4 - PAPAI CASANOVA

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— NÃO QUERO ASSINAR NENHUMA REVISTA PORNÔ DE NOVO.

Afastei o telefone do ouvido, o sentindo zunir com a estridente e imortal voz de Raynolds. Mesmo a quilômetros de distância era como tê-la na beirada do campo bradando atrocidades inimagináveis para as crianças que jogavam contra nós, alheia aos pais que ameaçavam processá-la.

— Sou eu, Ray — murmurei, super ciente do funcionário que me esperava no final do corredor — a filha da sua ex-colega de equipe.

A linha ficou em silêncio por um tempo, até que um suspiro pesado tomou conta do ruído estático.

— A merda do torneio...

— Por que nunca me falou nada?

Eu poderia estar usando aqueles valiosos minutos para ligar para Viola, contar tudo o que estava arranhando minha garganta no momento e ouvir o que ela tinha para me dizer, mesmo achando que pouco resolveria. Somente precisava escutá-la e todos os problemas pareciam desaparecer, estar com ela era como estar em um planeta só nosso. Mas, naquele momento, fingir que não havia nada acontecendo não era uma opção.

Eu precisava me livrar daquele fogo ardendo em meu peito, antes que as chamas destruissem tudo de novo.

— Você não faz ideia de como ela estava, Alisson — Raynolds disse — era... Eu estava com medo por ela!

Sua voz estava séria. Era a primeira vez que Rayanne me chamava pelo meu nome ao invés de alguma ofensa carinhosa ou apelido, o que só piorou a minha raiva.

— Eu vivi com medo a minha vida toda — retruquei entredentes. O rapaz de preto já me encarava em uma espécie de aviso silencioso — Raynolds, se não fosse por você eu teria morrido em uma mesa de cirurgia depois de levar dois tiros. Foi o seu sangue que me salvou, e não o dela!

— Eu não sou a melhor pessoa para te aconselhar agora, mas acredite quando digo — Ray respirou fundo, e suas próximas palavras selaram o meu caixão — você é mais parecida com a sua mãe do que pensa.

Empurrei o telefone contra o gancho, talvez com mais força do que era necessário, e lá permaneci. Meu peito ameaçava subir e descer de forma desregular de novo, os cantos da visão escurecendo, mas não. Não enquanto havia alguém por perto que poderia muito bem contar para ela que eu estava mal.

Moyra O'Maley não me veria daquele jeito, pois nunca me viu feliz. Nunca me viu ganhar um campeonato, nunca me escutou sobre meu primeiro amor, nunca comemorou comigo quando esse amor se tornou a minha cura. Ela nunca me deu nada, então eu não devia nada a ela.

— Senhorita Graham? — o funcionário hesitou — seus vinte minutos acabaram.

Porcaria de prisão. Pelo menos no reformatório eu tinha uma hora de ligação, mesmo não usando uma vez sequer.

— Preciso fazer outra ligação. — implorei. Passou a ser uma necessidade física falar com Viola naquele momento — por favor.

Ele balançou a cabeça de forma piedosa, cruzando os braços, até que sua expressão se iluminou.

— Tive uma ideia! Você pode falar com um dos supervisores, pedir uma chamada extra, eles são bastante flexíveis. A senhora O'Maley por exemplo...

— Esquece.

Refiz meu caminho para o refeitório sem a companhia do rapaz em meu encalço, o que era bom. Não estava nem um pouco afim de retornar para o salão e aquela festa de funcionários simpáticos e supervisores sorridentes, tanta porcelana e dinheiro investidos em uma porção de pirralhas talentosas, tudo para seguir com um sonho tosco de descobrir uma atleta estrela.

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