3 - SENTIR TUDO OU NÃO SENTIR NADA

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- EU ESTOU BEM.

Apertei o copo d'água em minhas mãos com força, impedindo-as de tremer e tirar a veracidade daquela mentira deslavada. Apenas não suportava a expressão de preocupação extrema da garota que me resgatara, e o desconforto da situação só não era maior do que toda a confusão borbulhando na minha cabeça.

Moyra estava ali. Eu estava dividindo o mesmo espaço que ela, depois de tanto tempo tendo apenas um carro como garantia de que ela não estava morta. Ela era uma mulher bonita, rica, e acima de tudo, viva.

Boas novas, Graham: você não é órfã!

- Meu psicólogo diz que o pior tipo de pressão e cobrança é aquele que colocamos em nós mesmos - Scottie Clarke suspirou, puxando uma cadeira para sentar de frente para mim - quando te vi passar correndo direto para o terraço, vi que você não estava nada bem. Não deixe essa competição te abalar tanto, você é uma jogadora incrível.

Escondi minha careta ao beber mais um gole. Não que desgostasse dela, já havia superado aquele nariz quase quebrado, e Scottie parecia mais resolvida com a própria raiva depois do Four Clover, mas o cenário ainda era estranho. Estávamos no segundo andar do espaço comunal, onde os corredores dos dormitórios se encontravam em um salão repleto de sofás, pufes, mesas de jogos e um grande televisor onde algumas meninas assistiam uma partida de hóquei. O segundo andar era munido de um pequeno bar com bebidas e drinks sem álcool, com mesinhas que nos davam visão total para quem estava lá embaixo.

Scottie Clarke, a defensora que quase fundiu um capacete com a minha cara, havia me encontrado no terraço e me ajudara a respirar de novo. Me recordava brevemente de números, algumas palavras e nada além disso. Sem toques, sem gritos, o mundo que parecia tentar me engolir voltou a ser normal de novo.

A observei por um instante. Scottie havia cortado o cabelo castanho avermelhado em um estilo repicado na altura das orelhas. Seu próprio nariz era um tanto torto, como se já tivesse sido quebrado e colocado no lugar diversas vezes durante brigas e partidas, mas fora isso, parecia em paz. Seus olhos esverdeados analisavam o transitar lá embaixo, distraídos e amenos.

- Obrigada, Clarke.

Ela se voltou para mim, sem reagir por alguns segundos. Depois, encolheu os ombros e sorriu.

- Foi o mínimo que eu poderia ter feito depois de... Sabe.

- Quase fundir um capacete com a minha cara?

- Isso.

Scottie riu um pouco, algo lá embaixo chamando sua atenção novamente. Segui o caminho da curiosidade repentina em seu semblante, a água se tornando ácida em meu estômago assim que uma figura de postura prepotente e confiante adentrou o salão.

Frankie estava com Isaac em seu encalço, ele um tanto nervoso com os olhares curiosos que as garotas mais velhas lançavam para os dois, ela alheia a qualquer coisa enquanto tagarelava alto sobre alguma viagem incrível que fizera nas férias, não me importava. Tudo o que reparei foi em seu jeito de caminhar, na forma como apoiou o peso do corpo em uma das pernas e cruzou os braços quando parou, se virando para Isaac.

O movimento a deixou de frente para nós, mas ela não ergueu os olhos o suficiente para me ver. E agradeci por isso.

Scottie franziu a testa.

- Já te disseram que ela se parece com você?

E a sensação foi a mesma de quando me acertou com um capacete.

- Graham, puta que pariu!

Alanna subia as escadas para o segundo piso, as mãos repletas de sacolas pretas e os passos apressados, até que viu quem me fazia companhia. Ela derrapou até parar, as sobrancelhas subindo até quase sumirem na linha do cabelo.

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