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No banco traseiro do carro, fixava minha atenção na paisagem em constante movimento. Delicadamente, toco o vidro com a ponta dos dedos enquanto observo as árvores que margeiam a estrada e se estendem pelo horizonte. Folhas delicadamente frágeis tremulam com a brisa, refletindo a luz solar dourada num jogo de sombras no chão.
Minha mente era um turbilhão de dúvidas e incertezas, cada vez mais presente à medida que o ano começava. O peso e o pesar do que estava por vir, fazia com que não conseguisse parar de pensar no que me aguardava naquele ano infernal que eu tinha pela frente.
━━━━ Tira essa cara emburrada do rosto, Madellyn! ━━━━ Adeline, minha mãe, ordena. ━━━━ Não vai ser tão ruim assim.
Olhando para minha mãe, eu consigo perceber a elegância natural que emana dela. Seus cabelos castanho-claros ondulados, combinam perfeitamente com seus olhos verdes brilhantes. Mamãe exala elegância.
━━━━ Não vai ser tão ruim assim? ━━━━ Solto uma risada sarcástica. ━━━━ Porra, eu praticamente tive que abandonar minha vida por lá, para ter que vir para a merda de um colégio interno. ━━━━ A respondi com maus modos.
━━━━ Madellyn, não fala assim com a sua mãe! ━━━━ Papai me repreende. ━━━━ Se estão sendo mandados para a merda de um colégio interno é porque vocês merecem ir.
Esse é Otto, meu pai. Sempre bem vestido, ele apresenta um ar de elegância com seus ternos caros e bem alinhados.
━━━━ Qual é, Ratinha? Não vai ser tão ruim assim. ━━━━ Bellamy, meu irmão mais velho passa seu braço por cima de meus ombros, com um sorriso debochado no rosto.
Não consigo entender como ele pode estar tão contente com a ideia de ter deixado nossa antiga vida para trás, optando por viver praticamente trancado num internato para jovens delinquentes, onde nem sequer conhecemos alguém.
━━━━ Já disse para não me chamar assim! ━━━━ O olho irritada.
━━━━ De ratinha? ━━━━ Pergunta Bellamy e eu assinto. ━━━━ Então pode esperar sentada , por que eu nunca deixarei de chamá-la assim.
Sem pensar duas vezes, desferi um soco pouco forte em seu abdômen.
━━━━ O mãe! ━━━━ Bellamy a chama. ━━━━ Sua filha me bateu.
Bellamy e eu compartilhamos muita semelhança similar. Por exemplo, nossos olhos verdes, característica que nos identifica como irmãos. No entanto, ele leva a diante uma energia distinta, sua confiança refletindo-se em cada linha de seu corpo. Com braços fortes que dão os melhores abraços, ele poderia ser facilmente confundido com um lutador de boxe.
É meu único ponto de luz nessa família. Suas piadas e brincadeiras sempre me fazem rir, mesmo quando acho que não consigo mais. Mesmo com seu jeito descontraído, ele é sempre o primeiro a vir em minha defesa, sempre me apoiando e me protegendo.
Bellamy é meu irmão querido, mas confesso que tem vezes que eu também o acho irritante. Aquele maldito jeito brincalhão de ser, as constantes provocações e sua insistência em querer cuidar de mim, me deixa à beira de explodir. Mas, no fundo, sei que ele é apegado a mim, e esse é seu jeito peculiar de demostrar carinho.
E, claro, não podemos esquecer das incontáveis vezes que brigamos pelo controle remoto enquanto discutimos qual filme assistir.
━━━━ Parem os dois agora ou eu faço com que vocês dois fiquem sem seus dispositivos dentro do colégio! ━━━━ Ameaça e eu e Bellamy rapidamente nos calamos. ━━━━ Vocês são impossíveis. ━━━ Mas foi ela quem me bateu. ━━━ Bellamy aponta indignado pra mim.
━━━ Claro, você começou, porra.━━━ Reviro os olhos.
━━━ Não xinga, Madellyn!━━━ Papai repreende, sem tirar seu olhar da estrada.
A claro, até porque vocês não xingam né. Penso.
Volto minha atenção para a estrada em movimento.
Eu só não soco Bellamy agora porque não quero ficar de castigo.
