Capítulo 2

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Isabel Sinclair

Acordo de madrugada e me sento na borda da cama, esfregando os olhos. Observo uma pequena fresta na porta do meu quarto pela qual a luz se insinue. Caminho naquela direção e de repente me vejo de volta à minha antiga casa. Um som vindo da cozinha me chama a atenção, e desço as escadas cuidadosamente.  Vejo meus pais com grandes malas e Eleonor suplicando algo. De forma discreta, me escondo e consigo ver as lágrimas nos olhos de Eleonor.

- Não podem deixá-los, são apenas crianças! — exclama — como os seus filhos se sentirão ao descobrir que foram abandonados pelos próprios pais?

- Cale a sua boca!  — ouço meu pai gritar — você é simplesmente uma funcionária, não tem autoridade para tomar decisões nesta casa. Acha que queríamos ter filhos?

- Nós queremos viver a vida! — interferiu minha mãe — desde que esses pirralhos  nasceram, não conseguimos mais nos divertir.

As palavras cruéis proferidas por meus pais fazem meus olhos ficarem turvos. Lágrimas começam a rolar pelo meu rosto, e o choro se inicia instantaneamente. Ao notarem minha presença, Eleonor se apavora ao perceber que ouvi tudo o que falaram.

Eu não fui o suficiente?

- Mamãe? Papai?... onde vocês vão?

- Viu sua empregadinha de merda! — Berra minha mãe dando um tapa na cara de Eleonor — você fez ela acordar!

- Posso até ser a empregada, mas sem dúvida alguma sou mais mãe do que a senhora jamais será! — A bochecha de Eleonor está vermelha e seu rosto cheio de lágrimas revela uma expressão furiosa. Incrédula com tais palavras, minha mãe tenta avançar em Eleonor, mas logo é impedida e segurada pelo meu pai.

- Ótimo — meu pai a solta e da de ombros — Se você se importa tanto com essas crianças fique com elas. Nós não nos importamos.

- Vamos logo querido.

Ambos pegam as malas e abrem a porta de casa, partindo sem sequer olhar para trás, sem qualquer remorso. Eu tento correr em direção a eles, mas Eleonor me mantém em um abraço firme. Grito desesperadamente, acordando meu irmãozinho que, ainda bebê, chora em seu quarto. Meus esforços são completamente em vão.

A fraqueza foi me tomando,
Tudo foi ficando turvo...
Tudo foi ficando tão... escuro.

De repente acordo com Eleonor ao meu lado. Dessa vez estou na minha casa. Minha respiração está acelerada e meus olhos cheios de lágrimas. Olho para o lado e a senhora me encara preocupada.

Foi tudo um sonho?

- Ouvi você gritando... — Suavemente, Eleonor acaricia minha mão e deposita um beijo em minha testa — Sonhou com eles de novo, não foi? — Confirmo com a cabeça e ela me envolve em um abraço. Tenho o mesmo pesadelo há anos, e a mesma cena que presenciei quando era apenas uma garotinha volta à minha mente todas as vezes."

Após me tranquilizar, Eleonor me deixa sozinha. Me disse que iria preparar um chá e se dirigiu à cozinha. Olho para o meu celular, que indicava 3:30 da manhã de quinta-feira. A semana passou rapidamente. Quando Eleonor retorna, traz consigo uma bandeja com uma xícara de chá e alguns biscoitos em forma de coração com geleia. Agradeço e me sento para saborear as bolachas.

Morgan TaylorOnde histórias criam vida. Descubra agora