II - Da mihi furore aliquem qui nimium curat

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II - Da mihi furore aliquem qui nimium curat
(me beije com a fúria de alguém que se importa demais)

A rainha está furiosa e ela sente que pode explodir com o primeiro idiota que ousar cruzar seu caminho.

Catra passa pelos guardas como um furacão e abre as grandes portas amadeiradas da sala do trono antes que alguém possa impedi-la.

Obviamente, sentada nele, está Adora. Seu cabelo loiro é como os raios dourados que entram pelos vitrais e resplandecem em sua pele pálida. Ele cai em cascatas pelas suas costas, evitando o seu rosto por uma única trança complicada. Acima dele, paira uma coroa igualmente dourada, par da tiara de Catra, que, no momento, está meio torta em sua cabeça. Trajando um colete e uma camisa branca de botões enfiada sob o cinto da calça acompanhada de botas, ela nem treme com a interrupção abrupta - quase como se estivesse esperando por isso. Só para de falar sobre o que quer que estivesse resolvendo e olha para a esposa, calma e firme, que se aproxima cada vez mais.

Todos os outros presentes parecem horrorizados.

"Catalina" ela começa quando a rainha já está em uma posição boa o suficiente para ouvi-la claramente. "Bom dia. Que bom que decidiu se juntar a nós."

"Que porra você pensa que tá fazendo?!" Catra esbraveja, levantando rapidamente as saias para subir as escadas até o trono sem maiores dificuldades.

Os olhares horrorizados parecem, agora, em pânico, olhando dela para Adora como quem acompanha uma partida de tênis.

A loira não treme um músculo.

"Perdão, querida, creio não saber a que está se referindo."

"Você vai viajar. Hoje. À tarde. Sem nem me consultar antes! É a isto que estou me referindo."

"Então você ficou sabendo? Que ótimo!" diz a filha da puta, fingindo ingenuidade. "Não entendo o grande problema nisso. Está acontecendo um impasse político no Resíduo Carmesim que preciso resolver com grande urgência."

A cacheada tenta se lembrar de respirar bem fundo. Nada de bom virá da sua raiva.

"SAIAM!" Catra se dirige aos ministros presentes, não olhando para eles exatamente, mas o tom de sua voz não deixa espaço para dúvidas de que a ordem deve ser cumprida de imediato.

Pela primeira vez desde que chegou, os olhos de Adora encontram os seus. Azuis límpidos como um dia perfeito de verão, brilhando com algo que a mais baixa não sabe com precisão o que é, contra o azul frio do inverno e o castanho-mel das chamas voluptuosas da raiva que alimenta dentro de si. Os cantos dos lábios fartos e rosados da loira estão erguidos levemente, como se quisesse sorrir, mas estivesse fazendo um enorme esforço para não realizar a ação.

Elas passam alguns segundos nesse contato visual acalorado. A rainha de pé em frente ao trono, as mãos postas sob a cintura em uma postura defensiva, com a causa de toda a sua raiva e, como já dito antes, infelizmente, afeição, sentada à sua frente. A monarca tem o cotovelo apoiado nos braços do trono, cabeça apoiada na mão direita.

Até que então, com as bochechas meio rosadas, Adora limpa a garganta, desviando o olhar.

"Vocês ouviram a rainha." Seu tom é alto e forte. "Saiam" ordena.

Catra bufa. O ato é sutil, difícil de perceber à distância.

Adora percebe.

É esse tipo de atitude que irrita Catra. Se Adora se recusasse a ouvi-la, se a desacreditasse na frente de seus súditos, se não a fizesse se sentir, bem, assim, como se ela valesse algo, então seria muito mais fácil odiá-la.

O que seríamos (se você se permitisse me amar)? |Catradora|Onde histórias criam vida. Descubra agora