III - Nonne perspicuum erat te amasse (cum ad te clamarem ne a me discederes)?(não ficou óbvio que eu te amava (quando eu gritei para você não me deixar)?)
Catra não consegue dormir. Ela se revira na cama, endireita a coberta, se cobre, se descobre, e nada. A forma como Adora a beijou e a última coisa que ela lhe disse ficam rondando em sua cabeça como corvos ao redor de um corpo morto.
Por mais estranho que possa parecer, Catra não dúvida do amor da companheira. Quer dizer, pelo menos não dúvida agora. Ela teve a chance de senti-lo em cada mínimo detalhe que poderia ter passado despercebido, mas não passou. Em cada noite, em cada toque, em cada olhar e, até mesmo, em cada sorriso. Em diferentes sorrisos.
É por isso que se fosse honesta, diria que sabe que sua luta nunca foi sobre a esposa. Sempre foi sobre ela mesma.
Afinal, quem seria, se se permitisse amar Adora?
Uma traidora, uma vendida, a mulher mais feliz do mundo?
E o que sobraria dela, se abandonasse sua raiva?
O que sobrou dela, depois de todas as humilhações e maus tratos que passou nas mãos de sua mãe?
Nada além de ódio.
Entretanto, se tem uma coisa que Catalina de Halfmoon tem certeza, é de que ela é muito mais do que apenas ódio.
E também que ela nunca mais vai voltar a ser aquela menininha patética implorando por um amor inexistente que nunca seria capaz de conseguir, já que Shadow Weaver nunca amou ninguém. Nunca será capaz.
Mas, Adora é.
Catra nunca precisou implorar pelo amor de Adora, pelo contrário.
Então, a pergunta certa não seria: quem ela é nesse exato momento?
...
...
Uma rainha, caralho!
A porra de uma rainha.
E ela não vai, decide-se neste instante, deixar sua mãe vencer ao continuar acreditando que ninguém jamais poderá amá-la.
Não vai deixar sua mãe vencer ao rejeitar a melhor coisa que já lhe aconteceu nesses seus vinte e um anos de pura desgraça chamada de vida.
Porque Adora sim, realmente se preocupa com a felicidade e bem-estar de seu povo. E ela também se sacrificou por esse casamento e, ainda assim, continua dando o melhor de si por ele.
E no fim das contas, a loira poderia tê-la "comprado", mas não foi ela quem a vendeu.
A cacheada levanta subitamente, como se os Deuses tivessem acabo de lhe prover uma iluminação divina (talvez tivessem, quem poderia saber). Apressadamente, pega a lamparina disposta sob a mesinha de cabeceira e calça os chinelos embaixo da cama, praguejando baixinho, como se eles tivessem culpa de seus movimentos erráticos que impedem que caibam certinho. Então, antes que tenha a devida chance de assimilar o que está acontecendo, percebe sua mão parada a centímetros da maçaneta da porta que interliga seu quarto com o da monarca.
O que estou fazendo?, se pergunta, paralisada.
Catra sabe o que quer. Anseia fortemente ter os lábios de Adora pressionados de volta aos seus. Todavia, conseguiria permitir? Conseguiria, em um momento, acabar com meses de repressão?
A rainha encosta a cabeça na porta, desejando que não se sentisse tão amedrontada. Por que um medo que aparenta ser tão bobo é tão aterrorizante?
E se ela realmente abrir esta porta, o que dirá a Adora?
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O que seríamos (se você se permitisse me amar)? |Catradora|
FanfictionCatra de Halfmoon tem um segredo obscuro que ela nunca planeja contar a ninguém: ela está irremediavelmente apaixonada por Adora de Eternia, sua eposa. Isso não seria problema se Catra não tivesse sido forçada a se casar com ela em um acordo diplomá...