eternia, depois dos referidos Deuses e, bem, Adora.

Adora, que está corada das bochechas aos seios - e, Catra sabe, alguns outros lugares também. Lugares onde suas mãos e lábios acariciaram com emoção febril recentemente. Um dos seus seios está parcialmente coberto pelo lençol e o outro está completamente exposto à luz das velas. Catra não está olhando para ela para saber disso, ela simplesmente sabe, hiperconsciente de cada mínimo pedacinho da outra mulher.

E isso a irrita um pouquinho mais. Há seis meses, Catra a odiava por ter roubado dela todas as suas esperanças de vida, mesmo que a cacheada soubesse que eram difíceis de alcançar considerando a mãe que tem e o título que sempre ficou pendurado como uma espada acima de sua cabeça. Entretanto, ainda assim ela tinha alguma escolha. Ainda assim, ela tinha uma casa, uma cultura, uma língua, irmãos quando Shadow Weaver propôs esse acordo absurdo dizendo que era para ajudar a acabar com a guerra e a fome em Halfmoon. Catra sabia melhor. Sabia que o que sua mãe verdadeiramente queria era mais poder.

Agora, aqui está Adora, deitada e saciada em sua cama após mais uma vez Catra ter perdido a cabeça para reafirmar a si e a todos que precisassem saber que, a loira poderia tê-la comprado, mas também era dela. Refém dos seus próprios desejos e emoções.

Adora começa a se mexer. E a cacheada sabe que precisa levantar antes que seja tarde demais. Porque, diferente da outra mulher, Catra não era refém de mais nada além deste casamento.

Ela não é rápida o suficiente. A mão de Adora encontra o seu pulso enquanto ela está fechando o peignoir. O pulso de Catra fica quente com o contato. Seu coração acelera e ela precisa respirar fundo para se lembrar do porquê tem que odiar a outra mulher agora.

"Catalina" murmura ela, seu tom de voz levemente bêbado pelo orgasmo recente. Catra fecha os olhos, ignorando o efeito que Adora tem sobre ela.

"Sim, meu rei" Catra se força a dizer, puxando seu braço com força o suficiente apenas para que Adora entenda o recado.

Adora a solta imediatamente.

O que comove a rainha.

Só um pouquinho.

Quase nada.

Se sua respiração perdeu a cadência por alguns milésimos de segundos, com certeza não tem nada a ver com isso.

A mais baixa acha que finalmente a venceu quando percebe que a mais alta está se levantando.

A rainha se prepara, sentindo-se internamente exausta. Elas vão ter aquela conversa de novo. O que significa que Catra terá que rejeitar o afeto de Adora mais uma vez. Ela se pergunta se algum dia Adora se cansará disso e irá procurar consolo em outros braços.

O pensamento por si só a enoja. Ela já não deu a Adora tudo o que ela tinha?

Os braços da mais alta circulam sua cintura. A mais baixa queria sentir como se eles fossem indesejados, ao invés de atiçar ainda mais o fogo que já queima dentro dela.

A bochecha de Adora pressiona contra suas costas.

"Você poderia ficar..." sugeri ela em um apelo claramente desesperado. "Você sabe que eu nunca vou fazer nada que você não queira. Apenas, fique. Aqui. Comigo, Catra."

Catra sabe que Adora está pedindo muito mais do que um carinho noturno. Esse é o problema. É quem ela é. Incapaz de se entregar pela metade em qualquer coisa que faz.

E é por isso que Catra não pode dizer sim.

"Adora, por favor" Catra encontra seus braços e começa a afastá-la. "Não torne isso mais difícil."

A loira suspira e a solta, jogando-se ruidosamente de volta na cama.

Catra se apressa em terminar de levantar, pegando a lamparina no "seu" lado da cabeceira da cama para voltar ao seu quarto. Ela está girando a maçaneta da porta que interliga os dois cômodos quando a lisa a interrompe.

"Se você me odeia tanto assim, por que insiste em fazer isso? Eu entenderia se você quisesse..." E aqui, a voz de Adora começa a falhar um pouco. "Eu suportaria" corrige "se você quisesse outras companhias, se sexo é tudo o que você quer. "

Catra não fazia isso apenas pelo sexo. Não era desejo puro e ilógico, ardor da luxúria, o que tinha vontade. Não. Catra de Halfmoon queria Adora de Eternia. Muito. Mas, como nunca poderia tê-la da forma que mais desejava - porque isso significaria abrir mão de seu rancor e a rainha não era exatamente conhecida pela facilidade que tinha em perdoar -, ela a usava.

Catra então abre a porta. Ela pensa em sair sem dizer nada, mas hesita. Por mais que deteste admitir, não há nenhuma parte de si que sente prazer em causar sofrimento à Adora.

"Elas não seriam tão doces como você" responde, sem olhar a esposa nos olhos. "Com sua licença."

A rainha caminha e fecha a porta atrás de si.

[...]

tw: depressão, ansiedade, insinuação de sexo, nudez, linguagem imprópria, referência a abuso infantil passado e trauma de abandono.

o que acharam?

O que seríamos (se você se permitisse me amar)? |Catradora|Onde histórias criam vida. Descubra agora